O SUS e as batalhas à frente no futuro pós pandemia
O papel da tecnologia será determinante, especialmente da telemedicina
O Sistema Único de Saúde (SUS) presta um serviço imprescindível para o Brasil. Isso ficou cristalinamente claro ao longo da pandemia, não só pelo atendimento prestado àqueles sem acesso à saúde suplementar, mas, principalmente, com relação às vacinas – temos perto de 55% da população brasileira vacinada contra o novo coronavírus, mesmo com a turbulência que marcou o início do processo. A pandemia levou a desarranjos consideráveis na rede pública de saúde e o futuro período pós-pandemia deverá, assim, ser marcado por muito trabalho e grandes desafios.
Um dos problemas que já está posto, antes mesmo de qualquer sinal de fim da pandemia, é a necessidade de vacinar a população. A vacinação contra a Covid-19 não foi um evento único – deverá fazer parte da rotina de cuidados dos brasileiros com a saúde. Algo como o que já ocorre hoje com a vacinação contra a gripe, ainda mais se considerada a existência de variantes do vírus. Movimentar uma campanha de vacinação envolve planejamento e recursos, e tanto um como outro levam tempo para serem mobilizados. O Brasil está avançando na tecnologia de produção de suas próprias vacinas e mesmo do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), comprado de outros países – a pandemia mostrou que não podemos ser dependentes de algo tão essencial para imunizar.
Também será preciso lidar com o acúmulo de outros atendimentos que foram postergados. O medo de contrair a Covid-19 fez muitas pessoas deixarem de lado tratamentos e idas a consultas presenciais. O adiamento, principalmente nos casos de pessoas com doenças crônicas, fez com que muitos casos se agravassem, tornando o tratamento mais difícil.
Levantamento recente do Conselho Federal de Medicina (CFM) mostrou que entre março e dezembro do ano passado deixaram de ser feitos em ambulatórios do SUS pelo menos 16 milhões de exames com finalidade diagnóstica, mais 8 milhões de procedimentos clínicos, 1,2 milhão de pequenas cirurgias e 210 mil transplantes de órgãos, tecidos e células. Regularizar esses atendimentos está entre as principais tarefas para o sistema público de saúde daqui pra frente.
Investir no atendimento primário também é tarefa a ser encarada de frente. Isso racionaliza o uso de recursos nos âmbitos municipal, estadual e federal e permite que a assistência prestada à população seja mais efetiva. Para isso também contribuirá a integração do atendimento da rede pública, de modo que o brasileiro que precisa se submeter a um procedimento médico possa contar com maior agilidade na troca de informações entre as diversas unidades do sistema.
O papel da tecnologia será determinante, especialmente da telemedicina. Embora ainda sem regulamentação definitiva, as consultas remotas se incorporaram à rotina de quem precisou falar com um médico ao longo da pandemia. Ainda que mais presente na rede privada, o setor público terá muito a ganhar se investir nessa modalidade de atendimento. Aplicativos também poderão ser cada vez mais inseridos para facilitar o contato do paciente com médicos e com o sistema como um todo.
O Brasil é considerado o único país com mais de 200 milhões de habitantes a ter um sistema público universal de saúde. Dadas as complexidades econômico-sociais do país, já havia muitas lacunas e falhas no SUS, e a pandemia acentuou ainda mais essas dificuldades. Gestão mais inteligente de recursos, com ferramentas tecnológicas mais acessíveis e maior integração, tudo isso ajudará o SUS não só a reverter os danos causados pela pandemia como a sanar insuficiências que o afetam de maneira crônica. Dessa forma, o sistema, que completou 31 anos em 19 de setembro deste ano, poderá prestar um serviço cada vez melhor aos brasileiros dentro dos princípios que nortearam a sua criação sob inspiração do sistema de saúde pública britânico, o National Health Service (NHS): universalidade, equidade e integralidade.