A seu modo, dono de certezas absolutas, quase histriônico, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi ao Twitter para celebrar a melhor notícia do ano, com o anúncio de que seu governo aprovara a vacina contra a Covid-19 produzida pela americana Pfizer e a alemã BioNTech. “É a proteção das vacinas que finalmente nos devolverá nossa vida e fará a economia se mover de novo”, postou Johnson, no mesmo dia em que a Inglaterra saía de um segundo confinamento de quatro semanas. A novidade foi ainda mais estrondosa: prevê-se a aplicação das primeiras doses já na semana que vem. Convém repetir: semana que vem! É uma vitória da política do bom senso. Os britânicos apostavam boa parte de suas fichas nos trabalhos do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford com o laboratório AstraZeneca, em natural carinho com as coisas feitas dentro de casa. Mas bastou que a Pfizer anunciasse eficácia de 95% em testes para que o vento soprasse para outro lado. No Brasil, infelizmente, a prosa é outra. O governo do presidente Jair Bolsonaro insiste em não facilitar o caminho para a chinesa CoronaVac, parceria com o Instituto Butantan, subordinado ao governador João Doria. O imunizante da Pfizer, contudo, não é alternativa brasileira, por exigir temperatura de 70 graus negativos para estocagem, procedimento caro e complexo em demasia. Mas virá o dia, e ele está próximo, em que também no Brasil, apesar da burocracia, será possível anunciar: semana que vem tem vacina!
Publicado em VEJA de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716