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De galho em galho

Há um ano e oito meses Jair Bolsonaro governa sem filiação partidária. Desde que a República é República não se tem notícia de algo parecido

Por Dora Kramer Atualizado em 30 jul 2021, 11h15 - Publicado em 30 jul 2021, 06h00

Há um ano e oito meses Jair Bolsonaro governa sem filiação partidária. Ele saiu do PSL em novembro de 2019, tentou criar sem sucesso o Aliança para o Brasil e, de lá para cá, entabulou negociações com nove legendas, chegou a pensar em ressuscitar a UDN, mas nada deu certo. Desde que a República é República não se tem notícia de algo parecido.

Ainda que nos últimos 132 anos o Brasil não tenha tido na Presidência ninguém nem de longe parecido com Bolsonaro — não por falta de concorrentes no quesito picaresco —, a situação é inusitada. O poder é um atrativo para partidos. Presidentes da República, então, representam uma oportunidade única de crescimento para qualquer agremiação.

Partidos crescem na Presidência. Basta ver o que foram PMDB e PFL no governo José Sarney, o PSDB na passagem de Fernando Henrique Cardoso pelo Planalto, o PT na era Lula e observar a ascensão do PSL à condição de segunda maior bancada da Câmara no abrigo dado à candidatura de Bolsonaro.

O crescimento se traduz em poder político não apenas central, mas também capilar com a conquista (por eleição ou adesão) de governos estaduais e prefeituras — os tucanos chegaram a governar ao mesmo tempo os três maiores colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro —, além de render um bom dinheiro.

Recursos antes majoritariamente privados, na forma de doações empresariais, e públicos desde 2017 com o gordo aporte do fundo eleitoral criado para “financiar a democracia” às expensas do contribuinte, que, além de não ter sido consultado a respeito, não recebe retorno pelo serviço pago.

Tomemos o exemplo do PSL: em 2018, antes de abrigar Bolsonaro, teve direito a 9,2 milhões de reais. Em 2022, a projeção pelo montante de 5,7 bilhões de reais aprovados na Lei de Diretrizes Orçamentárias é de algo entre 558 milhões e 567 milhões de reais. Que tal? Negócio da China ter em seus quadros um presidente da República, pois não?

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“Em 132 anos de República não houve presidente com tanta dificuldade de achar um partido como Bolsonaro”

Depende. Se o governante em questão quiser açambarcar o butim com fome de anteontem, como Bolsonaro e companhia limitada à família, a transação pode não ser vantajosa para o dono do empreendimento. No caso, o deputado Luciano Bivar, presidente do PSL, mas tem sido também o caso de outros donos de lucrativos terreiros partidários onde o presidente tentou aterrissar com o intuito de comandar a banda sem empecilhos.

A ideia do controle total é recente. Data da conquista da Presidência. Antes disso, nosso personagem à procura de um partido passou por oito legendas desde 1993 (medida de uma troca a cada três anos em 28 de vida política) sem se preocupar com a administração dos imóveis pelos quais passava como inquilino um tanto desinteressado.

Agora é diferente, procura casa própria e com direito a relegar os atuais proprietários à condição de sem-teto. Não é suposição, foi o próprio Bolsonaro quem deixou isso muito claro dia desses ao dizer o seguinte: “Estou tentando um que eu possa chamar de meu e, se for disputar a Presidência, tenha o domínio do partido”. Falou isso no contexto da ida do senador Ciro Nogueira (PP-­PI) para a Casa Civil, acrescentando: “Então, o PP passa a ser uma possibilidade de filiação nossa”.

Conviria esperar sentado, dado ser altamente improvável que querubins da estirpe de Nogueira, Arthur Lira (PP-AL) e Ricardo Barros (PP-PR) estejam dispostos a entregar a mina de recursos públicos (não nos esqueçamos do fundo partidário, para além do eleitoral), de onde emana o poderio sobre alianças regionais, com o PT e o PSDB, inclusive. Da liberdade para pular do barco suas excelências não abrem mão nem da prerrogativa de distribuir ovos em diferentes cestas.

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Num país em que há 33 partidos inscritos na Justiça Eleitoral e outros mais de setenta à espera de registro, onde há gente especializada no ramo, onde é comum políticos insatisfeitos criarem legendas quando insatisfeitos em casas de origem. Isso sem contar com facilidades e atrativos inerentes à cadeira presidencial — vide Marina Silva, Gilberto Kassab, os petistas fundadores do PSOL e tantos outros —, surpreende o malogrado périplo do chefe da nação.

Nessa batida, Bolsonaro arrisca-se a chegar ao prazo-limite de filiação, em abril de 2022, sem legenda para disputar a reeleição. Algo impensável. Mais provável, portanto, é que ele baixe a bola e jogue em qualquer time sem impor condições. Ou na hora H se conforme com equipe da série D.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 4 de agosto de 2021, edição nº 2749

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