Os Três Poderes: A nova relação de Bolsonaro com o Congresso e o STF
Depois de um período de instabilidade, o presidente sinaliza novo clima entre os Três Poderes
Não bastasse a crise econômica e sanitária decorrente da pandemia de Covid-19, o Brasil enfrentou recentemente um sério risco de ruptura institucional. Contrariado com decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que usurpariam competências do presidente da República e teriam o objetivo de desestabilizar o seu governo, Jair Bolsonaro radicalizou o discurso, redobrou a aposta no confronto e — com base numa interpretação capenga da Constituição — cogitou usar as Forças Armadas para intervir no Poder Judiciário. As ameaças eram feitas à luz do dia. Em abril, Bolsonaro participou de uma manifestação em frente ao Quartel-General do Exército que pedia, entre outras coisas, o fechamento do Supremo e do Congresso.
Mas para sorte do país, o momento, agora, é outro. Premido pelas circunstâncias, Bolsonaro deixou de lado o radicalismo e substituiu a estratégia do confronto pela negociação política, aquela que ele, como candidato, dizia repudiar. O resultado, por enquanto, é positivo: o cenário de instabilidade de meses atrás deu lugar à retomada do diálogo entre as autoridades dos três poderes, o que abre espaço para que elas possam finalmente concentrar energia nas demandas mais urgentes do país, da recuperação econômica ao combate da desigualdade social, passando pela modernização do Estado. “Sem a política, não há como fazer nada. Se fica um com birra para cá e o outro com birra para lá, sem conversar, o Brasil perde muito”, afirma o senador Renan Calheiros (MDB-AL), um dos mais experientes parlamentares do país, que até ontem se alinhava com a oposição. Desde o início de seu mandato, Bolsonaro nunca fez tanta política como agora. Nos últimos dias, ele escolheu um nome para o cargo de ministro do Supremo que agrada tanto a integrantes da Corte quanto a congressistas, inclusive do PT. Por meio de aliados, Bolsonaro também reuniu numa mesma mesa o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, que ficaram praticamente um ano inteiro trocando provocações e impropérios em público.