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Rússia vai enviar delegação ao Brasil para destravar aval da Sputnik V

Em entrevista, CEO do Fundo Russo de Investimento, Kirill Dmitriev, fala da relação com a Anvisa, do uso da vacina no Brasil e dos testes com a AstraZeneca

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 mar 2021, 19h49 - Publicado em 13 mar 2021, 18h37

A vacina Sputnik V, desde a última sexta-feira, 12, tornou-se uma das apostas do governo brasileiro para combater a Covid-19. Foram 10 milhões de doses compradas pelo Ministério da Saúde, sem contar os acordos em andamento com outros estados individualmente.

Diante desse cenário, é preciso que a vacina receba autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que comece a ser aplicada em braços de brasileiros. Sobre a estratégia para destravar a aprovação no país ao enviar uma delegação de especialistas, os testes em parceria com a AstraZeneca e os planos globais, o CEO do Fundo Russo de Investimento, Kirill Dmitriev, falou a reportagem de VEJA. “Acreditamos que quem trata a vacina de forma política não se importa com a vida das pessoas”, disse. Confira:

Qual o cenário para a chegada da Sputnik V no Brasil? Nós recebemos autorização para uso da vacina em outros 51 países. Nós estamos trabalhando com Anvisa, União Química e, inclusive, diretamente com estados que têm interesse na vacina. Esperamos que a Anvisa reconheça nosso imunizante e trabalhe conosco da mesma forma que os outros 51 países trabalharam. Vamos ter boas notícias em breve e esperamos que a autorização de uso também venha. Buscamos que a aprovação ainda ocorra nesse mês. E entregaremos todos os documentos necessários para esse processo.

Quais as vantagens de fechar um acordo com vocês agora? Veja, a Argentina está utilizando a Sputnik V, o México também. A vacina tem 90% de eficácia e pode ser acondicionada de 2 a 8 graus, o que facilita a logística, e cada dose custa 10 dólares – então, apresenta um bom pacote. Outros imunizantes têm preços muito mais altos, ou precisam ser acondicionadas em temperaturas extremamente baixas. Essa vacina tem consigo excelentes características em conjunto. 

Há uma data limite para vocês tentarem aprovação no Brasil? Nós acreditamos que isso vai acontecer logo, mas vamos continuar até dar certo. Não existe isso de procurar outros lugares para oferecer a vacina se não der certo. A pandemia é muito séria, nosso trabalho tem a ver com salvar vidas. Vamos seguir tentando com o regulador brasileiro, mesmo que leve cinco anos, mas esperamos que isso aconteça antes disso.

Quais os planos logísticos para o Brasil? O Brasil poderá produzir a vacina para sua própria população e também tem capacidade de exportar para outros países.  Neste ano, esperamos distribuir vacinas suficientes para 700 milhões pessoas, globalmente. O quantitativo final para o país dependerá de quando receberemos a aprovação para uso. Vamos priorizar os países em que a vacina já é liberada, mas começaremos as entregas ao Brasil assim que recebermos o aval. E aí a entrega será gradativamente maior a cada mês. Vamos tentar oferecer 25% a 30% das doses necessárias ao programa brasileiro. Mas quem dará a palavra final será o governo federal e os estados.

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Vocês percebem que há algum tipo de preconceito ou polarização política em relação à Sputnik V? Sim, sentimos isso. Alguns países realmente olham para nossa vacina de forma política. Mas acreditamos que essa posição vai mudar. Nós acreditamos que quem trata a vacina de forma política não se importa com a vida das pessoas. Construímos parcerias de produção com a Itália e a Alemanha, por exemplo, e enquanto algumas pessoas enxergam isso de forma política, na verdade, significa que vamos salvar vidas e gerar empregos em parceria, além de ajudar a recuperar a economia juntos.

O que acontece nas tratativas com a Anvisa, porque as coisas não caminham? Nós respeitamos a Anvisa e acreditamos que a agência é um regulador muito profissional. Enviamos os mesmos documentos que foram entregues aos outros 51 reguladores que já aprovaram a vacina. Bolívia, México, Argentina, receberam os mesmos termos. Francamente, estamos muito focados na Anvisa e enviaremos uma delegação na próxima semana para sentar com a Anvisa e, finalmente, resolver tudo o que for preciso. Serão três profissionais. Tenho certeza que vamos entrar num acordo. A Anvisa também quer proteger as pessoas e vamos superar qualquer falta de documento.

Por que todo esse interesse no Brasil? Esse é nosso trabalho. Em todos lugares que vamos tentamos fazer um trabalho profissional. É sobre salvar vidas, é nossa responsabilidade.

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Como estão os testes em parceria com a AstraZeneca? Esse é um claro um claro exemplo de como pode ocorrer cooperação, esquecendo polarização política. A nossa vacina tem mais de 90% de eficácia, a da AstraZeneca tem um pouco menos, queremos saber como será esse uso combinado. Se o uso em conjunto aumenta a eficácia da AstraZeneca. O estudo clínico já começou no Azerbaijão e esperamos começar na semana que vem nos Emirados Árabes Unidos e acreditamos que esse coquetel será muito promissor diante de mutações do vírus. Isso porque as vacinas usam parte semelhantes do vírus, mas não as mesmas e a combinação pode ter um resultado forte. Somos muito diferentes, mas juntos temos ótimos resultados. E esse deveria ser o espírito nesse momento de pandemia.

Neste sábado, 13, 76.178 novos casos foram confirmados no Brasil, alcançado o total de 11.439.558, e 1.997 novos óbitos foram registrados, chegando a 277.102 pessoas mortas pela Covid-19. Confira abaixo os números atualizados da vacinação nos estados e no país:

 

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