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A cabeça dos brasileiros… autoritários

Na quinta, participei do programa “Entre Aspas”, da GloboNews, comandado por Monica Waldvogel. Há um post com o vídeo do programa. Aquela gente das sombras veio em massa: “Imaginem! Convidar alguém como você…”  O que eu disse lá? Que o tucano José Serra se saiu muito melhor no Jornal Nacional e que a eleição é, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 14h32 - Publicado em 15 ago 2010, 09h07

Na quinta, participei do programa “Entre Aspas”, da GloboNews, comandado por Monica Waldvogel. Há um post com o vídeo do programa. Aquela gente das sombras veio em massa: “Imaginem! Convidar alguém como você…”  O que eu disse lá? Que o tucano José Serra se saiu muito melhor no Jornal Nacional e que a eleição é, sim, de continuidade — no sentido de que não cabe mais falar em ruptura. E fiz uma crítica ou outra ao governo Lula. Jornalistas criticarem governos numa democracia é tão normal, mas tão normal, que é uma obrigação. Já participei do programa outras vezes. Nesta ou nas outras — mesmo quando Serra liderava com folga as pesquisas —, jamais me atrevi a antecipar resultados. Mesmo assim, veio a enchente de delinqüências pra cima de mim. E, tenho certeza, como dois e dois são quatro, que os mesmos que me assediaram também resolveram atacar o programa. Eles fazem sempre assim.

Na semana retrasada, na mesma bancada, Alberto Carlos de Almeida e Paulo Moreira Leite debateram a possibilidade de mudança no cenário das pesquisas etc. Os dois concordaram que a fatura está liquidada. Até aí, bem. Almeida foi de uma agressividade com Serra que me surpreendeu. Digamos que eu fosse, o que é mentira, o “outro lado” do que ele pensa: tratei Dilma com civilidade, apontando o que me desagrada em seu discurso. Ele não! Chamou o tucano de “um genérico” do governo, fazendo alusão a uma marca da trajetória pública de Serra, e chegou a prever uma vitória dea petista no primeiro turno com até “20 pontos de vantagem”. No seu discurso, a oposição concentra só defeitos, sem uma só virtude, e o governo concentra todas as virtudes, sem um só defeito.

Protestos? Mobilizações? Assédio? Nada! Porque os tucanos, em particular, não são assim. E também porque há uma boa fatia dos brasileiros e dos eleitores que, felizmente, acredita que o outro tem o direito de dizer o que pensa — por mais errado que esteja. Ocorre que, para aqueles patriotas, a liberdade de expressão compreende a liberdade que seus aliados e propagandistas têm de fazer proselitismo. Os adversários, claro, devem ser reduzidos ao silêncio, e as vozes que não estão alinhadas com candidatura nenhuma são ainda mais inaceitáveis.

“Você não está alinhado, Reinaldo?” Estou! Com o respeito ao estado de direito e à democracia representativa, como sempre. Almeida encanta-se com o fato de que os brasileiros, como ele disse, “gostam do governo”. Muito bem. E, a partir daí, desce o sarrafo na oposição, como se a democracia brasileira — SEGUNDO OS MARCOS DEMOCRÁTICOS, VIU, ALMEIDA? — não estivesse caminhando por veredas atípicas, caracterizadas pela escandalosa agressão a direitos fundamentais, protegidos pela Constituição. As minhas preocupações são outras. Elas sugerem que vou votar no Serra? Pode ser! Mas me limitei, na TV, a apontar o que considero problemas do governo Lula e a analisar o desempenho dos candidatos no JN — reconhecendo, inclusive, que Dilma foi bem.

Almeida estaria pouco se lixando para as minhas restrições? Ok. Tem seu pensamento e o direito de expressá-lo. Ninguém saiu por aí tentando silenciar seu entusiasmo governista, especialmente encantador para o PT porque os “intelectuais” do partido e suas franjas na esquerda o patrulharam quando lançou o livro “A Cabeça do Brasileiro”: foi considerado “de direita”, o que era uma rematada besteira, é claro. Cheguei a escrever a respeito. Resta evidente que Almeida e Marco Aurélio Garcia, por trilhas diferentes, chegam à mesma ágora. Com a diferença de Garcia é o dono do terreiro.

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Isso não é uma contestação das idéias de Almeida, não. Se achar conveniente e relevante, posso fazê-lo, claro! O objeto do meu texto é outro. Estou afirmando que aqueles mesmos que ficam urrando porque sou convidado para um programa de televisão — e porque digo eventualmente o que não é do seu agrado — devem considerar uma espécie de direito natural que outro ocupe o mesmo espaço para reafirmar tudo aquilo com o que concordam. Segundo a cabeça desses caras, o critério que deve definir o convite para um debate não é o que pensa o entrevistado, mas a sua necessária concordância com o governo petista. Debates, assim, deveriam ser feitos só com pessoas que estão do mesmo lado. Seria o “sim” confrontado com o “sim, senhor!”  Se um diz “A”, o outro emenda: “E não só A, mas B também”. Ao que o primeiro retruca: “Além do A e do B, por que não lembrar o C”. E assim se percorreria todo o alfabeto do oficialismo, num processo de “analfabetização” da política.

E o “Entre Aspas” com isso? Está cumprindo a sua função. Os “brasileiros” têm muitas cabeças e muitas sentenças. E o melhor é zelarmos, com rigor máximo, pelo regime democrático, que garante a expressão dessas diferenças. Diz Almeida que a população “gosta do governo”. Talvez lhe soe bobagem acusar as muitas agressões a direitos fundamentais que estão em curso porque isso não está na gôndola do supermercado. Na minha cabeça, essa questão é a mais importante de todas, ou, conceitualmente ao menos, acabaremos condescendendo com o “bem-estar ditatorial”.

Não vou dizer que eu espero que a turma da gritaria acabe descobrindo o valor da democracia porque, na verdade, eu não espero. Uma história crítica do pensamento revelaria que as idéias que resultam na criação de um partido como o PT nasceram justamente da negação do valor da democracia. As raízes, estão no bolchevismo e no fascismo — e, pois, na intolerância.

A cabeça deste brasileiro é bem outra. E vou continuar a escrever, a falar, a sorrir…

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