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Grabr: o uber da muamba

Serviço faz a ponte entre interessados em produtos importados com preço camarada e viajantes dispostos a transportá-los, em novo modelo de negócio

Por Larissa Quintino Atualizado em 4 jun 2024, 15h19 - Publicado em 25 out 2019, 07h00
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    CAIXEIRO-VIAJANTE – Tassio Luz: 500 dólares de gorjetas a cada viagem (Emiliano Capozoli/.)

    Aplicativos que conectam passageiros a motoristas se tornaram rotina entre os brasileiros, da mesma forma que vicejam por aqui plataformas que conectam pessoas com necessidades específicas a outras interessadas em prestar determinado serviço — raciocínio que vale, por exemplo, para donos de pets e passeadores de cachorros ou desenvolvedores de soft­ware e empreendedores. Em meio à capacidade infinita da internet de gerar fenômenos empresariais e de consumo, um novo ramo de atividade caiu no gosto dos brasileiros. Trata-se do crowdshipping (ou despacho compartilhado), pelo qual uma plataforma digital conecta consumidores interessados em comprar produtos vendidos em determinado país com viajantes dispostos a trazê-los por um dinheirinho extra. O aplicativo mais conhecido nesse tipo de intermediação é o Grabr, criado por uma dupla de russos nos Estados Unidos, que já é um sucesso indiscutível no Brasil. Nos últimos doze meses, os negócios da empresa no país cresceram 225% , cifra que alavancou a participação dos brasileiros em sua base de clientes globais a 48% do total. “A possibilidade de economizar e de pagar por um produto estrangeiro em reais e a busca por novidades tecnológicas são os grandes atrativos da plataforma”, afirma Ivan de Castro, responsável pelo marketing do Grabr no país.

    A mecânica do aplicativo é simples. Por meio de um computador ou smartphone, o usuário se cadastra na plataforma e identifica o produto que deseja e o país de onde quer trazê-lo, inserindo o endereço de uma loja on-­line que tenha a mercadoria em estoque. Com a informação, o programa notifica viajantes cadastrados que estejam indo ao exterior ou voltando de lá, para que eles tragam a encomenda. Ao aceitar o pedido, o turista se transforma em portador e recebe do interessado cerca de 15% do valor da compra. O cliente, então, faz o pagamento através da própria plataforma, e assim se protege de golpes — o entregador efetua a compra com dinheiro do próprio bolso e só recebe o reembolso quando o produto é entregue, juntamente com sua gorjeta. No Brasil, o pagamento pode ser feito em até doze vezes no cartão de crédito. Em caso de problemas com o pedido ou a entrega, o aplicativo reembolsa os valores pagos, garantindo a segurança das transações.

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    SUCESSO DE VENDAS – Lançamento do iPhone 11 em loja da Apple em Nova York: o produto está na lista dos brasileiros (./.)

    A maioria dos pedidos do Grabr é atendida por pessoas que viajam aos Estados Unidos, principalmente Miami e Orlando. Por isso datas tradicionais de descontos na terra do Mickey, como a Black Friday (em 29 de novembro) e o Amazon Prime Day (em julho), provocam um aumento de até 60% nas transações pelo aplicativo. Mesmo fora das temporadas de ofertas, as compras valem a pena (confira o comparativo abaixo). O item mais comprado no Grabr, por exemplo, é o Apple AirPods, fone de ouvido sem fio da fabricante de iPhones. No site da empresa nos Estados Unidos, é possível encontrar o produto à venda por 636 reais — a conversão do dólar é feita pela própria start­up. Com as taxas (recompensa para o viajante, imposto de compra nos Estados Unidos e conveniência do aplicativo), o item sai por 875 reais. No Brasil, o produto é vendido por exatos 1.011,99 reais pelo Magazine Luiza, já incluída a entrega em domicílio.

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    O casal Daria Rebenok e Artem Fedyaev decidiu criar o Grabr por necessidade própria, em 2015. Eles não conseguiam encontrar na Califórnia, estado americano onde viviam, um vinho que apreciavam muito e era vendido apenas na Espanha, onde haviam morado antes de emigrar para os Estados Unidos. Como não tiveram sucesso na busca de um portador para as garrafas em suas redes sociais, resolveram criar um sistema de compartilhamento de bagagem na rede — daí o nome de crowd­shipping dado a esse tipo de negócio. O modelo funcionou tão bem que já gerou filhotes: o aplicativo belga PiggyBee, que faz sucesso na Europa, e o brasileiro Wooboogie, que oferece o serviço a quem atravessa a fronteira entre Brasil e Argentina — o objetivo é alcançar toda a América Latina em breve. Até grandes empresas usam o crowdshipping para aproveitar a capilaridade do serviço. Companhias aéreas americanas como os gigantes Delta e United Airlines têm usado o aplicativo Roadie, também derivado da ideia dos russos, para encontrar viajantes que já estejam no aeroporto e se disponham a transportar e entregar as bagagens extraviadas a seus passageiros.

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    SEM RISCOS – Fila da alfândega em Guarulhos: o site aconselha a pagar taxas e respeitar os limites legais (Luiz Carlos Murauskas/Folhapress)
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    Para não enfrentar problemas com a Receita Federal, vale lembrar que cada cidadão só pode trazer 500 dólares em produtos estrangeiros sem precisar recolher impostos de importação em voos internacionais. A orientação do Grabr é que a pessoa não ultrapasse os limites alfandegários permitidos ou que inclua no custo de sua recompensa quanto vai gastar ao declarar o item. O professor de teologia Tassio Luz, 32 anos, por exemplo, afirma que só traz itens pequenos e que não ultrapassem os limites legais, para que a aventura não vire uma furada. “Gosto muito de cozinhar, então costumo escolher produtos de culinária para entregar”, explica Luz, que vai uma ou duas vezes por ano aos Estados Unidos e, a cada viagem, fatura cerca de 500 dólares de gorjeta pelas entregas via Grabr. No “uber da muamba”, como no Uber dos carros, ganha o consumidor, com o preço mais baixo, e ganha o viajante em um tipo de negócio que, sem o aplicativo, não existiria.

     

    Publicado em VEJA de 30 de outubro de 2019, edição nº 2658

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