Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O impacto para o país da retomada do Programa Antártico Brasileiro

Brasil fica em pé de igualdade nas decisões sobre o Polo Sul e na primazia para explorar seus imensos recursos

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 set 2022, 10h13 - Publicado em 9 set 2022, 06h00

Com mais de 14 milhões de quilômetros quadrados, a Antártica concentra 70% da água doce e 90% do gelo da Terra. Sob o manto branco que cobre quase todo o Polo Sul há uma extensa área territorial na qual estão conservadas relevantes reservas minerais e biológicas. É a fronteira final, o manancial inexplorado que pode salvar a humanidade de si mesma. Só isso já justifica comemorar a retomada do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que completou quarenta anos com a ocupação da nova Estação Comandante Ferraz. Foi esse projeto que garantiu o ingresso do país no Tratado Antártico, acordo de cooperação internacional para exploração científica da região, com status consultivo e direito a voto e veto entre as 29 nações signatárias.

Localizada ao norte da Antártica, na Ilha do Rei George, a nova casa brasileira na região ocupa 4 500 metros quadrados e pode abrigar com conforto até 64 pessoas, entre funcionários do governo e pesquisadores. As instalações dispõem de dezessete laboratórios de última geração e contam com sinal de wi-fi e sala de ginástica. Mais rudimentar, a primeira sede, aberta em 1984, ficou ativa até 2012, quando um incêndio a destruiu. Ao custo de cerca de 100 milhões de reais, os novos edifícios foram inaugurados em janeiro de 2020, com a promessa da retomada das atividades. A pandemia de Covid-19, porém, pôs os planos em compasso de espera. Isso durou até 2022, quando a 40ª Operação Antártica (Operantar XL) deu continuidade ao engajamento do país no continente.

NA NEVE - Trabalho de campo do cientista brasileiro Henrique Rosa: o lugar pode ser colonizado no futuro -
NA NEVE – Trabalho de campo do cientista brasileiro Henrique Rosa: o lugar pode ser colonizado no futuro – (Jonne Roriz/VEJA)

Pela proximidade, o Brasil é diretamente afetado por tudo que acontece no Polo Sul, tanto do ponto de vista ambiental quanto de exploração de recursos. Ao conquistar espaço e voz ativa entre nações como Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha, o país garante acesso a uma biodiversidade preciosa. É uma fonte de produtos biotecnológicos como antibióticos mais resistentes e herbicidas naturais, além de anticongelantes potentes e combustíveis menos poluentes. “Estamos muito perto disso tudo para ignorar a existência do continente”, disse a VEJA o coordenador científico da estação, Paulo Câmara, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB). “Não dá para fazer de conta que não tem nada a ver com a gente.”

Tem, e muito. O recém-reconhecido Oceano Austral, que banha a Antártica, tem contato com o Oceano Atlântico, que margeia o litoral brasileiro. Possíveis alterações climáticas podem afetar a região litorânea e até o interior, assim como a biodiversidade marinha da nossa faixa costeira e das águas sob jurisdição nacional — a chamada “Amazônia Azul” e todo o seu potencial econômico. O desprendimento e o derretimento das enormes plataformas de gelo antárticas, que já vêm ocorrendo nos últimos anos devido ao aquecimento global, podem mudar a dinâmica das águas próximas e ao redor do mundo.

Continua após a publicidade
NA ÁGUA - Biodiversidade: os pinguins são patrimônio ambiental -
NA ÁGUA - Biodiversidade: os pinguins são patrimônio ambiental – (Paul Souders/Getty Images)

Monitorar os impactos das mudanças climáticas, entender melhor a dinâmica do clima antártico e a complexidade de sua biodiversidade ajuda a prevenir possíveis desastres ambientais. Além disso, abre caminho para outras possibilidades. “Pode até se transformar em espaço de colonização, caso desastres naturais e não naturais ocorram nos demais continentes do planeta”, disse o professor Luiz Henrique Rosa, pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

A conscientização, é natural, passa pelo conhecimento. A Antártica ainda é pouco conhecida pelos brasileiros e pelo restante do mundo, e talvez por isso exerça tanto fascínio. Investir no projeto científico, iniciativa que tem se mostrado bem-sucedida apesar das pedras no caminho, pode ser uma forma de divulgar os trabalhos e atrair interesse para o continente. Para se manter dentro do Tratado Antártico com o status que tem hoje, o Brasil precisa continuar realizando pesquisas de qualidade na região, até pelo menos a primeira revisão do acordo, prevista para 2048. É a ciência a serviço de um futuro diverso e sustentável, apartado do negacionismo espraiado nos últimos anos.

Publicado em VEJA de 14 de setembro de 2022, edição nº 2806

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.