A seleção natural influencia diversos fatores em nossas vidas, inclusive quantos filhos um indivíduo pode ter, de acordo com o maior estudo até o momento do tipo, liderado por pesquisadores das Universidades de Cambridge, Oxford, Groningen e Pensilvânia.
As descobertas também demonstram que a fertilidade é afetada por diversos mecanismos biológicos, que contribuem para suas variações e afetam diretamente o período da puberdade, os níveis de hormônios sexuais (como a testosterona), a endometriose e a idade da menopausa. Está relacionada ainda a comportamentos, como assumir riscos.
“[O estudo] testa empiricamente uma das questões mais emocionantes e fundamentais feitas por cientistas em muitas disciplinas e décadas: há evidências de seleção natural contínua em humanos e, em caso afirmativo, o que é e como funciona?”, comenta Melinda Mills, professora e diretora do Leverhulme Center for Demographic Science de Oxford.
A investigação foi publicada no periódico Nature Human Behaviour e usou dados de 785.604 indivíduos de ascendência europeia, incluindo participantes do estudo UK Biobank, para identificar 43 regiões do genoma contendo variantes genéticas associadas ao sucesso reprodutivo, definido como o número de filhos já nascidos de um indivíduo.
Outros achados destacam compensações ao longo da vida, por exemplo, os pesquisadores encontraram variações no gene ARHGAP27 que foram associadas a ter mais filhos, mas também a uma janela de fertilidade mais curta na vida.
“Este estudo é o maior de seu tipo e destacou uma nova biologia que ajudará a identificar novos alvos terapêuticos para doenças reprodutivas, como a infertilidade”, disse John Perry, da Unidade de Epidemiologia da Universidade de Cambridge “Também ajudará a entender melhor os mecanismos biológicos que vinculam a saúde reprodutiva a resultados mais amplos em homens e mulheres”.
Ao integrar genomas modernos com dados de genomas antigos, os pesquisadores foram capazes de identificar uma região do que esteve sob seleção por milhares de anos e permanece sob seleção até hoje. Os genes FADS1 e FADS2 estão envolvidos na síntese de gorduras específicas importantes para a saúde e parecem ter sido importantes para ajudar as pessoas na Europa a se adaptarem a uma dieta agrícola. O fato que eles ainda afetam a fertilidade hoje sugere que essa adaptação pode estar em andamento.
“Evidências independentes mostram que a região FADS está sob seleção na Europa há milhares de anos. Ele representa o exemplo mais claro de uma variante genética com evidências de seleção natural histórica e contínua, embora o motivo da seleção permaneça obscuro”, explica Iain Mathieson, do Departamento de Genética da Universidade da Pensilvânia.