A operação Gedimar-Freud
Péssima a maneira como foi noticiado, no Jornal Nacional e no Jornal da Globo, o recuo de Gedimar Passos, o meganha preso no Hotel Íbis com a dinheirama que pagaria o dossiê fajuto. Na defesa de Gedimar entregue ao Tribunal Superior Eleitoral, seus advogados dizem que ele só citou o nome de Freud Godoy, ex-assessor […]
No Jornal da Globo, Arnaldo Jabor se encarregou de demonstrar a patetice da defesa. Mas, no Jornal Nacional, falou-se simplesmente do recuo, sem que se tenha dado o devido destaque ao fato de que Gedimar falou com outro delegado, não apenas com Bruno, e manteve a sua versão. A informação estava lá, mas a ênfase ficou toda ela com o recuo. Por ter divulgado as fotos, Bruno está sob investigação da PF. Aos poucos, o que se percebe com clareza é que os vilões vão-se transformando em vítimas.
O andamento tem a marca de Márcio Thomaz Bastos. O jovem advogado de Freud Godoy, Augusto de Arruda Botelho, foi estagiário no escritório do agora ministro da Justiça e é um profissional de sua absoluta confiança. Pronto: a profecia de alguns se autocumpre: nada mais há contra “Freud” ou “Froud”, conforme depôs no dia Gedimar. Como a Polícia Federal não chega a lugar nenhum, sugiro que Lula recontrate o homem. Afinal, por que punir um inocente, não é mesmo?
Num imbróglio em que, até agora, do dossiê e da origem do dinheiro nada se sabe, uma coisa é certa: a PF conseguiu a quebra do sigilo de Abel Pereira, acusado de lucrar também com a máfia dos sanguessugas e de ser uma espécie de operador de Barjas Negri, ex-ministro da Saúde. Toda a trama do dossiê foi montada para incriminar José Serra. Como a operação falhou, serve qualquer tucano, mesmo que seja Negri. Foi exatamente assim que se deu com o mensalão. O PT passou de vilão a vítima do “preconceito”. Como poderia dizer Rose Marie Muraro, se a burguesia rouba, por que os operários também não podem, não é mesmo? Abaixo o preconceito.
Passado o processo eleitoral, ao se fazer o devido balanço de tudo, será a hora de pensar como se comportaram as agora oposições — quem sabe depois também — em todo esse episódio. O país se tornou refém da apologia da amoralidade.
Só para esclarecer: não acho que JN ou JG tenham feito malandragem com a notícia. Se achasse, diria — e não há por que duvidar disso. Avalio apenas que a explicação de Gedimar entregue ao TSE deveria ser tratada, ao menos, sob o signo da suspeição de um arranjo. Ninguém precisa esperar um mês para lembrar, afinal de contas, o que foi que aconteceu. Como também, parece-me, é forçoso observar que, de todos os homens próximos a Lula que estão comprometidos com dossiê, o mais próximo é mesmo Freud. O primeiro a ser, formalmente ao menos, demitido.
O documento, evidentemente, afasta o dossiê do Planalto.