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Lançamentos do PlayStation, Xbox e Atari acirram guerra nos games

Na disputa pelo bilionário e competitivo mercado, Microsoft e Sony lançam novos consoles, enquanto a velha Atari volta à cena

Por João Varella
Atualizado em 13 nov 2020, 09h18 - Publicado em 13 nov 2020, 06h00
SPIDER-MAN: MILES MORALES – (//Divulgação)

Lá pelos idos dos anos 1990, na pré-história das diversões eletrônicas, houve uma guerra que parecia antecipar o fim do mundo, entre os personagens japoneses Mario e Sonic — um deles defendia as cores da Nintendo e o outro, da Sega. Houve sangue, suor e lágrimas, mas aquele embate pelo mercado, sem vitoriosos, é fichinha perto do que virá por aí. Neste mês, Microsoft e Sony atualizam seus dispositivos PlayStation e Xbox com tecnologia que promete revolucionar a maneira de jogar videogame. Elas não estão sozinhas. A Atari, a marca que inaugurou a indústria nos anos 1970, ensaia um retorno, e também com proposta inovadora.

Essas empresas estão de olho em um mercado de 175 bilhões de dólares que cresce, em média, 20% ao ano, segundo projeções da Newzoo, consultoria da área de e-sports. Trata-se do ramo do entretenimento mais valioso do mundo. Hoje, o Brasil ocupa a 13ª posição no ranking mundial, com movimento anual de 1,5 bilhão de dólares, ocupando o posto de principal mercado da América Latina. De acordo com a pesquisa BGS/Datafolha, 67 milhões de brasileiros jogam videogame no tempo livre.

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XBOX SERIES S E XBOX SERIES S – (./Divulgação)
THE TOURYST – (//Divulgação)
FORZA HORIZON 4 – (//Divulgação)

Microsoft e Sony são atualmente as responsáveis por ampliar os limites do entretenimento digital em aspectos técnicos, artísticos e econômicos. Agora, com o lançamento do PlayStation 5 e dos Xbox Series S e X, o mundo do videogame prende a respiração. “O PlayStation venderá mais que o Xbox, mas a diferença entre eles será menor do que na geração anterior”, diz William D’Angelo, analista da VGChartz, especializada em monitorar o segmento. Em comum, os novos consoles trazem gráficos avançados e um sistema de armazenamento diferente. Em vez de HDs, eles operam com SSD, formato que permite ao videogame acessar dados mais rapidamente. Com o SSD, as telas de carregamento — quando o game pede uma pausa para carregar o conteúdo — devem ser reduzidas a poucos segundos ou até completamente eliminadas, o que abre um vasto campo de possibilidades para os desenvolvedores.

Foi o que ocorreu quando os videogames trocaram os cartuchos pelos CDs na década de 90. A mudança permitiu, por exemplo, a exibição de filmes para contar histórias. “A questão é que o mercado pode não ser grande o suficiente para os competidores seguirem exatamente a mesma estratégia”, diz Tom Wijman, analista de jogos da Newzoo. As principais armas do PlayStation para manter seu domínio são os jogos exclusivos da plataforma. Títulos como The Last of Us, God of War e Horizon Zero Dawn estão entre os mais celebrados dos últimos anos. E o PlayStation 5 chega com Spider-Man: Miles Morales, continuação de Marvel’s Spider-Man, um campeão de vendas. O novo game coloca os jogadores balançando em Man­hattan com visual de tirar o fôlego, além de povoar a região com vilões que garantem a ação.

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Se a Sony é cinema, a Microsoft é Netflix. Há alguns anos, a plataforma Xbox corrigiu tropeços e passou a priorizar a relação custo-benefício. Para isso, o carro-chefe é o serviço Game Pass. Por mensalidades que variam de 30 reais a 45 reais, ele dá acesso a centenas de jogos. A Microsoft disponibiliza todos os seus lançamentos diretamente na plataforma, incluindo títulos de séries como Gears e Forza Horizon. Agora, a tendência é o leque ficar ainda mais amplo graças a uma recente parceria com a produtora EA. Com isso, os assinantes também passam a ter acesso a games populares como Fifa e Star Wars. A busca por novos usuários levou a Microsoft a criar estratégias inusitadas, como oferecer acesso ao Game Pass como brinde de chicletes e desodorantes.

