O angustiante primeiro mês de Queiroga no Ministério da Saúde
Fora pedir o uso de máscaras, novo ministro da Saúde parece só agora ter entendido o tamanho do abismo do país na pandemia
Completa-se nesta quarta-feira um mês desde que Jair Bolsonaro anunciou o cardiologista Marcelo Queiroga como titular do Ministério da Saúde no lugar do general Eduardo Pazuello, abatido sem bandoleira no campo de batalha pelas tropas aliadas do Planalto.
A troca no comando da principal pasta do governo ocorreu no momento em que o Brasil ingressava na pior fase da pandemia, e a promessa de um médico para tocar as desencontradas ações no combate à Covid-19 soou como uma tentativa desesperada do palácio de mostrar alguma mudança de postura.
Afinal, o avanço da vacinação em outros países enquanto aprofundava-se o mar de mortes por aqui não deixava outro caminho ao Planalto, pressionado por empresários e aliados no Congresso.
Passados trinta dias do anúncio de Queiroga, porém, pouco se viu de mudança prática na condução da crise sanitária. A vacinação ainda patina, não se tem notícia de programas de conscientização pelo isolamento social e, para piorar, há risco real de apagão do chamado “kit-intubação”.
Nos últimos dias, o ministro da Saúde pareceu “sair da toca” para falar ao país sobre os dados do problema — ainda não das soluções, porque muitas — com o Brasil no fim da fila das vacinas e de insumos médicos — não estão disponíveis no mercado. Como quem finalmente se atualiza sobre nossa tragédia, apresentou as faturas da gestão Bolsonaro-Pazuello: não teremos mesmo o número de vacinas alardeado pelo antecessor e, pior, 1,5 milhão de brasileiros que tomaram a primeira dose do pouco que existe, graças à comunicação desastrosa do governo, sequer apareceram para receber a segunda, num triste boicote ao esforço do Butantan com o governo de São Paulo, que viabilizaram a CoronaVac.
O uso da máscara, justiça seja feita, foi reivindicado pelo próprio Queiroga como uma bandeira positiva da nova gestão nesse primeiro mês. “Na minha primeira manifestação à imprensa, citei a pátria de chuteiras na Copa do Mundo e falei em termos uma pátria de máscaras. E é nítido que já houve uma mudança em relação a esse ponto no governo. Considero que devia já ter esse crédito de conseguir que as pessoas tenham maior adesão no uso das máscaras”, disse Queiroga ao jornal Folha de S.Paulo.
O ministro falou em transformar o Brasil na “pátria de máscaras” e, interlocutores ouvidos pelo Radar, dizem que desde a chegada do médico, o instrumento vital de proteção contra o vírus, quem diria, virou obrigatório no ministério.
“Vejo uma conquista importante que é a campanha para uso de máscaras. E houve a ressureição do Zé Gotinha. No mais, acho que não se pode esperar muito mais do ministro, pois o problema principal sempre esteve em outro lugar: no Palácio do Planalto”, resumiu ao Radar o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).