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Por Coluna
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No princípio era o cool

Adam e Eve, de Amantes Eternos, são a quintessência do cinema de Jim Jarmusch. E calha de serem vampiros

Por Isabela Boscov Atualizado em 31 out 2017, 17h13 - Publicado em 20 ago 2014, 16h54

Em Detroit, hoje uma ruína da cidade que outrora foi o templo da indústria automotiva e da música negra, Adam (Tom Hiddleston) vive recluso numa mansão decadente, colecionando guitarras vintage trazidas a ele pelo jovem Ian (Anton Yelchin), fazendo música funérea e às vezes entrando disfarçado em um hospital para comprar “do bom” de um médico do banco de sangue (Jeffrey Wright). Em Tânger, hoje um fantasma da cidade onde outrora artistas como o escritor Paul Bowles iam pirar, Eve (Tilda Swinton) se recobre de sedas e lãs em sua casa na casbá, passeia feliz pelas ruas desertas da madrugada e obtém também ela sua cota “do bom”, fornecida pelo seu velho – ou antiquíssimo – amigo Christopher Marlowe (John Hurt). Que, em Amantes Eternos, não morreu esfaqueado em 1593, como registra a história: da mesma forma que Adam e Eve, é um vampiro – e, pela vida eterna, pagou o preço de ter de deixar o campo aberto para que William Shakespeare o suplantasse como o maior dramaturgo da era elisabetana.

Amantes Eternos
(Paris Filmes/Divulgação)

No novo filme de Jim Jarmusch, porém, nem a imortalidade é mais o que era antes: os vampiros têm sua existência ameaçada pela contaminação generalizada do sangue humano (pelas drogas, é o que se sugere), pela vulgaridade e pela imaginação pobre do presente. Não restam mais gênios; os humanos, a que Adam e Eve se referem como “zumbis”, são hoje seres tacanhos; e até os vampiros mais novos são idiotas sem nenhuma noção de sofisticação ou cultura. Veja-se a desmiolada Ava (Mia Wasikowska), que, ao se reunir a sua irmã Eve e a Adam em Detroit, põe a perder o estilo de vida (ou não vida) que eles cuidadosamente cultivam há tantos séculos ou mesmo milênios.

Amantes Eternos
(Paris Filmes/Divulgação)

Às vezes, Adam, Eve e Marlowe bebericam um cálice de sangue. Mas, à parte essa singularidade dietética, não são tão diferentes assim de qualquer outro personagem dos filmes de Jarmusch: um ícone do cinema marginal dos anos 80 – para o qual contribuiu com clássicos instantâneos como Estranhos no Paraíso e Daunbailó –, ele quase sempre se ocupou de criaturas que são a essência do cool e que em geral preferem a noite, conhecem o passado e o abarcam na sua experiência, têm um quê de melancólico mas também o humor seco de quem gosta mais de observar do que de participar. O efeito cômico de levar esse raciocínio à sua conclusão lógica e fazer destes protagonistas vampiros autênticos é sutil, mas nem por isso menos eficaz: quanto mais depressivo e lânguido Adam se torna, contemplando nostálgico os retratos da gente interessante que conheceu (Buster Keaton, Mark Twain etc.), mais engraçada fica a situação. O inesperado, nela, é quão amorosa é a longuíssima relação de Adam e Eve – a versão, à moda de Jarmusch, de um conto de fadas no qual os apaixonados vivem (ou não vivem) felizes para sempre.

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Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 20/08/2014
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2014

Trailer


AMANTES ETERNOS
(Only Lovers Left Alive)
Estados Unidos, 2013
Direção: Jim Jarmusch
Com Tom Hiddleston, Tilda Swinton, Mia Wasikowska, John Hurt, Anton Yelchin, Jeffrey Wright

 

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