O domingo da festa amanheceu com cheiro de reviravolta: Spotlight na frente de O Regresso
No domingo, a Academia vai de novo fazer uma porção de gente feliz – e, novamente, deixar muita gente irritada. O complicado é especular quem vai estar de um lado ou de outro: a corrida deste ano já trocou de favoritos várias vezes, e foi de Mad Max para O Regresso, daí para Spotlight, de lá para A Grande Aposta e talvez quem sabe O Quarto de Jack, e agora está de volta mais uma vez a O Regresso. Veja aqui um retrato da disputa neste momento – mas fique ligado: ela ainda pode balançar de novo. E nunca, jamais se deve excluir a possibilidade de a coisa toda virar de ponta-cabeça, e acabarmos outra vez como em 2006, com Crash roubando o prêmio da mão de O Segredo de Brokeback Mountain na 25ª hora.
Melhor Filme
Como está: neste momento, temos um páreo apertado, com três concorrentes disparados à frente dos outros competidores: O Regresso está na dianteira, seguido de Spotlight – Segredos Revelados e depois de Mad Max: Estrada da Fúria.
O que isso significa: a situação beneficia O Regresso de duas maneiras. Primeiro, pela vantagem nas bolsas de apostas. Segundo, porque ele se pretende um filme “com mensagem” (ecologia, exploração, a força do espírito humano e por aí vai). Ou seja, neutraliza o ponto mais forte de Spotlight, o assunto “sério”, e ainda tem fôlego de sobra para competir com Mad Max em termos de ambição visual e técnica.
Se dependesse de mim… o Oscar já estava com Mad Max: Estrada da Fúria. Com tudo que O Regresso tem de tecnicamente admirável, Mad Max tem mais. E meu instinto me diz que, da mesma maneira que Birdman, O Regresso é um filme para o qual daqui a pouco ninguém vai dar mais bola – mas muita gente vai continuar assistindo a Mad Max e se assombrando.
Melhor Diretor
Como está: esta é a categoria em que a vantagem de O Regresso está mais ameaçada. Os especuladores apontam Alejandro Gonzáles Iñárritu como o favorito, mas neste momento Lenny Abrahamson, de O Quarto de Jack, vem correndo por fora e ganhando velocidade. Encostado nele vai Adam McKay, de A Grande Aposta.
O que isso significa: que, de todos os prêmios principais, este é o que está mais no ar. Por ironia, a indefinição decorre em grande parte da vantagem de O Regresso na disputa por melhor filme; é duvidoso que, dando o prêmio a ele, a Academia queira repetir na íntegra a dobradinha de Birdman no ano passado e premiar também Iñárritu de novo.
Se dependesse de mim… George Miller subiria ao palco por Mad Max, sem sombra de dúvida. É um perrengue isso de concorrer com filme que estreou no primeiro semestre: a candidatura quase sempre tende a perder força. Fico chateada também de Ridley Scott não ter sido indicado por Perdido em Marte. Eu cederia a Ridley o lugar de Tom McCarthy, de Spotlight, sem pestanejar.
Melhor Ator
Como está: essa é uma barbada. Este ano só tem para Leonardo DiCaprio
O que isso significa: que a Academia foi encostada na parede e não tem saída – ou dá o Oscar para Leo ou na manhã do dia 29 (não errei, este é um ano bissexto) vai encontrar piquetes na porta. Motivos: esta é a quinta indicação de Leo ao prêmio (a primeira foi como coadjuvante, em 1994, por Gilbert Grape); poderia ser a sexta, se o trabalho dele em J. Edgar tivesse sido devidamente reconhecido; e ele deveria ter ganhado em 2014, por O Lobo de Wall Street, mas a Academia estava siderada com a inesperada recuperação de Matthew McConaughey do seu surto de comédias românticas de segunda categoria e passou-o na frente. Finalmente, o Oscar é um prêmio da indústria, e poucos atores fizeram tanto pela saúde dela nos últimos anos quanto Leo.
Se dependesse de mim… o desempenho de Michael Fassbender em Steve Jobs é nada menos que magistral, e eu gostaria muito de vê-lo reconhecido. Mas reconheço que seria um tapa na cara tirar de novo o Oscar de Leo. De mais a mais, se alguém tirar o prêmio de Leo não será Fassbender, e sim outro ator muitíssimo merecedor – Matt Damon, por Perdido em Marte.
Melhor Atriz
Como está: a bola rolou para o pé de Brie Larson, e ela está na boca do gol. Sua vantagem é, além do bom trabalho, o apelo emocional indiscutível de O Quarto de Jack.
O que isso significa: que Brie, quietinha quietinha, desmontou a candidatura de Cate Blanchett por Carol. A outra competidora forte era Charlotte Rampling, por 45 Anos – mas Charlotte fez um comentário desastrado sobre a ausência de candidatos negros no Oscar (ela usou a expressão “racismo contra brancos”, ouch) e praticamente anulou as próprias chances. Neste momento, está em último lugar nas apostas.
Se dependesse de mim… Charlotte Rampling e Saoirse Ronan (por Brooklyn) dividiriam a estatueta. Gosto muito do trabalho de Brie Larson, mas a atuação de Charlotte em 45 Anos é épica (embora discretíssima), e a de Saoirse é de uma delicadeza quase impossível de atingir.
Melhor ator coadjuvante
Como está: aos 69 anos, e exatas quatro décadas depois de ter estourado com Rocky – Um Lutador (pelo qual foi indicado ao Oscar de roteiro), Sylvester Stallone tem um novo e inesperado momento de glória com Creed – Nascido para Lutar.
O que isso significa: que quatro atores extraordinários devem sair do Dolby Theatre carregando exatamente as mesmas coisas com que entraram nele, sem peso adicional. É verdade que Creed tem o melhor desempenho de Stallone em muito tempo – uma atuação afetuosa e calorosa que, sinceramente, eu não esperava dele. Mas também é verdade que seria difícil compará-la à maestria das outras atuações concorrentes. Neste caso, porém, o peso de Stallone como ícone e a puxadinha sentimental da coisa devem mesmo levar a melhor.
Se dependesse de mim… Christian Bale (A Grande Aposta), Tom Hardy (O Regresso), Mark Ruffalo (Spotlight) ou Mark Rylance (Ponte dos Espiões)? Caramba, difícil decidir. Para sofrer menos, eu dividiria meu voto entre Bale e Rylance.
Melhor atriz coadjuvante
Como está: polegada a polegada, a sueca Alicia Vikander, de A Garota Dinamarquesa, vem se aproximando da dianteira.
O que isso significa: que, polegada a polegada, Rooney Mara, de Carol, vem perdendo o favoritismo de algumas semanas atrás. Mas tanto Alicia quanto Rooney têm ainda um baita obstáculo que transpor no seu caminho até o palco: Jennifer Jason Leigh, de Os Oito Odiados. Não é uma atuação de que eu goste muito; acho-a bastante cansativa. Mas Jennifer foi uma estrela nos anos 80, andou esquecida e foi agora ressuscitada por Quentin Tarantino com um papel escrito especialmente para ela – o tipo de história que a Academia adora.
Se dependesse de mim… Kate Winslet está um monstro de boa em Steve Jobs. Mas acho exímio o desempenho de Alicia Vikander, e também ficaria muito feliz em vê-la premiada.