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Saiba qual o fator que mais impacta nas mortes por infarto

Pesquisa da USP revela que o diabetes é a condição mais associada a esse desfecho, de cinco a dez vezes maior do que outras condições como hipertensão

Por Ricardo Muniz | Agência FAPESP
Atualizado em 28 set 2022, 14h20 - Publicado em 28 set 2022, 11h09
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  • Já são conhecidos vários fatores que aumentam o risco de infarto, como glicose elevada (hiperglicemia), obesidade, colesterol alto, hipertensão e tabagismo. E agora um estudo publicado na revista PLOS ONE mensurou o impacto de cada um deles nas estatísticas de morte por doença cardiovascular. A hiperglicemia mostrou uma associação com esse desfecho de cinco a dez vezes maior do que outros fatores.

    Foram usados dados de fontes governamentais, como os ministérios do Desenvolvimento Social e da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrados entre 2005 e 2017. Os números foram confrontados com informações de outros bancos, como o Global Health Data Exchange (GHDx) e o repositório do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington (Estados Unidos).

    Por meio de métodos estatísticos, os pesquisadores determinaram o número de óbitos atribuídos a cada fator de risco. O objetivo da pesquisa, apoiada pela Fapesp, foi ajudar a encontrar estratégias mais eficazes para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares – que ainda são as maiores causas de morte no país.

    “Independentemente do controle que usávamos – e testamos diferentes tipos de variável, modelos estatísticos e métodos – o diabetes sempre se associava à mortalidade por doenças cardiovasculares. Mais do que isso: é uma associação que não se restringia ao ano analisado, mas perdurava por até uma década”, explica Renato Gaspar, pós-doutorando no Laboratório de Biologia Vascular do Instituto do Coração (InCor), vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

    Estudos anteriores estabeleceram uma equação para calcular o número de mortes prevenidas ou adiadas devido a mudanças em fatores de risco. Assim, foi possível analisar também as taxas de mortes “prematuras”, calculadas em relação à expectativa de vida padrão. Os autores concluíram que cerca de 5 mil pessoas não teriam morrido por doença cardiovascular no período analisado caso os índices de diabetes fossem menores na população. Por outro lado, a pesquisa também permitiu concluir que pelo menos 17 mil mortes foram evitadas somente pela diminuição do consumo de cigarros durante esses 12 anos.

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    “Nossos achados fornecem evidências de que as estratégias para reduzir o tabagismo foram fundamentais para a redução da mortalidade por doença cardiovascular”, apontam os autores.

    Outro ponto que chamou a atenção dos cientistas foram as diferenças de gênero. “As disparidades sexuais reiteram outros estudos que apontam o diabetes e a hiperglicemia como fatores de risco mais fortes para doença cardiovascular em mulheres do que em homens”, advertem.

    Impacto socioeconômico

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    A mortalidade e a incidência de doenças cardiovasculares diminuíram 21% e 8%, respectivamente, entre 2005 e 2017 no Brasil. Além da redução do tabagismo, o maior acesso à saúde básica é listado como um dos responsáveis pela melhora nos índices. Essa observação levou em conta a questão da hipertensão, frequentemente associada a problemas cardíacos. No entanto, ela representou sete vezes menos mortes por doenças cardiovasculares do que a hiperglicemia. Uma das possibilidades é que o acesso ao sistema de saúde universal, com aumento na cobertura de atenção primária, tornou alta na população a taxa de controle da hipertensão.

    Corrobora esse achado o fato de que a associação entre hiperglicemia e mortalidade por doença cardiovascular foi independente do nível socioeconômico e do acesso aos cuidados de saúde. Os pesquisadores inseriram covariáveis nos modelos analisados para contabilizar dados como renda familiar, benefício do Bolsa Família, produto interno bruto (PIB) per capita, número de médicos por habitantes e cobertura de atenção primária.

    “Além de aumentar a renda, diminuir a desigualdade e a pobreza e ampliar a qualidade e o acesso à saúde, precisamos olhar para o diabetes e para a hiperglicemia de maneira específica”, aponta Gaspar, ressaltando que o país tem discutido pouco questões como o alto consumo de açúcar.

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    “Precisamos de uma política de educação nutricional. Debater se vale a pena colocar uma tarja nos produtos açucarados com um alerta, como nas embalagens de cigarro, ou taxar produtos com açúcar adicionado de forma a incentivar as indústrias a reduzir esse ingrediente. São questões bastante debatidas em outros países e que precisam ser pautadas aqui.”

    Para mitigar os índices de doença cardiovascular no Brasil, as políticas de saúde devem ter como objetivo reduzir diretamente a prevalência de hiperglicemia, seja pela educação nutricional, pela restrição a alimentos com açúcar adicionado ou pelo mais amplo acesso às novas classes de medicamentos capazes de diminuir a chance de o paciente diabético morrer por infarto.

     

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