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Se Obama não tomar cuidado, vai deixar o poder antes de Kadafi

Vai se desenhando o pior cenário para as potências ocidentais que apostaram, de maneira estúpida, na queda rápida de Muamar Kadafi. Ele está mais forte hoje do que há uma semana. As forças sob o comando do ditador retomaram Zawiyah e o terminal portuário de Ras Lanuf, num ataque por terra, ar e mar. E […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h37 - Publicado em 10 mar 2011, 22h12

Vai se desenhando o pior cenário para as potências ocidentais que apostaram, de maneira estúpida, na queda rápida de Muamar Kadafi. Ele está mais forte hoje do que há uma semana. As forças sob o comando do ditador retomaram Zawiyah e o terminal portuário de Ras Lanuf, num ataque por terra, ar e mar. E agora? Parece consenso que ele não pode ficar. Mas como tirá-lo de lá?

Uma fala de Mohammed al-Houni, um combatente de 25 anos, publicada pelo New York Times, serve de emblema da situação e permite algumas considerações importantes. Leiam:
“Não há comparação entre as nossas armas e as deles. Eles são treinados. Eles são organizados. Eles têm treinamento na Rússia e não sei onde. Nós não somos um exército. Nós somos o povo. Mesmo que tivéssemos as armas, nós não saberíamos como usá-las”.

Qualquer país minimamente organizado, com forças militares regulares, tem condições de enfrentar opositores armados. A questão é esta: até onde as Forças Armadas estão dispostas a chegar para defender o regime? Aquele superestimado milhão de pessoas da Praça Tahir, no Egito, ajudou na queda de Mubarak, mas ele foi derrubado, de fato, por um golpe de estado dado pela cúpula militar, que contou com amplo apoio internacional. O mesmo aconteceu com o ditador da Tunísia. Se os militares egípcios tivessem aceitado enfrentar o “povo” da praça. Mubarak estaria lá, ainda que numa poça de sangue.

O jovem Al-Houni diz o óbvio: se os próprios militares líbios não derrubarem Kadafi e se o ditador continuar com o apoio importante de parte considerável das Forças Armadas, só mesmo a invasão da Líbia poderá tirá-lo do poder.  A reivindicada zona de exclusão aérea é uma invasão branca. A Otan disse estar pronta para agir. Será mesmo essa uma solução? Segundo o NYT, as forças de Kadafi se organizam para marchar rumo a Benghasi, onde está instalado o “governo das forças insurgentes”, reconhecido pela França, único país a fazê-lo. “Nós estamos chegando”, advertiu Saif al-Islam, um dos filhos de Kadafi, que serve de porta-voz do governo Líbio junto à imprensa ocidental.

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Kadafi é um delinqüente internacional! Todos conhecem a sua ficha criminal e os muitos copos de sangue de que se alimentou ao longo de 41 anos de poder. Mas vinha sendo paparicado por governos ocidentais, como é sabido. Vinha combatendo o jihadismo. Também injetava alguns bilhões em empresas européias e americanas. O levante e a reação do governo fizeram com que o velho monstro surgisse na memória dos governos democráticos.

Pois é… Ele não parece disposto a correr como o tirano tunisiano nem sofreu um golpe de estado como Mubarak — não ainda ao menos. Decidiu partir para o confronto. Sem o golpe ou a invasão do país, vence a guerra civil. E aí? Mais: a eventual intervenção da Otan é mesmo um consenso mundial? Rússia e China aceitarão que os EUA liderem uma intervenção num governo que, há um mês, ocupava até uma vaga no, imaginem vocês!!!, Conselho de Direitos Humanos da ONU?

EU quero que Kadafi arda no mármore do inferno. Sempre quis. Jamais me referi a ele aqui que não fosse para associá-lo ao que a humanidade já produziu de pior. Isso não me impede de reconhecer que as ditas potências ocidentais estão sendo governadas por patetas. A política externa dessas nações parece ditada pelo clamor do Facebook. Por que digo isso?

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Não se dá um ultimato a um governante, por mais facinoroso que seja, se não for para impô-lo, então, na porrada. EUA, França e Grã-Bretanha foram, evidentemente, um tanto precipitados em considerar Kadafi carta fora do baralho — o que evidencia, também, a precariedade de informações com que operavam. Esses governos confundiram o entusiasmo da cobertura jornalística — sim, ele existe — com fatos. Boa parte do “olhar” da imprensa estrangeira na região está filtrado pelo padrão Al Jazeera, que é quem organiza o levante no mundo árabe. Fatos e fantasias se misturaram.

O jovem Al-Houni disse tudo o que interessa: se não houver o golpe de estado, só resta às ditas potências ocidentais, governadas por impotentes, a invasão. Invadir é fácil. Organizar o período pós-invasão é que o “x” do problema. Se Kadafi fica, EUA, França e Grã-Bretanha se desmoralizam.

Barak Obama que se cuide! Nesse ritmo, ele acaba deixando o poder antes de Kadafi. Afinal, uma democracia costuma cobrar o governante por seus erros, luxo de que as ditaduras se dispensam.

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