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Por João Batista Oliveira
O que as evidências mostram sobre o que funciona de fato na área de Educação? O autor conta com a participação dos leitores para enriquecer esse debate.
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Por que os jovens deixam a escola?

As principais razões dentro da escola incluem o absenteísmo, a repetência, a falta de interesse e a falta de orientação vocacional

Por João Batista Oliveira Atualizado em 27 Maio 2019, 16h36 - Publicado em 27 Maio 2019, 12h41

As razões são conhecidas há muito tempo e não diferem das outras razões que explicam o sucesso e o fracasso escolar, incluem fatores intra e extraescolares, mas nem por isso deixam de ser profundamente graves. É um problema de toda a sociedade – não apenas do governo, das escolas ou das famílias envolvidas.

As principais razões dentro da escola incluem o absenteísmo, que não é levado a sério pelas famílias e pelas escolas; a repetência nos anos iniciais da escolaridade; e, nos anos finais, a falta de interesse no cardápio oferecido, a falta de opções para fazer algo que gosta dentro da escola e no ensino médio, a falta de orientação vocacional e, para os mais velhos, falta de voz e de consideração dentro da escola.

O absenteísmo crônico já na pré-escola é um forte preditor de futura deserção escolar. Isso provavelmente indica o pouco valor e baixa expectativa das famílias em relação à escola, mas também pode estar associado à falta de cuidados da escola. A repetência nos anos iniciais frequentemente está associada a repetências posteriores, o que faz com que o aluno se desanime ao longo do processo. Sobre esses dois pontos há evidências empíricas robustas.

A falta de interesse nos anos finais e no ensino médio foi observada em diversos estudos com jovens, e frequentemente está aliada com a falta de opções – os currículos são carregados de disciplinas e não oferecem espaço para o aluno escolher o que fazer em nenhum momento do dia escolar. Enquetes com alunos do ensino médio também mostram as queixas dos alunos sobre o fato de não serem ouvidos e de poderem opinar sobre os assuntos da escola, dos seus sonhos, dos seus compromissos e do mundo que querem transformar.

Sobre o item “falta de informação” não existem pesquisas, apenas vale constatar que praticamente inexiste no país um sistema organizado de orientação vocacional e os alunos que concluem o ensino fundamental – em sua esmagadora maioria – dirigem-se ao ensino médio acadêmico, para o qual não possuem preparo. O mercado de trabalho pune fortemente os mais de 1 milhão de alunos que não concluem esse nível de ensino – eles ganham menos do que ganhariam se tivesse parado no ensino fundamental, e muito menos do que ganhariam se tivessem feito o ensino médio técnico.

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As principais razões situadas fora da escola estão associadas aos mesmos fatores que explicam o fracasso escolar em geral – origem socioeconômica dos alunos, nível de escolaridade da mãe e falta de envolvimento dos pais com o estudo dos filhos. A questão do trabalho também é razoavelmente conhecida: uma porcentagem relativamente baixa trabalha ou procura trabalho, o número dos que trabalham e estudam é pouco maior do que os que não trabalham e não estudam e quase sempre o trabalho não entra na composição da renda familiar. Ou seja; o trabalho ou a necessidade de ganhar para ajudar a família não constituem razão nem são o principal atrativo para parar de estudar. Por outro lado, as baixas taxas de retorno constituem um forte elemento para não concluir o ensino fundamental – a diferença é muito pequena entre quem conclui ou não o ensino fundamental. E, embora as taxas de retorno para o ensino médio, especialmente o ensino médio técnico, sejam um pouco mais atraentes, os elevados níveis de desemprego entre os colegas mais velhos e os familiares que vivem em condições socioeconômicas semelhantes desencorajam os alunos para permanecer na escola. Sem falar, claro, na falta de oferta de um ensino médio técnico abundante e adequado. Mais uma vez a economia e os fatores extraescolares falam mais forte do que os fatores intraescolares.

Esta é a regra. Sabemos menos sobre as exceções: os alunos que, em condições semelhantes, não se evadem. Por que uns saem e outros permanecem? E, também, não sabemos, mas podemos identificar as escolas e municípios que conseguem níveis invejáveis de conclusão dos estudos apesar desses fatores. Mesmo sem essas informações há muito que se possa fazer para reduzir a evasão, de dentro e de fora da escola.

Do lado de dentro da escola há muito que se possa fazer – assegurar a frequência escolar desde cedo e abolir a reprovação em massa. Alfabetizar os alunos no 1o ano e dar a todos o senso de que são capazes de aprender e avançar. Nas séries finais e no ensino médio algumas iniciativas que promovem o maior envolvimento dos alunos com a escola e com seu projeto de vida certamente podem contribuir para aumentar a permanência dos alunos na escola – como ilustra a metodologia adotada pelo ICE – Instituto de Corresponsabilidade Empresarial. Mas infelizmente a BNCC não abre espaço para dar opções aos alunos nem nas séries finais do ensino fundamental, e a lei e as diretrizes para o ensino médio não provocou a esperada explosão da oferta de ensino médio técnico – o que certamente demonstra a inadequação da legislação vigente e inclusive das regulações mais recentes.

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Fora da escola há várias medidas que poderiam reduzir esses índices. As mais importantes – claro – referem-se à recuperação da economia e ao aumento da produtividade, o que fatalmente irá aumentar a taxa de retorno para os concluintes do ensino médio, especialmente o ensino médio técnico profissional. Ela também poderá levar a uma relativa desvalorização do salário mínimo – o que contribuiria para aumentar a atratividade da conclusão do ensino fundamental.

No nível municipal, onde as pessoas vivem, também há ações que poderiam contribuir para aumentar a permanência dos alunos na escola. Uma delas é o esforço concentrado junto às famílias de alto risco de evasão. A detecção precoce desses alunos e famílias ajudaria muito a desenvolver ações preventivas. Um outro são iniciativas como a do ex-senador Cristovam Buarque e que incluem incentivos financeiros para alunos em risco concluírem pelo menos o ensino médio.

Ou seja: a situação é grave, mas não é uma fatalidade. Há muito que cada um de nós, na sua esfera de atuação, pode fazer. Mas somente uma economia pujante e uma verdadeira reforma do ensino médio poderão tornar a escola interessante para a sociedade e para os jovens.

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