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Suicídios aumentam 12% no Brasil em 4 anos

De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 11.000 pessoas tiram a própria vida todos os anos no Brasil

Por Da Redação
Atualizado em 22 set 2017, 00h13 - Publicado em 21 set 2017, 12h30

O número de suicídios no Brasil aumentou 12% em quatro anos. De acordo com o primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio, divulgado nesta quinta-feira pelo Ministério da Saúde, em 2015, foram 11.736 notificações ante 10.490 registradas em 2011.

Para a diretora do departamento de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Fátima Marinho, esse aumento pode ser explicado, em parte, pela melhora nos registros e crescimento da população. Mas ela também reconhece que o avanço do problema no país é um fato que precisa ser combatido.

“Assumimos na Organização Mundial da Saúde o compromisso de reduzir em 10% o número de casos até 2020. Para alcançar essa meta, precisamos agir de forma rápida e, sobretudo, nas áreas que indicam maior risco”, afirmou Fátima.

Entre as medidas que deverão ser colocadas em prática está o aumento de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) em regiões onde os índices de suicídio são considerados mais altos e melhora dos fluxos de serviços de saúde para prevenção do problema.

Além disso, novos estudos deverão ser realizados para identificar as possíveis causas para o aumento de casos em determinadas regiões do país, como no Sul, que registra a maior parte dos casos, e ações específicas para populações indígenas, onde o suicídio também ocorre com maior frequência.

Mais comum em homens

Segundo dados do levantamento, entre 2011 e 2016, foram registradas 62.804 mortes por suicídio no país, 79% em homens e 21% em mulheres. Nesse período, a taxa de mortalidade por suicídio entre os homens foi quatro vezes maior que a das mulheres.

Relacionamento é fator de proteção

A proporção de óbitos por suicídio também foi maior entre as pessoas que não têm um relacionamento conjugal, 60,4% são solteiras, viúvas ou divorciadas e 31,5% estão casadas ou em união estável. “Os homens casados se suicidam menos. O casamento é um fator de proteção para os homens e de risco para as mulheres”, disse Fátima, explicando que existe uma associação das tentativas de suicídio das mulheres com a violência intradomiciliar. Ela compara que as mulheres tentam mais e, por outro lado, os homens anunciam menos, mas são os que mais morrem por suicídio.

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Problemas de atendimento

No entanto, entre elas, 31,3% que tiraram a própria vida nesse período já haviam tentado outras vezes. No grupo masculino, o porcentual é menor, mas também expressivo: 26,4%. “Aqui nós percebemos a falha. Não agimos para evitar uma segunda tentativa. Os números reforçam a necessidade de trabalharmos na prevenção contra a violência, uma causa importante para a mortalidade feminina: seja o feminicídio, seja o suicídio.”, disse Fátima.

Risco entre jovens e idosos

Também preocupa o Ministério da Saúde o avanço da suicídio entre jovens. Essa é a quarta causa de morte de brasileiros entre 15 a 29 anos. No mundo, o suicídio é a segunda causa entre essa população. Isso não significa, no entanto, que o Brasil esteja em uma situação melhor. “No país, o jovem morre antes por violência. São dois fatores que acabam concorrendo entre si”, explica Fátima.

Na avaliação da coordenadora, se dados de mortes por outras causas de violência fossem menores, o problema do suicídio entre jovens estaria mais evidente. “Isso mostra a necessidade de termos ações específicas para essa população.”

O boletim indica, por exemplo, um crescimento de mortes por suicídio na faixa entre 10 a 19 anos de 2011 a 2015. Os casos subiram de 782 para 893.

Os idosos, de 70 anos ou mais, são outro grupo de alerta. Nesse período, eles apresentaram as maiores taxas de suicídio entre a população: 8,9 para cada 100.000 habitantes. Mas o ministério ressalta que, em números absolutos, essa população também aumentou e que o índice é alto no mundo todo já que essa população sofre mais com doenças crônicas, depressão e abandono familiar.

