Um poderoso Coronel pernambucano recebeu no majestoso alpendre da Casa Grande, fiel aliado da oligarquia rural. Zé da Cacimba, muito querido, bom coração, distribuía com os moradores água potável, preciosidade para o sertão esturricado.
“Coroné, (patente da Guarda Nacional) tirando o chapéu em sinal de respeito e obediência, tô com um problema com o delegado do meu munícipio: tá perseguindo nossos eleitores e o homem é forte. Só sai de lá com ordem do Governador. A gente sabe que o sinhô manda nele…” Aí o Coronel interrompeu o suplicante: “Zé, se tu não sabe, aprende: ninguém governa Governador”. E convidou o amigo para tomar um café com o insuperável bolo de bacia da veneranda Dona Nininha.
A velha sabedoria também se aplicaria universalmente, ou seja, ninguém “preside” Presidente. Mas Bolsonaro não preside: desgoverna.
Nos últimos dias de março, nove encontros foram articulados pela cúpula do Congresso para intervir nos rumos do governo. As reuniões mobilizaram Presidentes do Senado, da Câmara, empresariado, intelectuais, e claro, “o mercado”, ente gasoso, sem endereço ou CNPJ, mas que funciona como termômetro das expectativas econômicas. Só que desta vez, somaram-se atores que efetivamente botam a mão na debilitada economia real. São os que produzem bens e serviços para compradores cada dia mais pobres, respaldados no sólido documento com 2.000 signatários que sabem o que dizem.
É um “movimento cívico”, disse o cientista político Luiz Felipe d’Avila para ocupar “o vácuo de poder” e “um alerta de que a sociedade mais do que perdeu a paciência, está perdendo a confiança no governo”.
O Presidente da Câmara, Arthur Lyra, ameaçou: “está apertando um sinal amarelo para quem quiser enxergar[…] Os remédios políticos do Parlamento são todos amargos; alguns, fatais”. O “Centrâo”, canta Ângela Maria, “tem o destino da lua que a todos encanta e não é de ninguém”.
Refém do “Centrão”, Bolsonaro formou o “Ministério da Obediência”; levou uma enquadrada do compromisso institucional das Forças Armadas com a democracia; engoliu, contrariado, a saída de Ernesto Araújo, discípulo de Olavo de Carvalho e Steve Bannon, expoentes do Tradicionalismo, ideologia bizarra que alimenta a autocracia populista da extrema direita.
Os erros estratégicos do Presidente decorrem do pecado original: completa inaptidão para governar e vontade ditatorial incontrolável. Bolsonaro é governo e oposição ao mesmo tempo. Um paradoxo para além da figura de linguagem: é perigosamente real. Ou muda, o que é improvável, ou joga o país numa grave crise institucional o que é indesejável.
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