Neste fim de semana, a Folha de S. Paulo publicou pesquisa Datafolha com índices de intenção de voto para a eleição presidencial deste ano.
A primeira mensagem do levantamento é que devemos ver os resultados com cautela. Pelo simples fato de que a pesquisa foi realizada entre 11 e 13 de abril, ou seja, no calor do momento da prisão do ex-presidente Lula (PT), ocorrida no dia 6 do mesmo mês. Tanto a oposição quanto a adesão a seu nome foram afetadas pela midiatização da ordem de prisão.
Portanto, a potencial transferência de votos de Lula ainda não pode ser avaliada com segurança. O ex-governador da Bahia Jacques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, ambos do PT, aparecem com resultados pífios nos cenários simulados.
Outra cautela que se deve ter com relação às datas da pesquisa é quanto à composição dos palanques estaduais, que ainda não influencia a escolha de candidatos à Presidência.
A segunda mensagem é a de que o novo, a renovação da política, tem levado a uma preferência dos eleitores por candidatos que expressem um sentimento “anti-establishment”. Jair Bolsonaro (PSL, 17%), Marina Silva (REDE, 15%) e Joaquim Barbosa (PSB, 9%) possuem 41% das preferências em um cenário sem o ex-presidente Lula como concorrente, que é o mais provável.
A terceira mensagem é que o eleitorado está dividido ideologicamente entre candidatos de centro-esquerda e de esquerda, com 38% dos votos; e de centro, centro-direita e direita, com 35%.
A quarta mensagem é de que a expressão da renovação não tem matriz ideológica, revelando muito mais apostas em quem possa assumir um discurso contra o “establishment” político do que afinidade ideológica ou escolha por programas.
Em decorrência, a crença de que o Brasil desejaria um “safe pair of hands” para administrar o país fica, neste início de campanha eleitoral, abalada.
Por fim, o fato de o centro estar desunido e em condições de (ligeira) inferioridade diante da centro-esquerda e da esquerda, acende um alerta para a possibilidade de que a eleição seja decidida por dois candidatos “anti-establishment”.
No entanto, considerando as características da campanha e sua cronologia, continuamos com o cenário em aberto. Temos ainda 90 dias de pré-campanha pela frente. Muita água vai rolar.
Murillo de Aragão é cientista político