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População indígena

Entre 2011 e 2015, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil foi maior entre a população indígena, sendo que 44,8% ocorreram na faixa etária de 10 a 19 anos. A cada 100.000 habitantes são registrados 15,2 mortes entre indígenas; 5,9 entre brancos; 4,7 entre negros; e 2,4 morte entre os amarelos.

Segundo Fátima, o alto risco de suicídio entre jovens indígenas compromete o futuro dessas populações, já que elas também há um alto risco de mortalidade infantil.

Segundo a secretaria especial de Saúde Indígena, Lívia Vitenti, existe um número alto de indígenas em sofrimento por uso álcool, disputas territoriais e conflitos com a família e com a população não indígena. Entre os jovens, então, há falta de perspectivas de vida. Entretanto, o problema do suicídio indígenas não está distribuído por todo o território, sendo mais frequente entre os Guarani Kaiowá, Carajás e Ticunas.

Regiões

Um dos fatos que mais chamam a atenção dos técnicos do Ministério da Saúde é a concentração de registros de suicídios em algumas áreas do país. A região Sul apresenta 23% dos casos, embora responda por 14% da população brasileira. No Sudeste, região que concentra 42% da população, foram registrados 38% dos suicídios registrados no País.

“Intriga o fato de os casos se registrarem numa área onde há um alto nível de renda, pouca desigualdade”, comenta Fátima.

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O Sul é acompanhado pelo Ministério da Saúde há 10 anos. Há fortes indícios de que o problema possa estar relacionado à cultura do fumo e aos agrotóxicos usados nas lavouras.

“Pesticidas manganês aumentam o risco de provocar danos ao sistema nervoso central”, observa Fátima. Para ela, essa relação precisa ser acompanhada de perto. “Além do suicídio, a ação do pesticida está associada a outros agravos, que também precisam ser avaliados, como câncer e más-formações congênitas. Esse assunto precisa estar na agenda.”

Também são consideradas de risco regiões do Piauí e a divisa entre São Paulo e Minas. O Ministério da Saúde prepara-se agora para investigar as causas do maior risco nessas duas áreas. “Atualmente, ainda não estão claras as razões”, diz Fátima.

Fatores de risco e proteção

Entre os fatores de risco para o suicídio estão transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; questões sociodemográficas, como isolamento social; psicológicas, como perdas recentes; e condições incapacitantes, como lesões desfigurantes, dor crônica e neoplasias malignas. No entanto, o Ministério da Saúde ressalta que tais aspectos não podem ser considerados de forma isolada e cada caso deve ser tratado de forma individual.

A existência de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no município reduz em 14% o risco de suicídio, segundo o ministério. Entretanto, é preciso uma melhor distribuição desses centros, principalmente nas áreas com mais concentração de suicídios. Existem hoje no Brasil 2.463 Caps em funcionamento.

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Segundo Quirino Cordeiro, coordenador de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, o Plano Nacional de Prevenção ao Suicídio deverá focar em dois fatores: nos transtornos metais e nos meios de suicídio. “Muitas vezes quem comete suicídio está passando por problemas graves e acaba fazendo uma tentativa por desespero. Mas se não tem à mão um método, muitas vezes aquele momento passa e a pessoa não efetiva”.

Acordo com o CVV

Desde 2015, o Ministério da Saúde tem uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que começou com um projeto-piloto no Rio Grande do Sul. O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.

O objetivo da parceria é ampliar gradualmente a gratuidade de ligações para o CVV, mesmo que por celular, por meio do número 188. Além do Rio Grande do Sul, a partir de 1º de outubro, pessoas de mais oito estados poderão ligar gratuitamente para o serviço: Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Piauí, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rondônia e Roraima. Até 2020 todo o território nacional poderá contar com o atendimento pelo 188.

No restante dos estados, o CVV ainda atende pelo número 141 ou diretamente no posto regional. Em cidades sem posto de atendimento do CVV, as pessoas podem utilizar o atendimento por chat, skype e e-mail disponíveis na página do CVV.

(Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)

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