Em 2023, a Amazônia passou pela maior seca dos últimos 121 anos. Quase todos os municípios entraram em estado de emergência. Comunidades ficaram isoladas. A Defesa Civil precisou encaminhar cestas básicas e até o exército entrou em ação para levar provisões aos locais mais afastados. Grandes barcos não passavam pelo Rio Madeira, uma das estradas hidroviárias da região. A Amazônia concentra 20% de toda a água doce do planeta, mesmo assim a população local ficou sem água na torneira, devido ao longo período sem chuvas. Dessa seca histórica a imagem que ficou na memória, no entanto, foram os botos cor-de-cosa, um dos maiores símbolos na região, encalhados nos lagos quase vazios. Nunca os moradores viram tantos desses mamíferos aquáticos morrerem de uma só vez. Ao todo, o calor e a seca fizeram 330 vitimas.
A cena pode se repetir. O alerta vem do WWF-Brasil. Dados inéditos de uma plataforma desenvolvida pelo WWF-Brasil e pelo MapBiomas revelam o aumento da temperatura das águas de 23 dos 60 lagos da Bacia Amazônica, que possuem a mesma hidrogeomorfologia. A elevação se deve a crise hídrica, devido à seca que deve se estender até o fim de outubro. Como os rios estão com baixo nível de profundidade, as águas dos lagos a eles conectados ficam mais quentes.
Os registros apontam que todos os lagos monitorados estão com a temperatura acima da média acumulada dos últimos cinco anos, para o mês de agosto. “O mais preocupante é que, em 23 de setembro, 12 desses lagos já estavam com temperaturas acima dos valores observados em 2023, quando atingiram temperaturas extremas, que levou à morte dos botos da Amazônia”, afirma Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil e uma das coordenadoras da plataforma.
Lago Tefé: onde morreram mais boto em 2023
No Lago Tefé, por exemplo, onde morreram 209 botos no ano passado, as temperaturas estão 0,8°C acima da média dos últimos cinco anos e 0,2 °C acima de 2023, de acordo com os dados obtidos pela plataforma. “O problema é que ainda temos pela frente mais dois meses de estação seca na Amazônia e esses números são um indício de que no auge do calor, entre setembro e outubro, teremos temperaturas bem acima das registradas no ano passado”, diz Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Águas.
Foi justamente a morte dos botos que levaram as entidades desenvolverem um sistema de monitoramento da temperatura dos lagos. Ele permite a análise em tempo real para que ações sejam tomadas antes que as altas temperaturas façam novas vítimas.
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