Tinta branca ajuda a determinar origem de obras dos mestres holandeses
Estudo da Universidade de Vrije, em Amsterdã, mostra como o chumbo usado no pigmento pode servir como ferramenta de autenticação de pinturas
Cientistas da Universidade de Vrije, em Amsterdã, na Holanda, realizaram um estudo que mostra como a tinta branca de chumbo, usada em pinturas desde a antiguidade até o século XX, pode determinar quando e onde as obras foram feitas e, assim, confirmar sua autenticidade. Trata-se de um pigmento feito de pó à base de chumbo misturado com óleo de linhaça ou aglutinante equivalente. Uma análise química ajuda a determinar a origem geográfica do minério, a partir do rastreamento das rotas comerciais por onde passou.
Publicada no início de dezembro na revista científica Science Advances, a pesquisa analisou 77 pinturas de 27 artistas holandeses. Os pesquisadores da VU e os conservadores dos museus holandeses Rijksmuseum, em Amsterdã, e Mauritshuis, em Haia, coletaram amostras de branco de chumbo de pinturas autenticadas da chamada Era de Ouro, com data de produção conhecida. Durante este período, artistas como Frans Hals, em Haarlem, e Rembrandt van Rijn, em Amsterdã, produziram arte financiados por mecenas endinheirados. As análises revelam mudanças significativas na composição isotópica do chumbo usado nos pigmentos brancos no início, meados e final do século XVII.
Os mestres holandeses tinham preferência pelo “branco de chumbo”, usada para iluminar e definir suas composições, em dramáticos contrastes de luz e sombras. Os cientistas associaram essas mudanças ao uso de diferentes fontes de chumbo em resposta a eventos sócio-políticos históricos. Por exemplo, o período de 1642-47 coincide com a Guerra Civil Inglesa, quando a demanda aumentou e a produção do minério na Inglaterra, o maior produtor europeu na época, foi significativamente prejudicada. Após a década de 1670, os conflitos entre ingleses, holandeses e franceses causaram, sem dúvida, alteração nas rotas do minério.
As mudanças observadas permitem a identificação de grupos artísticos específicos que estavam ativos em regiões onde diferentes fontes de chumbo eram usadas para produzir o pigmento. O estudo também mostra como a análise química pode ser usada para diferenciar entre as primeiras e as últimas obras de um artista. Pinturas de F. J. Post, D.D. van Santvoort e Rembrandt registram diferentes composições em seus primeiros e últimos trabalhos. Esse controle será útil para historiadores de arte examinarem a escala de tempo para o desenvolvimento da obra de um artista.