Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Saiba o novo benefício do vinho tinto que a ciência acaba de descobrir

Além de fazer bem ao coração, consumo moderado da bebida também beneficia a flora intestinal

Por Julia Moióli | Agência FAPESP
Atualizado em 7 fev 2023, 11h27 - Publicado em 7 fev 2023, 11h19

O consumo moderado de vinho tinto ajuda a remodelar em poucas semanas a microbiota intestinal, cujo papel nas doenças cardiovasculares é cada vez mais reconhecido pela ciência. É o que revela um estudo publicado em The American Journal of Clinical Nutrition.

O trabalho, intitulado “Wine Flora Study” e apoiado pela FAPESP, envolveu 42 pacientes com doença arterial coronariana. Assinam o artigo pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp), de Verona (Itália), de Brasília (UnB), de Harvard (Estados Unidos) e do Instituto de Tecnologia Austríaco (Áustria).

Os cientistas usaram no ensaio clínico uma estratégia conhecida como cross over, ou seja, cada um dos participantes (homens com idade média de 60 anos) passou por duas intervenções: durante três semanas, consumiam diariamente 250 mililitros de vinho tinto (com 12,75% de concentração alcoólica e produzido com uva merlot pelo Instituto Brasileiro do Vinho especialmente para o estudo) e, pelo mesmo período, abstinham-se de álcool.

Ambas as intervenções foram precedidas por um washout de duas semanas (pausa no consumo de determinadas substâncias para que seus traços sejam totalmente eliminados do organismo), sem consumo de bebidas alcoólicas, alimentos fermentados (iogurte, kombucha, lecitina de soja, kefir e chucrute, por exemplo), prebióticos (incluindo insulina), probióticos, fibras e derivados do leite.

“Nesse tipo de trabalho, cada pessoa é o controle de si mesmo e, com isso, eliminamos fatores de confusão”, explica Protásio Lemos da Luz, professor do Instituto do Coração (InCor) da USP que estuda os efeitos do vinho tinto há mais de 20 anos e já demonstrou experimentalmente que o consumo por animais (coelhos), associado a uma dieta rica em colesterol, reduz a formação de placas ateroscleróticas.

Continua após a publicidade

Outra estratégia para afastar eventuais fatores de confusão foi submeter todos os participantes a uma dieta controlada e sem outros componentes presentes no vinho – por exemplo, polifenóis também encontrados nos chás, no morango e no suco de uva.

A cada intervenção, a microbiota intestinal foi analisada por sequenciamento de alto rendimento 16S rRNA, tecnologia que permite a identificação genética de espécies de bactérias pelo gene 16S, que está presente em todas. Também foram analisados os metabólitos presentes no plasma (metaboloma plasmático), como resultado da metabolização de compostos químicos e alimentos, por meio da técnica LC-MS/MS, que separa os compostos em um sistema de cromatografia líquida e depois os analisa em um espectrômetro de massas.

Um dos metabólitos de interesse dos pesquisadores é o chamado TMAO (N-óxido de trimetilamina), que é secretado por microrganismos da flora a partir de alimentos ricos em proteínas e tem sido associado ao desenvolvimento de doença ateroesclerótica.

Continua após a publicidade

O que mudou

Os pesquisadores observaram que a microbiota intestinal sofreu remodelação significativa após o período de consumo da bebida – com predominância dos gêneros Parasutterella, Ruminococcaceae, Bacteroides e Prevotella. Tais microrganismos são fundamentais na homeostase humana, ou seja, no funcionamento normal do organismo.

Também foram observadas mudanças significativas na metabolômica plasmática, consistentes com a melhoria da homeostase redox. É esse processo que garante o equilíbrio das moléculas oxidantes e antioxidantes, evitando o chamado “estresse oxidativo”, que induz doenças como a aterosclerose.

Continua após a publicidade

Com esses resultados, os pesquisadores concluíram que a modulação da microbiota intestinal pode contribuir para os supostos benefícios cardiovasculares do consumo moderado de vinho tinto.

“Quando o assunto é aterosclerose, temos basicamente duas vias de tratamento: uma é usar estatinas, medicamentos que diminuem os eventos cardiovasculares, e a outra é modificar o estilo de vida, praticando exercícios, evitando o tabagismo, cuidando de fatores de risco, como hipertensão, e controlando a dieta – e isso inclui o consumo moderado de vinho”, diz da Luz.

“Mostramos que uma intervenção habitual [usada por várias populações, como as da Espanha, França, Itália, de Portugal e do sul do Brasil] pode interferir na flora intestinal e na metabolômica plasmática, explicando em parte os efeitos benéficos do vinho observados em estudos ao longo dos anos. No entanto, alertamos que o consumo excessivo de álcool, isto é, maior do que 30 gramas [no caso do vinho, 250 ml] por dia, é maléfico e está associado a aumentos na mortalidade por cânceres, acidentes e mortes violentas.”

Continua após a publicidade

O pesquisador informa ainda que, no caso do metabólito TMAO, cujos efeitos na saúde ainda precisam ser mais bem investigados, as análises indicaram que os níveis plasmáticos não foram diferentes durante o consumo e a abstenção de vinho.

“Considerando outros estudos recentemente publicados, que identificam o aumento da substância como marcador de eventos cardiovasculares em longo prazo, nossa interpretação é que o período de três semanas é muito curto para que uma modificação significativa pudesse ocorrer”, conclui da Luz.

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.