O Japão lança o trem-bala mais rápido do mundo
Transporte chega a 360 quilômetros por hora, resiste a terremotos e leva as ferrovias para uma nova era
Apesar de ser popular em diversos países, o transporte de passageiros por ferrovias não costuma receber o crédito que merece. Enquanto a maioria das pessoas associa inovação apenas à indústria automotiva e ao setor aéreo, os trens raramente são reconhecidos como grandes incentivadores do avanço tecnológico. Nada mais equivocado. Se os carros e aeronaves autônomos estão longe de se tornar realidade, locomotivas que circulam sem condutores são cada vez mais comuns. Enquanto os automóveis elétricos avançam a baixa velocidade, as redes ferroviárias foram eletrificadas há décadas, como parte do esforço para reduzir as emissões tóxicas. Embora os recursos digitais predominem nos aviões, os vagões das principais companhias ferroviárias são monitorados por sistemas de computação que interpretam remotamente ao menos 200 parâmetros. A mais recente contribuição das ferrovias para o desenvolvimento tecnológico surgiu com o lançamento do N700S, o novo e futurista trem-bala japonês.
Poucas vezes um trem gerou tanta expectativa entre os especialistas quanto o N700S. Sua produção foi mantida em segredo durante três anos pela companhia ferroviária Central Japan Railway, que chegou a proibir os funcionários de dar entrevistas sobre o projeto. Com previsão de inauguração na Olimpíada de Tóquio, o N700S (“S” de “supremo”, segundo a Japan Railway) teve seu cronograma mantido apesar do adiamento dos Jogos, que começariam neste mês. De fato, a ansiedade era justificada. O novo trem-bala não é apenas mais veloz que seus antecessores — chega a 360 quilômetros por hora, um recorde no sistema ferroviário japonês —, é também o primeiro a usar baterias de íons de lítio, que permitem que ele se mova mesmo se houver um blecaute. Isso é especialmente decisivo em situações de emergência, como os terremotos que, não raro, atingem o país. A versão recém-apresentada conta também com um sistema de controle automático e frenagem mais avançado que o dos antecessores. Se for preciso parar rapidamente, a resposta do trem é imediata.
O N700S não é a única inovação que os japoneses pretendiam exibir ao mundo na ocasião da Olimpíada. Na cerimônia de encerramento dos Jogos do Rio, em 2016, os organizadores da Tóquio-2020 — que ficou para 2021, se o coronavírus der trégua — disseram que fariam do evento o mais tecnológico da história. Embora os organizadores sejam evasivos a respeito do que estão preparando, a ideia é surpreender os visitantes. Uma das expectativas é que carros autônomos circulem pelas arenas olímpicas, mostrando ao mundo a revolução em curso na indústria automobilística. Outra novidade poderão ser os equipamentos de tradução que seriam usados pelos voluntários para converter idiomas e facilitar a comunicação. Os japoneses planejavam repetir a história. Na Olimpíada de 1964, também em Tóquio, lançaram o primeiro trem-bala do mundo. Desta vez, a pandemia do coronavírus mudou tudo, mas o N700S mostrou que o Japão continua no trilho certo.
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Clique e AssinePublicado em VEJA de 15 de julho de 2020, edição nº 2695