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Zuckerberg, do Facebook, admite: “Não sou o mensageiro ideal”

Perante o congresso dos EUA, o CEO da marca defendeu o lançamento da moeda digital Libra e alertou sobre um possível domínio da tecnologia pela China

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 19h37 - Publicado em 23 out 2019, 17h19

Nesta quarta-feira 23, o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, pôs a cara a tapa no Congresso americano, mais uma vez: em uma audiência realizada pelo Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, tentou, por quase cinco horas, convencer de que o plano de lançar a criptomoeda Libra, que funciona aos moldes do bitcoin, beneficiará milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente aqueles que não possuem acesso a um banco e a uma economia estável como a dos Estados Unidos. Diante das desconfianças que cercam seus negócios, implementou o tom de corrida econômica, e defendeu que a tecnologia por trás de uma moeda virtual deve ser desenvolvida por uma empresa americana ou se enfrentará o risco de o feito ser promovido pelo Partido Comunista da China, que não compartilha dos mesmos valores liberais que os EUA.

“Acredito que isso é algo que precisa ser construído, mas entendo que não sou o mensageiro ideal no momento”, disse em seu discurso de abertura o jovem (35 anos), mas experiente, executivo. “Enfrentamos muitos problemas nos últimos anos, e tenho certeza que as pessoas desejam que seja qualquer um, menos o Facebook, que esteja ajudando a propor isso. Mas há uma razão pela qual nos preocupamos. E isso porque o Facebook é sobre colocar o poder nas mãos das pessoas”, completou. Ao considerar tais questões já de início, Zuckerberg admitiu as falhas cometidas por sua empresa no passado, se safando, em um certo nível, de que a discussão se voltasse somente a isso.

Do lado democrata, a atual pedra no sapato do Facebook que, liderados pela senadora Elizabeth Warren, sinalizam a intenção de separar o Facebook do Instagram, a deputada Maxine Waters, presidente do Comitê, levou outros parlamentares a destacarem os temores de que a Libra pudesse ameaçar a privacidade das pessoas. Ao mesmo tempo em que, pela tese democrata, prejudicaria a segurança nacional dos EUA ao servir de ferramenta para que criminosos movimentem dinheiro.

Porém, rapidamente a audiência expandiu o foco, e partiu para as frustrações ainda não superadas da política americana com o Facebook. Waters citou de forma negativa o último movimento da empresa, que divulgou ter desarticulado uma rede de interferência internacional — na segunda feira (21), em conferência telefônica da qual VEJA participou, o CEO explicou como o Facebook se livrou de perfis vindos da Rússia, Irã e China, que estavam preparados para agir em uma rede manipulação. Para a congressista, que ignorou a solução do Facebook para o problema, tudo era um sinal de que “malfeitores estrangeiros” estão de volta na rede social, quatro anos depois que os russos atuaram para prejudicar o pleito de 2016.

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Já entre os republicanos, a deputada Ann Wagner criticou o Facebook por não interromper a exploração infantil online e por servir como ferramenta para dividir o país ideologicamente, e foi acompanhada por outros colegas que citaram uma série de ocorrências que se passaram na rede social. O deputado Patrick McHenry, contudo, fez um contraponto sobre o objetivo da audiência, destacou que validar a Libra está mais para um assunto sobre permitir o progresso americano, do que para acertar regulações com fins de impedir inovações: “Me pergunto se vamos gastar nosso tempo tentando inventar maneiras de o governo centralizar e controlar quem, quando e como se pode inovar”. E, sabendo que falar sobre a moeda Libra era quase como falar na linguagem de libras para boa parte dos congressistas, Zuckerberg voltou a usar o sentimento nacionalista que havia proposto já de início, e se conteve em apontar que a empresa aprendeu a ser mais ágil na hora de encarar os problemas.

Ao fim da audiência, o executivo não parece ter convencido o congresso americano das suas mais recentes boas intenções. Apesar de ter se saído bem nas respostas, a democrata Waters, que elaborou um projeto de lei que proibiria empresas de tecnologia de ingressar nos negócios dos serviços financeiros, demostrou ter trabalhado para convencer outros congressistas de que os planos do Facebook não são nada bons para o mundo. Além disso, fora da política, um total de 46 procuradores de diferentes partes dos Estados Unidos já ingressaram em uma investigação antitruste liderada pela promotoria de Nova York, o que significa que o processo pode expandir para quase todo os Estados Unidos.

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Nesse ponto, Zuckerberg antecipou sua defesa na última quinta-feira 17, quando realizou um pronunciamento na Universidade de Georgetown defendendo que a manutenção do Facebook como é hoje é uma manutenção dos valores que fundaram aquele país. “Alguém me disse que os Founding Fathers viam a liberdade de expressão como o ar. Ninguém sente falta, até que suma”, disse em primeiras palavras que caminharam, em resumo, no sentido de que a rede social seria uma forma de “dar voz” e “garantir a liberdade de expressão”.

Ainda assim, seu novo projeto deve enfrentar problemas muito além das regulações estatais. Na semana passada, foi divulgado que Visa, MasterCard, PayPal, eBay, Booking, Mercado Pago e Stripe decidiram abandonar Zuckerberg na empreitada, apesar de outros 21 parceiros ainda estarem no navio. Mesmo com a notícia, manteve-se a intenção de lançar a Libra em junho de 2020, pois até lá se espera ter conseguido todas as aprovações que forem julgadas necessárias.

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Para que ocorra tudo dentro do previsto, foi formado recentemente um conselho de administração em Genebra que, apesar da eleição da cidade suíça como sede e de se propor em ser uma moeda global, não consegue disfarçar que a Libra se trata exclusivamente de um plano de liderança tecnológica para os EUA. Aliás, como também bem destacou Zuckerberg nesta quarta-feira 23.

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