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Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Tinder, IA e a padronização do amor (e de tudo)

Hoje, não é mais necessário achar a paixão certa. O caminho mais fácil é achar o algoritmo certo – como mostrou um novo software desenvolvido na Califórnia

Por Filipe Vilicic Atualizado em 14 dez 2017, 16h31 - Publicado em 14 dez 2017, 16h26

Você procura sua alma gêmea (se ainda não a achou)? Se você é um humano típico, sim. Afinal, nove em cada dez de nós acredita na busca por um amor; e cinco em dez bota fé que ele será descoberto à primeira vista. Pois é, existem estudos científicos até para chegar a essas conclusões óbvias. No entanto, como fazer para achar o amor perfeito?

Na Grécia antiga, durante o célebre Simpósio promovido por Platão, Aristófanes chegou à conclusão de que almas gêmeas teriam sido separadas uma das outras, literalmente (teriam sido criadas juntas, como um só ser, pelas divindades), antes de nascer. A vida, logo, seria uma busca incessante por nossa outra parte. A noção de que achar O (em caps lock) amor é uma das principais metas de nossa passagem por este mundo perdurou por milênios no Ocidente, talvez alcançado seu ápice no movimento do romantismo do século 19, cujos artistas celebravam mais o sentir do que a razão. Hoje, no entanto, a procura incômoda e dolorida pela paixão de nossas vidas não tem mais esse glamour. Nem precisa ser incômoda, muito menos dolorida. Na era dos algoritmos, a razão e, ainda mais, os números se sobrepõem como as principais ferramentas na busca por um amor. Mais uma vez, um viva para o progresso da inteligência artificial (IA)!

Volto a questionar: você procura sua alma gêmea? Se sim, é bem provável que já tenha entrado no Tinder, no Happn ou em algum app desse gênero. Quem já não viu também algo sobre os sites que, por meio de algoritmos, prometem achar a pessoa ideal para você? Basta colocar lá seus gostos, registrar seus hábitos, suas preferências sexuais, postar uma foto de seu perfil mais lindo (afinal, com ou sem algoritmos, humanos não deixam de ser fúteis, também), contar um pouco – não precisa de muito – sobre sua vida. Pronto!

Depois, sente e espere pela máquina, que cruzará dados de milhões de indivíduos e, com isso, fará todo o trabalho por você. Achará sua alma gêmea! Basta esperar um pouco; o tempo que a IA levará para processar esses dados todos. Numa época em que se acostumou a conseguir qualquer coisa num clique no iPhone, nada melhor do que ter a mesmíssima solução para encontrar um (a) parceiro (a).

E se não der certo o relacionamento? Não se preocupe. Essa é a novidade da vez. Ao entrar no elevador do trabalho, uma notícia na TV saltou aos olhos: “IA pode prever quando relacionamento vai acabar pelo tom de voz do casal”. Cientistas de dados da Universidade do Sul da Califórnia (EUA), referência no ramo da tecnologia, desenvolveram, neste ano, um software capaz de realizar exatamente isso. Para tal fim, gravaram conversas de casais durante sessões de terapia. Depois, colocaram a IA para avaliar o tom das discussões. Na sequência, cruzaram as informações com o tempo que cada um desses relacionamentos durou (ou se perduraram sem acabar). Com esses dados, o software agora pode dizer, com boa precisão, quando um casal deve se separar. Inclusive apontando, mais ou menos, quantos meses o relacionamento pode resistir. Quer saber com qual tom de voz de seu parceiro (a) você deve ser preocupar? Confira o estudo neste link.

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Pronto. Então, em só mais um clique, você e seu companheiro (a) logo saberão se o relacionamento tem futuro. Ou, melhor, não num clique. Logo a fórmula será perguntar para a Siri, do iPhone: “ainda devo ficar com fulano (a)?”. E os algoritmos responderão algo como: “Todos nossos dados indicam que, baseado na forma como o casal troca e-mails, no conteúdo das conversas no Facebook, no tom de voz dos áudios cambiados via WhatsApp, ou seja, em tudo que sabemos dos dois, é melhor se separarem. Não tem futuro”.

O assunto parece fútil para ser debatido pelo ponto de vista, digamos, tecnológico? Saiba que o amor há muito movimenta a computação. Não falo de amor por máquinas, pela profissão, não. Tô falando do amor carnal, emocional, o entre humanos. A primeira rede social, como um Facebook, foi criada em 1959 justamente por dois estudantes de engenharia da Universidade Stanford que tinham o objetivo de colocar homens e mulheres com gostos parecidos em contato. A proposta já era unir casais que, de acordo com os algoritmos, tinham maior probabilidade de dar certo. O Facebook, aliás, também surgiu com meta parecida: colocar universitários em contato, sim; mas, lá no início, era majoritariamente usado para flertar.

A ciência moderna se esforça para padronizar tudo, inclusive o amor. Por efeito, hoje há em torno de 1 400 serviços de namoro online, todos baseados em algoritmos no estilo “aproximação por gostos similares”, só nos Estados Unidos. Tem os dedicados a pessoas de religiões específicas, os genéricos do tipo Tinder, os para homossexuais, os para esportistas, ou mesmo um para aqueles que querem encontrar um amado (a) com base em ódios parecidos (se somos haters, e odiamos as mesmíssimas coisas, bora nos amar!).

Qual seria o futuro disso tudo? A resposta, como é usual na história da ciência e da inovação, pode vir dos ensaios de ficção científica. Filmes como Ela, de Spike Jonze, Ex Machina, de Alex Garland, e Blade Runner (tanto o antigo, quanto o novo) indicam qual seria o caminho. Se a IA consegue adivinhar quem e como amamos, porque não criar uma IA apaixonante? Em vez de sofrer em busca de um amor humano, sempre falho (como humanos são), o melhor não seria cortar esse problema e casar logo com um robô criado de acordo com nossas preferências, que supra até aquelas vontades que nem sabemos que temos (mas que o algoritmo, esse sim, sabe)? O próximo passo para a facilitação do amor, logo, pode ser passar a se relacionar com nossos iPhones.

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E não se preocupe com sua felicidade. A IA também resolverá esse aspecto da vida. Sabe bem disso o engenheiro Mo Gawdat, chefe de um laboratório de inovação do Google. A ambição de Gawdat, com seu trabalho, é justamente criar uma máquina habilitada para dizer o que deixa as pessoas alegres, e o que as faz tristes. Bastaria, portanto, seguir as orientações de um robô para ter felicidade garantida. Curioso? Gawdat lançou, há pouco (e ainda apenas em inglês), um livro sobre esse tão ambicioso projeto. Chama-se Solve for Happy. Sim, a solução para alcançar a plenitude virá, também, da IA.

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