Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Agora sem sotaque

Depois de trabalharem para estúdios de fora, os designers brasileiros estão investindo na produção nacional de games, que já ganham prêmios e se popularizam 

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 4 jun 2024, 15h48 - Publicado em 22 fev 2019, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Munida de uma mochila e vestida com um agasalho azul que contrasta com os longos cabelos ruivos, a pequena Madeline parte em busca de seu objetivo: escalar a misteriosa montanha Celeste. Sua maior adversária é uma versão malvada de si mesma, de olhos vermelhos e cabelos roxos, que dispara desincentivos como “você não é uma alpinista, você nunca vai conseguir”. Na jornada, Madeline conta com a ajuda de Theo, um rapaz descolado que chama o avô de “my vovô”. Sim, Theo é brasileiro — e, aliás, Celeste também foi feito aqui, duas novidades no mundo que estamos descrevendo: o planeta dos games, dominado por americanos, europeus e asiáticos.

    Lançado há um ano, Celeste foi considerado o jogo revelação de 2018, levando duas premiações no americano Game Awards, o Oscar do setor. O reconhecimento tem sido comemorado no Brasil como um marco do sucesso dos jogos nacionais, pois, apesar de ter sido feito por encomenda do produtor canadense Matt Thorson, que deu início à empreitada, o design nasceu e cresceu no estúdio paulista MiniBoss, dos sócios Amora Bettany, de 31 anos, Pedro Medeiros, de 32, e Heidy Motta, de 23. “Não fomos selecionados para os festivais nacionais, mas acabamos premiados lá fora. A indústria brasileira ainda enfrenta preconceito, mas a aceitação só aumenta”, diz Amora. Celeste, que é pago e está em começo de “carreira”, contabiliza 500 000 downloads no mundo todo.

    Conhecido celeiro de designers de jogos para estúdios estrangeiros, o Brasil passa por uma revolução no setor, com games feitos aqui e para o mercado daqui (embora os nomes em inglês revelem a ambição, claro, de repercussão mundial). A mudança é encabeçada por uma geração de programadores beneficiada pelos avanços da internet e mais bem preparada do que a dos desbravadores dos anos 1980. Em 2012, o lançamento de Knights of Pen and Paper, do estúdio brasiliense Behold, começou a virar o jogo ao alcançar mais de 3 milhões de downloads. “Levamos sete anos para produzir games autorais. Antes, só fazíamos trabalhos para empresas estrangeiras”, diz Saulo Camarotti, cofundador do estúdio. Seu carro­-chefe, o Chroma Squad, de 2015, custou cerca de 400 000 reais e já faturou mais de 8 milhões, além de vinte prêmios internacionais. O Horizon Chase, do Aquiris Game Studio, de São Paulo, um game de corrida que lembra os antigos Top Gear e Autorun, que foram febre nos anos 1990, é o campeão — ultrapassa os 12 milhões de downloads.

    De presença bem mais modesta nos celulares brasileiros, mas ainda assim relevante para o padrão local, o premiado Aritana e a Pena da Harpia tem índios e floresta no cenário e contabiliza 50 000 compradores (sem falar na pirataria que grassa no setor). “Aos poucos, o pessoal está deixando de achar que jogo brasileiro tem de ser sobre as aventuras do Saci”, brinca o youtuber e comediante Marcos Castro, do canal Castro Brothers. Ele e o irmão, Matheus, são responsáveis pelas músicas do game A Lenda do Herói, o primeiro jogo brasileiro a ser produzido integralmente através de financiamento coletivo — um sinal da boa recepção do público.

    Terreno fértil para a proliferação de games, o Brasil é hoje o 13º mercado do mundo, com quase 80 milhões de jogadores, que, no ano passado, movimentaram 740 milhões de dólares em jogos para celular e computador. Um levantamento feito em 2018 mostrou que o número de desenvolvedores formalizados dobrou em quatro anos e os empregos no ramo aumentaram 140%. Em dezembro, o Fundo Setorial Audiovisual, órgão da Agência Nacional do Cinema (Ancine), anunciou um investimento de 45,2 milhões de reais na produção e comercialização de jogos eletrônicos, a primeiríssima verba pública aprovada para projetos do gênero. “Com a proliferação das escolas de programação, o Brasil está criando uma mão de obra qualificada que ajuda os estúdios nacionais a fazer bons jogos”, diz Moacyr Alves Júnior, presidente da Associação Comercial e Industrial dos Jogos Eletrônicos. Ele lembra que países como Canadá, China e Coreia do Sul apostam com vigor nessa indústria. O Ministério da Cultura sul­-coreano tem um departamento específico para ela, o E-Sports. Quem disse que game não é coisa séria?


    500 000 downloads

    Chroma Squad
    (//Divulgação)
    Continua após a publicidade

    Paródia dos Power Rangers com referências aos animes, Chroma Squad faturou 8 milhões de reais, vinte vezes o que custou para ser produzido


    3 milhões de downloads

    Knights of Pen and Paper
    (//Divulgação)

    Criação de um estúdio de Brasília, Knights of Pen and Paper imita um jogo de tabuleiro do tipo RPG e foi o primeiro a fazer sucesso dentro e fora do Brasil


    12 milhões de downloads

    Horizon Chase
    (//Divulgação)
    Continua após a publicidade

    Inspirado nos jogos de corrida dos anos 1990, Horizon Chase tornou-se o grande recordista da produção nacional, sem nenhuma ação de marketing


    500 000 downloads

    Celeste
    (//Divulgação)

    Celeste, jogo em que uma menina escala uma montanha misteriosa, foi desenvolvido por designers de São Paulo e eleito o game revelação de 2018 no mundo

    Publicado em VEJA de 27 de fevereiro de 2019, edição nº 2623

    Continua após a publicidade
    carta
    Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA
    Continua após a publicidade

    Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br

     

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.