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Qual o exame de sangue que pode detectar Alzheimer antes dos sintomas?

Criado por pesquisadores norte-americanos, teste identifica proteínas ‘tóxicas’ anos antes do surgimento da doença

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h06 - Publicado em 6 dez 2022, 12h34

Hoje em dia, as pessoas geralmente só recebem o diagnóstico de Alzheimer depois de apresentarem sinais conhecidos da doença, como a perda de memória. O que acaba virando um problema, já que as melhores opções de tratamento conseguem apenas retardar a progressão dos sintomas, e não prever.

Algo que, porém, pode estar prestes a mudar graças a uma nova pesquisa da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, que descobriu que a doença de Alzheimer possui “sementes”, que são plantadas anos, e até mesmo décadas, antes de surgirem as primeiras deficiências cognitivas, que tornam o diagnóstico possível. Tratam-se de proteínas beta-amilóides que se dobram e se aglomeram, formando pequenos núcleos chamados oligômeros. Com o tempo, por meio de um processo que os cientistas ainda tentam entender, acredita-se que esses oligômeros “tóxicos” da beta-amilóide se desenvolvam como Alzheimer.

Para identificá-los, os pesquisadores desenvolveram um teste de laboratório que pode medir os níveis de oligômeros beta-amilóide em amostras de sangue. Relatados em um artigo publicado neste mês no Proceedings of the National Academy of Sciences, os resultados do teste – nomeado pela sigla SOBA – conseguiu detectar os oligômeros no sangue de pacientes com doença de Alzheimer e de 11 indivíduos do grupo de controle, 10 deles  diagnosticados anos depois com comprometimento cognitivo leve ou patologia cerebral consistente com a doença de Alzheimer.

“O que os médicos e pesquisadores querem é um teste de diagnóstico confiável para o Alzheimer – e não apenas um ensaio que confirme a doença”, disse Valerie Daggett, professora de bioengenharia da UW, membro do corpo docente do Instituto Molecular de Engenharia e Ciências da UW Molecular e autora do estudo. “E que também possa detectar sinais da doença antes que ocorra o comprometimento cognitivo. Isso é importante para a saúde dos indivíduos e para todas as pesquisas sobre como os oligômeros tóxicos do beta-amilóide continuam a provocar os danos que causam. O que mostramos aqui é que o SOBA pode ser a base desse teste”.

O SOBA, que significa ensaio de ligação de oligômero solúvel, explora uma propriedade única dos oligômeros tóxicos. Quando as proteínas beta-amilóides mal dobradas começam a se agrupar em oligômeros, formam uma estrutura conhecida como folha alfa, que normalmente não é encontrada na natureza, mas tende a se ligar em outras, segundo pesquisas anteriores da equipe de Valerie. Aí entra o teste: no coração do SOBA está uma folha alfa sintética projetada, que pode se ligar aos oligômeros em amostras de líquido cefalorraquidiano ou sangue. Assim, o exame usa métodos padrões para confirmar que os oligômeros ligados à superfície do teste são compostos por proteínas beta-amilóides.

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A equipe da pesquisadora testou o SOBA em amostras de sangue de 310 participantes da pesquisa, que já haviam disponibilizado suas amostras de sangue e seus registros médicos para a pesquisa de Alzheimer. No momento em que essas amostras foram coletadas, os indivíduos foram registrados como sem sinais de comprometimento cognitivo, com comprometimento cognitivo leve, doença de Alzheimer ou outra forma de demência.

O SOBA detectou oligômeros no sangue de indivíduos com comprometimento cognitivo leve e Alzheimer moderado a grave. Em 53 casos, o diagnóstico da doença foi verificado pela autópsia, após a morte dessas pessoas, sendo que em 52 delas, as amostras coletadas anos antes dos óbitos, já continham oligômeros tóxicos. O exame também detectou oligômeros nos membros do grupo de controle que, segundo os registros, desenvolveram posteriormente comprometimento cognitivo leve. Já as amostras de sangue de outros indivíduos do grupo de controle, que permaneceram inalterados, careciam de oligômeros tóxicos.

A equipe de Valerie, agora trabalha com cientistas da AltPep, uma empresa ligada a UW, para desenvolver o SOBA como um teste de diagnóstico para oligômeros de outros tipos de proteínas associadas à doença de Parkinson e à demência com corpos de Lewy. “Muitas doenças humanas estão associadas ao acúmulo de oligômeros tóxicos que formam essas estruturas de folha alfa”, disse a pesquisadora. “Não apenas Alzheimer, mas também Parkinson, diabetes tipo 2 e muito mais. O SOBA está captando essa estrutura, por isso esperamos que esse método possa ajudar no diagnóstico e no estudo de muitas outras doenças de ‘desdobramento de proteínas'”, completa.

Valerie disse ainda que acredita que o ensaio tenha mais potencial do que aparenta. “Acreditamos que o SOBA pode ajudar na identificação de indivíduos em risco ou na incubação da doença, além de servir como uma leitura da eficácia terapêutica para auxiliar no desenvolvimento de tratamentos precoces para a doença de Alzheimer”, finalizou.

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