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Covid-19: os novos desafios que surgirão na saúde com o fim da epidemia

Entre eles, o cuidados com o pacientes oncológicos que tiveram tratamentos afetados e os que sofrerão de stress pós-traumático

Por Ben-Hur Ferraz Neto
Atualizado em 30 abr 2020, 13h33 - Publicado em 30 abr 2020, 12h57

A Covid-19 iniciou uma guerra mundo afora e como tantas já sofridas, o pós-guerra nos trará derrotas, ensinamentos, conquistas, progresso, tristeza, perdas, ganhos, entre outros inúmeros sentimentos, muitas vezes ambíguos.

A única maneira da incógnita desta equação, com tantas variáveis e denominadores, resultar em um saldo positivo é a estratégia da conduta, desde o início do ambiente de guerra até o seu final, independente da sua duração.

Como médico, venho apoiando e sou a favor das medidas até então tomadas, com base no isolamento social como forma imediata de achatamento da curva, a fim de buscar o equilíbrio momentâneo entre a oferta e procura pelo sistema de saúde (saída econômica para um problema de saúde). No entanto, aguardo com muita esperança um plano futuro rápido e estratégico, baseado em números, na realidade e em fatos. Torço muito pelo êxito das próximas medidas dos nossos governantes.

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Entendo que os profissionais da frente de batalha estejam com 100% de seus esforços voltados a combater o inimigo, nesta guerra o coronavírus. Mas também compreendo de maneira transparente que estes mesmos profissionais não devem ser aqueles que estudem, ininterruptamente, o planejamento e as estratégias que influenciarão as mudanças na movimentação do “exército” combatente e do plano a ser implantado no pós-guerra.

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Como dizia o jornalista, médico e estadista francês Georges Clemenceau: “A guerra é uma coisa muito importante para ser deixada para os soldados”.

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Como um cirurgião com as características peculiares de resolutividade e auto-controle, mas distante da rotina frenética habitual do centro cirúrgico, tenho lido e estudado esta crise e, alguns pontos me preocupam sobremaneira.

Estou convencido de que 5 ou mais ondas ocorrerão na saúde

A primeira, aquela que envolve a doença em si, momento que estamos vivenciando agora e que se traduz pelo “modo de sobrevivência”. O vírus nos atacando e a sociedade tentando escapar.

A segunda onda estaria relacionada a restrição de recursos para outras doenças que necessitam atuação imediata, como exemplo os transplantes e a oncologia. Pacientes estão morrendo em lista de espera (por falta de órgãos ou infra-estrutura na era Covid-19 ou mesmo ficando mais graves e consumirão muito mais recursos em um futuro próximo. Pacientes oncológicos que não recebem quimioterápicos ou, ainda mais grave, o diagnóstico precoce da doença e, serão diagnosticados tardiamente, sem possibilidade de tratamento curativo.

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Alguns hospitais privados de São Paulo já identificaram queda de 80% em seus serviços de radiologia intervencionista, que cuidam de angioplastias, aneurismas, entre outras doenças que, se não tratadas tendem a ter complicações graves e óbitos. Não acredito que estes pacientes “não existam mais”…

Uma terceira onda, seria decorrente da falta de cuidados permanentes aos doentes crônicos (diabéticos, hipertensos, cardiopatas, hepatopatas, pacientes reumatológicos, entre outros) com todo seu impacto no futuro da saúde e da economia do país.

A quarta onda, especialmente destruidora decorrente do stress pós-traumático, pois se trata dos efeitos sobre o bem estar e a saúde mental, se mostra sem precedentes. O número de novos deprimidos, afastados de suas atividade diárias e, de volta a um isolamento social, desta vez psiquiátrico, pode trazer doenças incuráveis por anos e anos. Vejamos, um estudo de economia pós crise financeira na Grécia em 2011 (bem menor do que a que vivemos). Foram diagnosticados 5% de deprimidos novos a mais na população. Uma simples transferência deste número para a população brasileira impactaria em 10 milhões de pessoas gravemente enfermas.

Uma quinta onda seria o resultado da escassez. Isto poderá implicar em falta de logística de suprimentos, infra-estrutura, recursos humanos, caracterizados por fome, desemprego e seus reflexos na saúde, decorrentes dos problemas econômicos que virão.

Vejo, entre tantas dúvidas, apenas uma certeza: “A pandemia vai passar e a quarentena tem que acabar”, a discussão é quando e como?

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Minha preocupação vai além do curto prazo, além do “modo sobrevivência”. Sou médico e me preocupo com a saúde e bem estar da sociedade.

Os recursos e habilidades para o time que está agindo emergencialmente são diferentes daqueles que estariam responsáveis pelas medidas a médio e longo prazo ( 6 semanas a 24 meses). Há urgente necessidade de um planejamento com estratégia multifuncional para se enxergar o “macro”, o que está por vir e, não só, o que está acontecendo! Isto vai desde estratégias coordenadas para a batalha contra o coronavírus até o futuro do SUS.

Após o incêndio, precisamos de um plano, previamente definido, para lidar com a floresta e a pastagem queimada e manter nosso plantel alimentado.

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Considero ainda oportuno que a eventual liberação de verbas extras pelo Ministério da Economia, esteja condicionada a entrega de qualidade permanente aos serviços do SUS como contra-partida, medida por indicadores claros e previamente definidos. Não há espaço para oportunismos durante esta terrível crise!

Só assim, poderemos planejar a saída da quarentena com segurança a saúde da população e conquistar, o mais rápido possível, a retomada do crescimento econômico do Brasil e seus frutos, incluindo a melhoria constante do Sistema Único de Saúde.

(Felipe Cotrim/VEJA.com)
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