“A única opção para a viagem ultrarrápida.” Foi assim que o bilionário sul-africano Elon Musk definiu o Hyperloop, novo meio de transporte apresentado em 2013. Trata-se de uma espécie de trem que se locomove sem atrito com os trilhos, levitando em túneis de vácuo. No mês passado, o protótipo foi testado com passageiros pela primeira vez — não pela SpaceX, empresa de Musk, mas pela Virgin, conglomerado de outro bilionário famoso, o britânico Richard Branson.
O Hyperloop é apenas um entre os muitos planos de Musk, conhecido por sua inventividade nos negócios. O projeto em si, entretanto, é open source, ou seja, aberto para a sociedade — pode ser explorado por qualquer um. Uma vez que o bilionário sul-africano está agora mais focado no Starlink (rede de satélites para prover internet rápida), carros elétricos e foguetes para ir a Marte, Branson parece ter tomado a dianteira no transporte ultrarrápido terrestre.
O dono da Virgin é frequentemente comparado a Musk, e vice-versa: ambos são self-made men — homens que se fizeram sozinhos pelo talento — e têm planos ambiciosos em relação à exploração espacial. Mas, enquanto Branson ainda deve a nave que fará voos suborbitais turísticos ao preço de 250 000 dólares por cabeça, Musk já consegue transportar astronautas da Nasa até a Estação Espacial Internacional utilizando o foguete Falcon 9 e a cápsula Dragon, ambos da SpaceX.
Em novembro, no deserto do estado de Nevada, Estados Unidos, a Virgin deu o troco, realizando o bem-sucedido teste do protótipo do Hyperloop. Josh Giegel, diretor de tecnologia, e Sara Luchian, diretora de transporte, ambos funcionários da Virgin, estrearam o novo meio de transporte e puderam sentir na pele a sensação de viajar a 172 quilômetros por hora. A cápsula em que se acomodaram, cuja versão final deve comportar mais de vinte passageiros, percorreu em quinze segundos um tubo de 500 metros.
O Hyperloop funciona com base na diferença de pressão gerada pelo túnel a vácuo. Durante o percurso, o ar vai sendo retirado por bombas de sucção, fazendo com que a cápsula seja puxada, em vez de impulsionada, como é o caso da maioria dos veículos. Em vez de trilhos convencionais, ela é levitada e guiada por campos eletromagnéticos. Sem atrito com a superfície nem a resistência do ar, poderia chegar, pelo menos teoricamente, a 1 000 quilômetros por hora, usando pouca energia, praticamente apenas para suprir as bombas de vácuo. Apesar de cada cápsula comportar poucos passageiros, o sistema poderia lançar uma atrás da outra, em intervalos pequenos, como um brinquedo de parque de diversões. Pense em uma mangueira puxando gasolina do tanque: depois que tirar o ar do tubo, o líquido começa a fluir sozinho.
O percurso de meio quilômetro em Nevada é curto, mas as ambições da Virgin vão longe, com ligação entre cidades. De Hyperloop, o trajeto de 400 quilômetros de São Paulo ao Rio de Janeiro, por exemplo, levaria apenas 25 minutos. É verdade que um jato comercial, que não precisa de toda a estrutura do tubo, faz a mesma viagem em cerca de quarenta minutos, mas é preciso levar em conta o tempo consumido no embarque e desembarque, além dos imprevistos meteorológicos. Além disso, meios de transportes costumam se complementar. Luchian, a executiva e passageira do primeiro teste, lembra que alternativas são necessárias, dado o aumento da população mundial.
Em julho, o departamento de transporte americano regulamentou alguns aspectos do novo modal, sinalizando que ele deve se tornar realidade nos próximos anos. O objetivo da Virgin é certificar e operar seu Hyperloop até 2025. A implementação de um percurso de cerca de 500 quilômetros geraria receitas de aproximadamente 300 milhões de dólares por ano em venda de passagens. Por outro lado, o investimento de 5 bilhões de dólares constitui um gigantesco desafio.
O Brasil deve ser incluído no rol de países com potencial para receber a tecnologia. Em entrevista recente, Dirk Ahlborn, americano fundador da Hyperloop TT (outra desenvolvedora do sistema), afirmou que a proposta de construção pode chegar ao país nos próximos cinco anos, na segunda rodada de investimentos pelo planeta. Resta saber se a versão brasileira terá o mesmo destino do trem-bala São Paulo-Rio, gestado em planos mirabolantes que nunca saíram do papel.
Publicado em VEJA de 23 de dezembro de 2020, edição nº 2718
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