Na era digital atual, a impressão que se tem é que o hardware ficou para trás do software. Considerando que um smartphone é capaz de executar diferentes programas, com inúmeras funções e serviços, é de se imaginar que os usuários queiram se limitar em ter um só dispositivo que se torna multifuncional por meio de aplicativos. Mas esse cenário tende a mudar um pouco. Espera-se que com a chegada da internet das coisas (IoT), o momento onde até eletrodomésticos como micro-ondas, geladeira ou máquina de lavar se conectam com a rede, o mercado de hardware tenha um crescimento de 20% ao ano, até 2022, com a vendas dos dispositivos conectados.
Aproveitando a previsão de que os gadgets terão um novo momento, a startup brasileira Shopper, que opera um site de compras de supermercado por aplicativo, lançou o primeiro dispositivo doméstico de IoT criado em solo nacional. Com o nome de Appius, em homenagem ao engenheiro romano Appius Claudius Caecus, que construiu o aqueduto que automatizou o abastecimento de água em Roma, o dispositivo que se parece com um escâner de códigos de barras tem a função de criar uma lista de compras de tudo que é consumido com recorrência em uma casa. Para entender melhor: a ideia é grudar o Appius próximo da lixeira, para que quando uma embalagem for descartada, seja possível “bipa-la” pelo escâner, que ficará encarregado de fazer a reposição automática por meio do aplicativo da Shopper.
“Percebemos que, apesar de todo o avanço tecnológico das últimas décadas, a forma como abastecemos nossas casas ainda é a mesma. Quando as pessoas constituem famílias, a responsabilidade de manter a casa abastecida geralmente fica na mão de apenas uma pessoa. O problema é que cada família consome de 25 a 60 tipos de produtos diferentes. Logo, é quase impossível lembrar de tudo”, afirma o economista Fábio Rodas, presidente da Shopper. Os dispositivos Appius serão entregues gratuitamente para clientes da Shopper, contudo, é possível que alguns interessados no dispositivos tenham de esperar para ter um em casa devido ao limitado número de unidades que foram fabricadas.
Fundada em 2015, a empresa que atua em São Paulo segue um modelo de negócio inspirado no Subscribe & Save (“Assine e Poupe”), estabelecido pela gigante de comércio eletrônico Amazon. O serviço consiste em programar as entregas de produtos favoritos e, como incentivo, pagar até 15% a menos.
A partir da primeira compra, o usuário entrará em um modelo de recorrência mensal. Uma notificação será mandada ao seu smartphone alguns dias antes de a entrega inicial completar 30 dias. É possível cancelar o serviço de vez ou apenas mudar itens da cesta. Também dá para programar o melhor canal de lembrete mensal, desde notificação do celular e WhatsApp, até ligação telefônica.
Nos EUA, algo similar ao Appius surgiu há cerca de 4 anos. Os chamados ‘dash buttons’, da Amazon, serviam para pedir a entrega de produtos para a varejista, com a diferença de que cada produto possuía um botão exclusivo. Ao preço próximo de 20 reais por botão, o serviço foi encerrado em 2019 devido à chegada de novas tecnologias de reposição, mais fáceis de usar, e também mais úteis (caso dos assistentes virtuais fabricados pela própria Amazon, assim como pela Google). No caso da empresa de Jeff Bezzos, pedir para que a assistente virtual Alexa faça a compra do produto é ainda mais fácil do que aperta um botão.