O desfile que deixou no ar a falta de manutenção da frota
Modelos antigos movidos a diesel viraram motivo de piada nas redes por deixar rastro de fumaça e só não foram trocados ainda por falta de verba
A condição dos veículos militares que participaram do desfile em Brasília repercutiu nas redes sociais e acabou virando motivo de piada. Chamou a atenção a fumaça preta que saiu dos motores durante a exibição do comboio, que contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro e ocorreu no mesmo dia da votação do voto impresso, pauta defendida de forma obsessiva por ele (mesmo com a derrota no Congresso, o presidente voltou à carga com o assunto na manhã desta quarta, 11).
Segundo Paulo Bastos, engenheiro, escritor e jornalista especializado em veículos militares de defesa e de segurança pública, a fumaça preta está relacionada à falta de manutenção. “São motores já cansados com vinte anos de uso. Apesar de terem passado por uma revisão, esses veículos precisam ser trocados”, afirma. Esses carros de combate leve chegaram no Brasil em 2001, mas foram produzidos em 2000, ano em que também saíram de linha.
O combustível usado também contribui para a fumaça preta. “São veículos com motores a diesel fabricados fora do Brasil. Aqui nós usamos biodiesel. Eles não estão preparados para esse tipo de combustível que gera determinados resíduos e isso acaba impactando em uma enorme manutenção. Além disso, a Marinha usa os veículos em ambientes muito degradantes, com a presença de maresia”, explica o especialista.
De acordo com o engenheiro, os veículos, apesar de ainda estarem operacionais e atenderem às necessidades das Forças Armadas, podem ser considerados obsoletos, como ficou evidenciado no desfile. “A Marinha já se encontra em processo de substituição dessas peças, mas está faltando a verba”, afirma. Alguns modelos que apareceram no desfile são utilizados na América Latina por países como Argentina e Bolívia.