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Por Leandro Narloch
Uma visão politicamente incorreta da história, ciência e economia
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Nem religião, nem virgens, nem vingança

Por Leandro Narloch
Atualizado em 31 jul 2020, 02h27 - Publicado em 16 dez 2014, 10h56

O que move extremistas a se vestirem com explosivos e apartarem o detonador no meio de dezenas de crianças inocentes, como fizeram hoje numa escola do Paquistão?

Terroristas e vítimas parecem concordar com a resposta “religião + virgens”. O objetivo seria espalhar o Islã a qualquer custo e vingar-se do Ocidente, com o benefício adicional de passar a eternidade no paraíso na companhia de 72 jovens intocadas.

Para o psicólogo israelense Ariel Merari, que estuda o assunto há 30 anos, essa resposta não passa de um mito. Merari liderou o primeiro grupo de estudiosos com acesso a terroristas palestinos que tiveram o ataque suicida frustrado – ou porque o equipamento não funcionou ou porque foram presos antes de explodirem. Por meio de testes psicológicos e longas entrevistas, ele chegou a duas surpresas:

– A religião não é a principal motivação dos homens-bomba. Os terroristas que se dispuseram ao suicídio não eram mais religiosos que os não suicidas ou mesmo que a população palestina em geral. Oitenta por cento deles se disseram “moderadamente religiosos”. Eram também mais escolarizados e ricos que a média da população. Com idade entre 15 e 23 anos, 53% tinham completado o Ensino Médio ou começado a faculdade, enquanto só 33% dos terroristas não suicidas estavam nesse nível de escolarização. Para 60% dos homens-bomba, o ataque seria a primeira atividade violenta de resistência.

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– Os homens-bomba não buscam vingança. Nenhum dos terroristas entrevistados por Merari revelou ter decidido se tornar homem-bomba para vingar a morte de um parente ou conhecido. Todos os entrevistados tinham a mãe viva; 94%, o pai. Só um terço deles lembrava de algum familiar distante morto nos conflitos com Israel.

Se não lutam por vingança nem por virgens no paraíso, o que, então, os homens-bomba querem? Para Merari, a maioria deles busca realizar um grande ato que possa compensar a falta de habilidade social. Os testes conduzidos pelo psicólogo mostraram que 60% dos terroristas suicidas tinham transtornos de personalidade dependente ou esquiva. É o perfil de quem tem pouca autoconfiança, timidez exagerada, dificuldade em tomar decisões, hipersensibilidade a culpa, necessidade extrema de aprovação dos outros, medo de rejeição e de expressar desacordo, e disposição a realizar tarefas só para agradar os demais.

Um caso exemplar é o de Hamed, preso aos 21 anos. Asmático desde os 10, durante a adolescência preferia ficar em casa vendo televisão que brincar com amigos. Nunca tinha se relacionado com mulheres. Conta o psicólogo:

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Nos testes psicológicos, Hamed foi avaliado como uma personalidade esquiva. Ansioso, tímido e introvertido, tinha uma autoestima muito baixa, rigidez e necessidade de agradar os outros, ainda que sem competência social. Abstinha-se de relações social até ter certeza que seria bem-vindo.

No começo, quando perguntado o que o fez participar de missões suicidas, respondeu simplesmente ‘meu objetivo era ir para o paraíso e ficar com 72 virgens’ (apesar de ter se descrito como moderadamente religioso). Depois, no entanto, ele disse: ‘Eu também queria ser famoso, ser visto num pôster, e ajudar minha família a ter mais dinheiro’.

Esse perfil é uma presa fácil do fanatismo. Jovens carentes por pertencer à elite de um grupo social são mais leais, dedicados e dispostos a se sacrificar em nome do grupo. O ataque daria a eles o ingresso ao clube exclusivo dos heróis suicidas, compensando uma vida de fracassos sociais e pouca visibilidade. Mais que uma ideologia maluca, o que motiva os homens-bomba a cometer crimes tão absurdos é a necessidade de se sentirem especiais.

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