Liberado para menores
O consumo de bebidas alcoólicas aumentou apenas entre as meninas menores de idade nos últimos anos
Estudo realizado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), com base em dados do IBGE, mostrou que 25,1% das garotas com idade entre 13 e 15 anos bebem ao menos uma dose por mês — há uma década, eram 20%. Entre os garotos, o índice é de 22,5% — dez anos atrás, batia nos 28%. A mudança ilumina um novíssimo problema: elas bebem mais do que eles. Com uma agravante, a título de comparação: os índices nacionais ultrapassaram os dos Estados Unidos. Entre os americanos com idade até 15 anos, o consumo não passa de 10% para ambos os sexos, de acordo com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.
“Tomei meu primeiro gole com 11 anos de idade, na festa junina dentro do meu prédio. Uma amiga minha desceu com uma vodca docinha que ela pegou na casa dos pais. Gostei de cara do sabor e da sensação”, diz A.H., de 15 anos, de São Paulo. “Aos 15 já bebia com os amigos da escola, sempre na casa de alguém da turma. Fazíamos isso pelo menos uma vez por semana. Rolava todo tipo de bebida”, afirma S.D., de 17 anos, do Acre.
A precocidade na idade é espantosa. O estudo do Cisa revelou que a meninada começa a beber aos 12 anos e meio. Os riscos para a saúde são imensos. Os órgãos ainda estão em formação, em especial o cérebro, a caminho da organização neuronal. “Expor o cérebro do adolescente à bebida alcoólica faz com que ele supervalorize o prazer químico do álcool”, diz Ludhmila Abrahão Hajjar, intensivista do Hospital Sírio-Libanês e do Instituto do Coração, em São Paulo. Trabalhos científicos mostram que uma pessoa que passa a beber regularmente antes dos 15 anos corre risco cinco vezes maior de se tornar dependente em relação a quem começa a beber aos 21 anos. A vulnerabilidade feminina, nesse aspecto, é notória. O organismo da mulher tem quantidades menores de enzimas responsáveis pela metabolização do álcool, o que faz com que a substância demore mais tempo para ser eliminada.