Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Um susto esperado: o que explica a nova explosão de casos de Covid-19

Está de volta no mundo o temor de que o vírus tenha ganhado novo fôlego. Calma. É apenas um surto, como outros que virão

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h16 - Publicado em 18 nov 2022, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Há um ano, em um momento em que a Covid-19 parecia dar uma trégua e todos ansiavam por um fim de ano de celebrações, o mundo foi surpreendido pelo aparecimento de uma variante que rapidamente elevou os casos da doença. Era a ômicron, cepa do SARS-CoV-2, coronavírus causador da doença, que surgiu com enorme poder de transmissibilidade, porém menos letal do que as anteriores — alfa, beta, gama e delta.

    Dominante desde então, é ela que está por trás da nova escalada de casos verificada neste momento. Há crescimento em todos os lugares. O Japão não enfrentava altas desde setembro. Neste mês o índice oscila entre 30 000 e 78 000 diagnósticos diários. A Itália contabilizou, apenas na sexta-feira 11, mais de 181 000 registros. No Brasil, o último levantamento da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica mostrou que, entre o início de outubro e o de novembro, o índice de testes positivos passou de 3,7% para 23%. Os hospitais sentem os impactos da nova onda. Na Rede D’Or São Luiz e no Hospital Sírio-­Libanês, o total de pacientes internados com a doença quase dobrou em duas semanas. O Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, assinalou um aumento na taxa de positividade nos testes realizados nesse período de 2% para 34%.

    GUARDIÃO - Cérbero, o cão de três cabeças de Hades: porteiro do inferno -
    GUARDIÃO - Cérbero, o cão de três cabeças de Hades: porteiro do inferno – (Album/Fotoarena/.)

    O que está ocorrendo não é uma surpresa, mas é a primeira vez que o mundo experimenta o que é conviver com um vírus que veio para ficar. O receio é compreensível, mas convém não alimentar o pânico. Desde meados do ano passado, sabia-se que dificilmente apareceria uma cepa que levasse a outra interrupção das atividades cotidianas, mas, de quando em quando, surgiriam variantes ou sublinhagens mais ou menos barulhentas, capazes de provocar surtos como o atual. A entrada neste momento se dá justamente pela disseminação de sublinhagens da ômicron. E isso não acontece à toa. Identificada na África do Sul e em Botsua­na em novembro de 2021, ela foi a última a receber a designação de variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A análise genética à qual foi submetida apontou uma cepa completamente diferente das demais, mas o temor de que gerasse outra catástrofe sanitária se dissipou à medida que sua baixa letalidade ficou evidente.

    Contudo, a ômicron continuou circulando ativamente — hoje corresponde a praticamente 100% dos casos confirmados submetidos a sequenciamento genômico no mundo —, o que permitiu a ocorrência de diversas mutações. Uma das sublinhagens, em expansão há um mês, foi apelidada dramaticamente de Cérbero, referência ao mitológico cão de três cabeças que pertencia ao deus grego Hades e que tinha por função guardar a porta do mundo dos mortos. Na denominação científica, é chamada de BQ.1.

    Continua após a publicidade

    Felizmente, nenhuma das variantes da ômicron entrou no radar de alerta da OMS. No entanto, é natural que a explosão de casos assuste e traga à memória a angústia dos primeiros anos da pandemia. Mas há questões que precisam ficar claras. Primeiro, aquele momento dificilmente voltará. Entretanto, dado como certo que a Covid-19 está aí, a realidade exige mudanças de comportamento, quando necessárias, e o acompanhamento da doença por parte das autoridades de saúde, a exemplo do que se faz — ou do que se deveria fazer — com outras enfermidades.

    No que se refere à Covid-19, isso quer dizer que, em surtos, recomenda-se o uso de máscaras, como bem fizeram centenas de estudantes que se submeteram à prova do Enem no domingo 13, dando um belo exemplo e em contraponto à torcida que, no mesmo dia, lotou o Autódromo de Interlagos para o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, a maioria sem proteção. É compulsório, com crescimento ou não de casos, que todos mantenham a vacinação em dia. Os imunizantes, não é demais lembrar, são os grandes responsáveis pela redução expressiva de mortes causadas pela Covid-19: 90% entre fevereiro e novembro deste ano, segundo a OMS. Quando o esquema vacinal não está completo, o risco aumenta. Na cidade do Rio de Janeiro, 92% das pessoas agora internadas com a doença na rede pública não tomaram todas as doses. No estado de São Paulo, a primeira morte pela BQ.1 foi de uma mulher de 72 anos com comorbidades, que tinha tomado apenas três das quatro doses prescritas para casos como o dela. “O impacto em hospitalização e óbitos depende da cobertura vacinal e de quando a pessoa tomou a última dose”, diz Julio Croda, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

    MUDANÇAS - Torcida em Interlagos (à esq.) e vacinação em SP: eles deveriam ter usado máscaras e a adesão às doses de reforço precisa crescer no país -
    MUDANÇAS - Torcida em Interlagos (à esq.) e vacinação em SP: eles deveriam ter usado máscaras e a adesão às doses de reforço precisa crescer no país – (Fernando Bizerra/EFE; Danilo Verpa/Folhapress/.)

    O problema é que o cenário brasileiro é desanimador. Por mais que 80% da população tenha tomado as duas primeiras doses, as adicionais engatinham. De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 69 milhões de pessoas ainda não buscaram a primeira dose de reforço e mais de 32 milhões não receberam a segunda dose adicional. Outro gargalo é a imunização das crianças com mais de 6 meses e menos de 5 anos. As primeiras doses ainda estão chegando ao Brasil, e o ministério determinou que, por enquanto, fossem destinadas apenas ao público pediátrico com comorbidades.

    Na esfera de ações de cunho científico, duas iniciativas são imprescindíveis. Uma é o estabelecimento de uma rede de monitoramento do coronavírus para que nenhuma alteração genética escape aos sistemas de detecção. Esse trabalho vem sendo feito desde 2020 e os resultados abastecem a plataforma Gisaid, criada em 2008 para o compartilhamento de dados sobre o influenza, o vírus da gripe. Com a pandemia, ela se tornou base de informações sobre onde surgiam e circulavam as variantes e sublinhagens do coronavírus. Até agora, cerca de 14 milhões de sequências de genoma do SARS-CoV-2 foram submetidas à ferramenta. Nas Américas, o trabalho é realizado pela Rede Regional de Vigilância Genômica, com a participação da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto de Saúde Pública do Chile.

    Continua após a publicidade
    ESCALADA - Aumento de casos no Japão: até 78 000 novos diários -
    ESCALADA - Aumento de casos no Japão: até 78 000 novos diários – (Kimimasa Mayama/EFE)

    Informações desse gênero são ouro puro para o desenvolvimento de vacinas. As empresas Pfizer e Moderna criaram vacinas que incluem proteção contra a ômicron, já disponíveis nos Estados Unidos e em alguns países europeus. Estão em estudo, ainda, imunizantes que defenderiam de vários vírus, as chamadas vacinas “pan-Covid”. “Elas ofereceriam defesa contra a Covid-19, o influenza e o vírus sincicial respiratório, tão perigoso para os bebês”, afirma Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. O calendário vacinal contra o coronavírus não está definido, mas certamente virá acompanhado de boas novidades. E surtos finalmente deixarão de ser sustos.

    Colaborou Diego Alejandro

    Publicado em VEJA de 23 de novembro de 2022, edição nº 2816

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.