Indivíduos submetidos a eventos traumáticos na infância têm mais probabilidade de ter a função muscular prejudicada aos 70 anos ou mais, de acordo um um novo estudo publicado no periódico Science Advances.
Os pesquisadores analisaram amostras de tecido muscular esquelético de mais de 800 participantes para examinar se eventos adversos na infância — como abuso físico ou emocional — estavam associados a uma mudança em duas medidas de função muscular: a produção de adenosina trifosfato (ATP), que gera energia para as células, e a fosforilação oxidativa, um processo celular que ajuda a gerar ATP.
Essas funções ocorrem nas mitocôndrias, estrutura da célula que é a principal fonte de energia para a maioria dos processos bioquímicos e fisiológicos, incluindo crescimento, movimento e desenvolvimento muscular.
Os autores da descoberta afirmam que a função mitocondrial tem sido considerada como um possível mecanismo para entender como eventos estressantes da vida “penetram” a fundo para influenciar a saúde e o bem-estar físico. Nesse sentido, elas seriam capazes de detectar e integrar o estresse social em um nível celular. Em resposta ao sofrimento, incluindo o psicológico, as mitocôndrias passam por mudanças dinâmicas em sua estrutura, levando a alterações funcionais com possíveis repercussões clínicas.
Quanto mais traumas, menos energia celular
Entre os participantes, aqueles que experimentaram pelo menos um evento traumático no começo da vida tiveram pior produção de ATP e, consequentemente, menos combustível disponível para as células musculares. Isso permaneceu constante ao considerar fatores como sexo, idade e atividade física. Além disso, indivíduos que relataram experiências de vida estressantes na infância também relataram um maior número de sintomas depressivos.
A função mitocondrial naturalmente diminui com a idade e está associada a uma redução no desempenho muscular, mobilidade e fragilidade em adultos mais velhos. Portanto, os resultados do estudo sugerem que os episódios traumáticos da infância, cujas marcas podem se perpetuar ao longo da vida, acelerariam esse declínio na usina de energia das células.
Os autores afirmam que os resultados do estudo oferecem evidências preliminares para o papel específico que as mitocôndrias do músculo esquelético podem desempenhar na resposta biológica a eventos estressantes e adversos. Espera-se que novos trabalhos possam examinar até que ponto esses processos afetam células e tecidos e se haveria um modo de bloquear seus reflexos negativos.