Cenas de um futuro bem pouco distante: você está caminhando pelas ruas de Moscou, quando depara com um restaurante que parece agradável. Para saber mais sobre ele, aponta a câmera do celular para a fachada e, pronto, seu aparelho reconhecerá o local, indicará resenhas registradas em sites e jornais, o tipo de comida e outras informações relevantes. Se houver um cardápio ou lousa com as sugestões do dia na entrada, basta tirar outra foto: o sistema reconhecerá o que está escrito, fará a tradução para o seu idioma e pode lhe mostrar fotos que ilustram aquele prato, ajudando a evitar uma roubada gastronômica. Algum cartaz informa o nome e a senha do wi-fi? Basta mirar de novo nessa imagem e o aparelho se conectará. automaticamente.
Os recursos descritos acima estão na tecnologia batizada de Google Lens (Lentes Google) e estarão disponíveis em breve para os usuários do Google Photos, o sistema de armazenamento de imagens do gigante digital, com 500 milhões de usuários e 1,2 uploads diários de imagens em todo o mundo. É, nas palavras da companhia, uma ferramenta voltada a “entender o que você vê e ajudá-lo a fazer algo a respeito”. Inclui ainda a descrição das imagens: é capaz de reconhecer os elementos de uma paisagem, das árvores a um carro que passe pelo local. É um sistema treinado, por exemplo, para diferenciar cachorros e gatos. E, por fim, pode aumentar a nitidez de fotos noturnas excessivamente pixelizadas e até eliminar barreiras indesejáveis de uma cena – em uma foto de jogo de futebol feita atrás do alambrado, o arame desaparece para exibir a cena.
A novidade foi uma das mais ruidosas durante os três dias da convenção Google I/O, no Vale do Silício, na Califórnia, entre 17 e 19 de maio. O evento anual, voltado a desenvolvedores, é tradicional por exibir novidades e atualizações importantes dos produtos da empresa.
O Google Photos trouxe mais atualizações de inteligência artificial, dessas assustadoras para os menos atualizados com os avanços da tecnologia. O álbum está programado para fazer uma seleção dos melhores cliques. Isso significa deixar de fora as cenas borradas e desfocadas, eliminar as cenas em que alguém piscou e, entre vários cliques semelhantes, captar a mais feliz. Sim, o algoritmo é treinado para ranquear a felicidade da turma, a partir da análise dos sorrisos contidos nos takes. Em conversa com a imprensa latino-americana, o gerente de produto Tim Novikoff fez um teste em sua própria galeria: pediu, por comando de voz, que fossem selecionadas imagens felizes, e uma longa sequência de pessoas com os dentes à mostra saltou da tela.
Um dos usos dessa seleção será o Google Books, outra novidade a ser lançada, por enquanto, apenas nos Estados Unidos. Por preços a partir de 9,99 dólares (o valor dobra se for de capa dura), o usuário recebe em casa um livro com as imagens que escolheu.
Ciúme de você
Nas outras novidades do pacote, está a ideia básica de incentivar o usuário a compartilhar mais as suas imagens. “ Se você abrir o celular de um amigo, verá várias fotos suas que nunca chegaram até você”, diz Janvi Shah, gerente de produto. Um dos recursos é a sugestão de imagens a ser encaminhadas a alguém, com base no reconhecimento facial. O sistema identifica que determinado amigo está na foto e sugere que esta seja disparada para ele. Surigiram rugas de preocupação entre os participantes do evento diante de outra possibilidade de uso do recurso: a de escolher uma pessoa para compartilhar sua biblioteca de fotos, todas ou de determinada categoria (como aquelas somente feitas em alguma cidade). O exemplo automático nas vezes em que a ideia foi apresentada é o compartilhamento entre casais, que podem selecionar apenas imagens de seus filhos, por exemplo. “O recurso permite aos pais ficar em contato com suas crianças mesmo que estejam distantes.” Uma das observações que foram repetidas à exaustão: o grande potencial de brigas de casal a partir de situações de ciúmes, com origens tão mais abrangentes na era de redes sociais.