Cientistas identificaram que pessoas com o tipo sanguíneo A, B ou AB têm 9% mais chances de sofrerem acidentes cardiovasculares do que pessoas com o sangue do tipo O. A pesquisa foi apresentada no último domingo, no IV Congresso Mundial de Insuficiência Cardíaca Aguda, organizado pela Sociedade Europeia de Cardiologia, e ainda será publicada em uma revista científica. Segundo a cientista Tessa Kole, da University Medical Centre Groningen, na Holanda e líder do estudo, como a evidência apareceu em estudos de caso, é necessário que se façam maiores pesquisas sobre o tema. “Se a relação de causa for confirmada, ela pode ter implicações importantes para a medicina personalizada”, disse Tessa, em menção ao modelo médico que leva em conta o contexto genético de cada paciente.
Na pesquisa foram analisados os dados de mais de 1,3 milhão de pacientes descritos em nove estudos publicados anteriormente, com 23 mil ocorrências e fatalidades cardiovasculares, como infarto do miocárdio (ataque cardíaco), doença arterial coronariana, cardiopatia isquêmica e insuficiência cardíaca. Correlacionando a incidência das ocorrências com os tipos sanguíneos, de maneira proporcional, os cientistas identificaram que pessoas que não tem o sangue do tipo O são mais propensas a desenvolverem doenças do coração.
A equipe ainda não identificou elo exato entre o tipo sanguíneo e o risco de acidentes cardiovasculares, mas possíveis explicações estão sendo estudadas. Uma delas é que tipos sanguíneos A, B e AB têm maiores concentrações de uma proteína de coagulação relacionada a trombose, chamada de Fator de von Willebrand e de uma proteína ligada a inflamação, a Galectin-3.
Tipo sanguíneo
O tipo sanguíneo é determinado pelo conjunto de anticorpos e antígenos presentes nas células do sangue. Essa característica é genética, sendo formada pela combinação entre os tipos sanguíneos do pai e da mãe. Pesquisas anteriores já indicavam uma relação entre tipos sanguíneos e doenças. Em 2012, um estudo identificou que pessoas com sangue do tipo A têm são mais suscetíveis a infecções por rotavírus. Em 2013, cientistas descobriram que ter sangue A, B ou AB pode aumentar em até 20% o risco de desenvolver trombose. Em 2015, verificou-se que pessoas com sangue do tipo O estão mais protegidas contra o Alzheimer.
“No futuro, o tipo sanguíneo deve ser considerado na avaliação de risco para a prevenção cardiovascular, assim como o colesterol, idade, sexo e pressão arterial. Pode ser que as pessoas do grupo sanguíneo A devem ter um limiar de tratamento inferior para hipertensão, por exemplo. Precisamos de mais estudos para validar se o excesso de risco cardiovascular em portadores de grupos sanguíneos A, B e AB pode ser passível de tratamento”, afirmou a pesquisadora Tessa Kole.