Acabou nesta terça-feira a operação de resgate que retirou de uma caverna inundada na Tailândia 12 meninos e o técnico do time de futebol juvenil. Enquanto a equipe médica tenta garantir as condições de saúde física dos jovens, especialistas dizem que o trauma mental que viveram desde o dia 23 junho – quando ficaram presos na caverna – pode ser o maior desafio daqui para frente.
Em entrevista à CBS News, Jessie Warner Cohen, psicóloga do Centro Médico Judaico de Long Island, nos Estados Unidos, ressaltou que as crianças foram colocadas em uma situação completamente aterrorizante sem saber o que poderia acontecer com elas, o que pode ter efeitos de longo prazo.
De acordo com Robert Glatter, médico de emergência de um hospital em Nova York, a realidade à qual foram submetidos pode fazer o cérebro reagir de maneira incomum. “Você começa a ter alucinações, vê coisas, ouve coisas. Não dá para ter noção de quem você é”, disse ao CBS This Morning.
Gatilhos
De acordo com Jessie, algumas situações da vida cotidiana podem servir como gatilho para trazer à tona sensações que os garotos viveram durante os dias em que ficaram presos, como ficar no escuro ou em lugar fechado. Outros fatores também podem acionar lembranças até mesmo anos depois. “No cérebro, o lugar que armazena memórias está ao lado do que armazena sensações traumáticas. Então, cheiros, imagens ou sons podem ser acionados ao longo da vida, por isso eles precisam receber assistência agora e, talvez, durante toda a vida”, comentou.
A idade dos garotos, que varia de 11 e 16 anos, também pode influenciar no modo como são afetados. O trauma pode moldar sua identidade a longo prazo, especialmente por estarem na pré-adolescência/adolescência, fases da vida em que a personalidade começa a se formar. Por outro lado, alguns especialistas acreditam que a resiliência natural dessa idade pode ajudar na recuperação psicológica.
Estresse pós-traumático
Apesar dessa característica, existe a possibilidade de os garotos desenvolverem transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), distúrbio caracterizado pela dificuldade em se recuperar depois de vivenciar ou testemunhar um acontecimento assustador.
Diante desta possibilidade, os pais e profissionais de saúde precisam estar atentos aos sintomas do problema – que inclui pesadelos, flashbacks, problemas de concentração e comportamento impulsivo ou agressivo -, para poder oferecer tratamento adequado. “Na minha opinião, acho que os efeitos psicológicos são realmente mais graves neste momento. Isso é muito crítico. Eu acho que as crianças precisam ser abraçadas, amadas. É importante que elas tenham apoio.”, comentou Robert Glatter.
Segundo informações da CBS, no momento, os garotos estão sendo mantidos em quarentena já que podem ter adquirido infecções, como leptospirose, doença que causou várias mortes em Porto Rico após o furacão Maria.