O governador eleito de São Paulo, João Doria, não nomeou apenas um secretariado estrelado para seu futuro governo, com seis ex-ministros do governo Michel Temer. Doria, na verdade, montou uma coligação para 2022. O ex-prefeito de São Paulo tem hoje em curso o mais claro e escancarado projeto de poder para a sucessão de Jair Bolsonaro – que ainda nem tomou posse mas já disse não querer a reeleição.
O anúncio da nomeação do ex-ministro e ex-candidato do MDB à presidência, Henrique Meirelles, para a Fazenda estadual, o último, foi mais do que uma cereja nesse bolo político. Serve como aceno de que, num eventual pós-Bolsonaro, as forças de centro-direita do país poderão, finalmente, se unir em torno de uma única candidatura – a partir do reconhecimento de que a ausência desta aliança terá sido, entre tantos, o maior erro dos centristas em 2018.
A equipe escalada para o secretariado de S.Paulo com nomes de influência nacional tem, além do PSDB que Doria agora irá dominar, o MDB de Meirelles e de Michel Temer e os principais partidos do Centrão: o PSD, representado por seu principal cacique, Gilberto Kassab (Casa Civil); o DEM, abençoando Rossieli Soares (Educação), do mesmo partido do vice Rodrigo Garcia; o PP de Alexandre Baldy (Transportes) e o PRB de Aildo Rodrigues.
Por enquanto, trata-se apenas de um projeto de poder. Será preciso muito mais. Ninguém garante que chegarão todos juntos a 2022, nem que Doria fará um governo razoável o suficiente para garantir a candidatura presidencial, nem que Bolsonaro vai desistir mesmo da reeleição – ou que não terá um candidato próprio da direita, quem sabe até fardado – e nem que não haverá um nome de esquerda forte e quase imbatível se o atual governo der com os burros n’água.
Além das variáveis políticas, pesa contra um conhecido e sério defeito do ex-prefeito, o açodamento. Doria costuma colocar o carro à frente dos bois e sair candidato à próxima etapa zilhões de meses antes do necessário. Foi assim na prefeitura, e o eleitorado da cidade de S.Paulo não gostou. Por pouco, não perdeu seu apoio para a eleição ao governo, na qual se salvou graças ao interior. E ainda saiu chamuscado politicamente junto ao alto tucanato e a Geraldo Alckmin, que nos bastidores o chamou de traidor.
É razoável supor que Doria tenha aprendido a lição. Em circunstâncias políticas normais, o governador do mais rico e poderoso estado do país será sempre um candidato a se considerar para a presidência da República.
Mas terá que se lembrar a todo momento daquele velho ditado de que o apressado come cru, e não passar ao eleitor a ideia de que está mais preocupado com sua candidatura presidencial do que com a população de São Paulo.
Helena Chagas é jornalista