Hospital fora do foco
A principal função do hospital é atender pacientes com problemas graves, mas tem se tornado um ambulatório para questões de baixa complexidade
A assistência médica desenvolveu-se no Brasil dentro do modelo hospitalocêntrico, que leva os hospitais a ficarem desnecessariamente sobrecarregados devido à procura pelos pacientes, muitas vezes, com simples resfriados ou dores nas costas – questões de pela baixa complexidade. A rigor, foge por completo de um modelo ambulatorial, mais eficiente, mais eficaz e que deveria vir também focado na medicina primária.
Aliás isto tem sua origem na própria formação médica. Explico: o último grande estudo relativo à formação médica foi o chamado Relatório Flexner, em que o autor, Abraham Flexner, a pedido da Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching, com apoio da Fundação Rockefeller, propôs importantes mudanças para as escolas médicas no Estados Unidos.
Por que este estudo que remonta há mais de um século contribuiu para a mentalidade hospitalocêntrica? Para Flexner, os médicos deveriam ser formados para trabalhar em duas vertentes: uma delas como pesquisadores, e a outra como médicos que trabalhavam em ambientes hospitalares. Diante dessa premissa, a referência de atividade de assistência à saúde passou a ser o hospital. Na história da civilização, o hospital começa com papel de apoio à assistência à saúde.
A maior parte dos tratamentos ocorria, na verdade, fora do ambiente hospitalar. Na década dos anos 70, do século passado, o hospital se tornou o centro do universo do cuidado à saúde, consolidando o modelo hospitalocêntrico, no qual os custos de investimentos em tecnologia levam à necessidade de se concentrar os esforços em um único local. É o modelo de concentração de alta complexidade que agrega todos os demais atendimentos/serviços satélites.
Outras funções
O problema é que esse modelo extremamente oneroso não reproduz, necessariamente, aquilo que de fato agrega valor na assistência à saúde. O hospital, na verdade, é o local que deveria atender pacientes graves, transplantados, pacientes agudos, e não serem transformados, como acabaram sendo, em casas de longa permanência.
Esse cenário favorece a ineficiência não só dos hospitais mas também dos sistemas, uma vez que a referência deixou de ser o médico – que é efetivamente quem cuida da saúde do paciente – e passou a ser o hospital. Para se buscar o modelo ideal em relação à saúde é fundamental um resgate acerca da própria formação médica. Passado mais de um século, é hora de rever o Relatório Flexner com novo olhar e tirar o foco do hospital em favor do desenvolvimento de um modelo ambulatorial.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista