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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Análise do Oscar 2016: cinema, marketing e política

Blog aponta méritos e deméritos de indicados, premiados e militantes

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 30 jul 2020, 23h25 - Publicado em 29 fev 2016, 17h26

Comentei no dia 12:

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Acrescentei na noite de domingo (29), durante minha cobertura da cerimônia do Oscar no Twitter:

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O espetáculo visual de “O regresso” não compensa a falta de um conteúdo que transmita a força do elo emocional entre Hugh Glass, o filho morto e a mulher índia assassinada por brancos malvados.

Os delírios e as visões oníricas que o protagonista tem dos dois, entre uma platitude e outra sobre “o vento que sopra na floresta”, viram momentos de puro melodrama sem estofo.

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É exatamente o oposto, neste sentido, de “O quarto de Jack”, filme em que o vínculo afetivo entre mãe e filho após 5 anos de cativeiro é o alicerce inabalável e mais do que convincente para o drama da adaptação ao mundo exterior e ao resto da família, dilacerada pelos efeitos do sequestro longevo.

Um bom filme é, antes de tudo, uma boa história bem contada, e “O regresso”, que nem mesmo foi indicado a Melhor Roteiro, é pouco ou nada mais que uma história capenga espetacularmente fotografada. O merecido terceiro Oscar de Melhor Fotografia para Emmanuel Lubezki estaria de bom tamanho – até porque “Mad Max” também merecia os outros prêmios técnicos que levou.

(Aos amigos que viram “O regresso”, experimente perguntar onde e quando se passa a história, quais são os grupos em guerra ou a ocupação do protagonista, e duvido que a maioria saberá ao menos que se trata de um guia de expedição que caça animais para a venda de peles no norte dos Estados Unidos, em 1823.)

A estatueta de Melhor Diretor para Alejandro González Iñárritu, no entanto, é compreensível e até meritória, já que tirou um filme exuberante e, vá lá, tenso, de um roteiro banal, bastante inferior ao de “Birdman”, pelo qual o diretor mexicano venceu três Oscars (roteiro, direção e filme) em 2015.

A Academia optou por premiar o trabalho de maior complexidade na direção, assim como aconteceu na categoria de roteiro adaptado. A narrativa complexa sobre os mercados financeiro e imobiliário em “A grande aposta” superou a sensibilidade do enredo de “O quarto de Jack”, ancorada na perspectiva de uma criança diante do mundo dentro e fora do quarto onde nasceu e viveu seus primeiros anos.

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Atores premiados: Mark Rylance, Brie Larson, Leonardo Dicaprio e Alicia Vikander

Prefiro não pensar que a hipótese de estimular um debate sobre não abortar o filho de um estupro tenha feito membros da Academia escolherem outra opção, deixando apenas o incontornável Oscar de Melhor Atriz para Brie Larson, absolutamente perfeita como a mãe de Jack no filme.

Foi também, afinal, uma forma de pulverizar as premiações.

(Mas eu puxo o debate: será que a única hipótese plausível para ter um filho de estupro é não ter mais ninguém a quem se agarrar dentro de um cativeiro?)

Eu também havia ironizado:

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Dicaprio grita, baba, faz cara de dor, é arremessado de penhascos e cachoeiras rochosas, arrastado por rios congelantes, soterrado por tempestades de neve, atacado por índios assassinos e ursos – e não fala quase nada além das citadas platitudes.

Daí, então, surgiu uma campanha de marketing pelo seu primeiro Oscar tão exagerada que parecia feita por João Santana bancado pela Odebrecht. É como se todos quisessem premiar o ator pelo martírio do personagem (ou quem sabe pelo frio que ele passou para receber 30 milhões de dólares), sem que o papel lhe tivesse exigido, em termos de recursos artísticos, muito mais do que gemidos.

Dicaprio é um ótimo ator e está bem, sim, mas o papel, em tese, não valia um Oscar. Já Sylvester Stallone, que concorria a Melhor Ator Coadjuvante, é um ator limitado, mas está perfeito em “Creed”.

A vitória de Dicaprio e a derrota de Stallone se deram mais pelo conjunto da obra que pela atuação específica.

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Stallone Dicaprio

Dicaprio e Stallone

Até por “Os infiltrados”, com seu personagem à beira de um ataque de nervos por arriscar a vida e a consciência moral como um agente infiltrado na máfia, Dicaprio merecia mais uma estatueta do que dessa vez – para não falar em suas demais indicações.

Contou a favor dele (e de seu discurso de militante ambientalista) a falta de grandes atuações masculinas em 2015.

Michael Fassbender, por exemplo, está ótimo como Steve Jobs, mas a secura do personagem (finalmente desconstruído no cinema) não cativa tanto e Kate Winslet roubou a cena (o que lhe rendeu diversos prêmios, embora tenha perdido o Oscar de Coadjuvante para Alicia Vikander, também excelente em “A garota dinamarquesa”).

Contou contra Stallone a atuação competente de Mark Rylance em “A ponte dos espiões”, como o espião russo que, mesmo capturado e preso nos Estados Unidos no início da Guerra Fria, não afeta qualquer nervosismo e, quando questionado a respeito pelo personagem de Tom Hanks, responde com outra pergunta inesquecível (e até educativa):

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“Will it help?” – “Isso vai ajudar (a resolver alguma coisa)?”

Arnold Schwarzenegger mostrou a Stallone que não, divulgando um belo vídeo no Twitter para consolar o amigo derrotado:

“Não importa o que eles dizem. Para mim, você é o melhor. Eu estou orgulhoso de você.”

Este blog está quase orgulhoso, também, da derrota de “O regresso” na categoria de Melhor Filme.

A imprensa, que, em matéria de cinema, cai em campanha de marketing tanto quanto em política, diz que “‘Spotlight’ surpreendeu” com a vitória, mas não é surpresa alguma que um filme que denuncia abusos sexuais contra crianças praticados por sacerdotes católicos vença o Oscar – especialmente se é bom filme.

Spotlight

A equipe de “Spotlight”

“Spotlight” resvala em militância anticristã num par de cenas como a da sacada, quando os repórteres interpretados por Rachel Mcadams e Mark Ruffalo se desiludem com a fé, sendo que o único contraponto às perversidades descobertas por ambos é a declaração de um colaborador das investigações que diz por telefone: “Eu ainda me considero um católico”. E explica: “Bem, a Igreja é uma instituição, ela é feita por homens, eles passam, mas minha fé é eterna”.

Por lidar com muitos nomes e cargos, o filme também fica ligeiramente confuso para o espectador em alguns momentos, mas essas imperfeições são até admissíveis em se tratando de uma investigação jornalística real sobre algo tão repugnante quanto abusos sexuais e acobertamentos.

(Aos “conservadores” militantes, um aviso: reconhecer abusos só em grupos e ambientes adversários é coisa de petista com duplo padrão moral. Ninguém é menos católico se reconhecer crimes cometidos dentro da Igreja, ainda que outros grupos humanos cometam, em média, mais abusos do que padres.)

Vencedor também do Oscar de Melhor Roteiro Original, ‘Spotlight’ é, acima de tudo, um tributo ao bom jornalismo, à vigilância dos poderosos e à perseverança na busca da verdade dos fatos, doa a quem doer.

Embora imperfeito, é um filme muito melhor que “O regresso” – mas, se fosse uma denúncia contra mesquitas, decerto não teria sido nem indicado.

A necessidade da Academia de prestar contas à esquerda, aliás, ficou evidente, na noite de domingo, com as formas encontradas para amenizar a recente gritaria da militância racial encabeçada por Spike Lee.

Com tantos negros como apresentadores de Oscars para compensar a falta de indicados, os brancos já podem reivindicar a apresentação eterna da NBA.

* Relembre aqui no blog:
Hollywood e o Bonequinho do Globo manipulam você

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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