ATARI VCS ONYX 400 – (//Divulgação)
MISSILE COMMAND RECHARGED – (//Divulgação)

O Xbox Series S, mais modesto, chegará ao mercado por 2 799 reais, enquanto o modelo Series X, com configurações mais parrudas, custará o equivalente ao PlayStation 5 (em torno de 4 600 reais). “O desenvolvimento de dois consoles em paralelo nos permitiu oferecer o hardware mais poderoso de todos os tempos no Xbox Series X e tornar a próxima geração de jogos disponível para mais jogadores com o lançamento do Xbox Series S”, afirma Bruno Motta, gerente-sênior de Xbox no Brasil.

Há quem torça pelos dois lados no campo de batalha. É o caso da desenvolvedora Ubisoft, que publica seus jogos em todos os sistemas. O diretor da empresa para América Latina, Bertrand Chaverot, reconhece, no entanto, que o preço elevado dos jogos no Brasil é um entrave que acaba impedindo o crescimento ainda mais intenso do universo de games. “Não há muito que fazer, o mercado é mundial”, diz ele, apontando a alta do dólar como um dos responsáveis pelo aumento dos valores.

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O executivo afirma que a Ubisoft planeja lançar o seu próprio “Netflix de jogos” no Brasil, o UPlay+, mas ainda não há data para isso. A curto prazo, o certo é que a multinacional francesa apresenta neste fim de ano três grandes produções para todos os novos aparelhos: Watch Dogs: Legion, Assassin’s Creed Valhalla e Immortals Fenyx Rising.

Se o mercado de games chegou a esse estágio avançado, é porque alguns pioneiros deram passos importantes décadas atrás. A primeira a transformar videogame em um negócio rentável foi a Atari, que em 1972 tomou os bares americanos com o fliperama Pong — aquele da bolinha que era rebatida de um lado para o outro da tela. Inspiradora do modelo descolado que seria adotado por startups décadas depois, a empresa lançaria na segunda metade dos anos 1970 o console Atari 2600. Foi uma verdadeira febre mundial, que acabaria chegando ao Brasil no começo dos anos 80. Depois de muitos altos e baixos — provavelmente mais baixos —, a Atari ressurge para lançar um console e, quem sabe, participar da guerra.

NOS ANOS 70 - Família joga Atari: a precursora se tornaria uma febre mundial – (Interfoto/Fotoarena)

O renascimento da marca se deve ao francês Frédéric Chesnais, que tirou a empresa de uma concordata em 2013. Com estrutura bem mais modesta do que nos tempos áureos, a nova Atari foi obrigada a recorrer ao crowdfunding, a vaquinha virtual, para financiar seus projetos. Em 2018, os apoios somaram 3 milhões de dólares para a manufatura de um novo aparelho, batizado de Atari VCS. O dispositivo deveria ter sido entregue há cerca de um ano aos financiadores. Postagens no blog da empresa dão diversas justificativas para o atraso, incluindo a falta de certos componentes.

Se chegar ao mercado americano neste final de ano, conforme prometido pela empresa, o aparelho terá preço similar ao do Xbox e PlayStation. “Queremos oferecer uma plataforma aberta”, disse Chesnais em entrevista recente. O diferencial é a proposta híbrida entre computador e videogame nostálgico. É possível instalar qualquer sistema operacional nele, como o Windows, o que permitirá acesso a uma infindável ludoteca. Ao mesmo tempo, ele virá com acesso a uma coleção de 100 jogos clássicos da Atari. “Esse nível de modularidade é incomum para consoles”, afirma Wij­man, da Newzoo. “Não esperamos que isso tenha um apelo generalizado”.

Como ousadia pouca é bobagem, a Atari acionou criptomoedas à sua estratégia. O sistema do videogame permitirá a compra de produtos com Atari Tokens, uma espécie de bitcoin próprio que a empresa pretende transformar em moeda-padrão para a compra de novos jogos. Evidentemente, a Atari é a empresa que dispõe de menos munição na guerra dos videogames, mas essa é uma batalha que está longe de terminar.

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Publicado em VEJA de 18 de novembro de 2020, edição nº 2713

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