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Precisamos de fé para seguir adiante – mesmo na dureza da pandemia 

Artigo do teólogo Rodolfo Capler observa a importância do conceito filosófico da fé como condição para manter-se em movimento na vida

Por Rodolfo Capler
Atualizado em 20 jun 2021, 11h28 - Publicado em 20 jun 2021, 11h12

Søren Kierkegaard, grande filósofo dinamarquês, considerado o precursor da filosofia existencialista, em sua seminal obra Temor e tremor, afirmara que se “Abraão tivesse pensado na loucura da viagem, não teria partido”. 

Kierkegaard, que influenciou pensadores de renome como Sartre, Heidegger, Barth, Jaspers, Buber, Marcel e tantos outros, se ampara na Bíblia Hebraica – enfatizando a narrativa do capítulo 22 do livro do Gênesis -, e desenvolve o sentido de sua filosofia existencialista, discorrendo sobre a crise de fé de Abraão. O registro do Gênesis revela que Abraão (que à época se chamava Abrão), partiu da região de Berseba em direção ao Monte Moriá, para sacrificar seu único filho Isaque, em obediência a Deus. O pedido que a divindade lhe fizera era insano, nonsense e acima de tudo, absurdo; Abraão deveria imolar seu filho – fruto de promessa divina e cujo nascimento lhe fora tão aguardado – em sacrifício a Deus, como um ato de fé. 

Conforme afirmara Kierkegaard, se Abraão se amparasse na lógica do que faria, não teria agido em fé e obedecido a Deus. Em linhas gerais, segundo a filosofia existencialista kierkegaardiana, a essência da fé não é outra, senão essa: caminhar sem garantias. Abrão parte sem salvaguardas, com os olhos no horizonte da fé. No monte Moriá, enquanto se prepara para sacrificar seu filho, é surpreendido por Javé. O Deus dos judeus lhe provê um cordeirinho como sacrifício para ser imolado no lugar de seu filho Isaque. 

Abraão age ancorado na esperança de que o próprio Deus ressuscitaria seu filho no final; por isso é aprovado por Deus e é abençoado por sua grande fé. Ele recebe a alcunha bíblica de “o pai da fé” e é considerado pelo filósofo dinamarquês, como “o cavaleiro da fé”. 

 A fé de Abraão – esquadrinhada por Kierkegaard em sua filosofia – nos serve como um modelo a ser seguido em nossa trajetória pela vida. A todo momento, somos desafiados a exercer fé; ou nos deixamos paralisar diante dos inúmeros desafios e demandas que nos interpelam ou seguimos em frente. Contudo, não podemos prosseguir avante com garantias de que as coisas melhorarão. Nesse sentido, a fé se imiscuí com a utopia. Assim como a utopia (que segundo Galeano serve para que continuemos caminhando), a fé nos permite enxergar uma janela de oportunidades em meio ao caos. Com fé nos movemos e seguimos fazendo o bem,  lutando por justiça num mundo marcado pela injustiça. 

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Dessa forma, mais do que nunca, necessitamos de fé para seguir adiante na vida. Em tempos pandêmicos como os que estamos vivenciando, em que o medo e o pânico nos assaltam e num país como o Brasil, dividido por forte polarização política em que predominam a desinformação, a truculência, o fundamentalismo e o negacionismo científico, caminhar é preciso.  

Que relembremos os versos do nosso grande poeta Geraldo Vandré: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.  Fazer a hora é agir com fé.  Que continuemos a caminhada da vida com muita fé no futuro. No final, as coisas melhorarão. 

 * Rodolfo Capler é pesquisador, teólogo e escritor

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