Um estudo, publicado no Journal of Child Psychology and Psychiatry, trouxe à tona um dado surpreendente sobre a relação entre a interferência materna nas amizades dos filhos e o comportamento deles. Ao tentar afastar as crianças de colegas considerados “más influências”, muitas mães acabam intensificando os problemas de comportamento que tentavam prevenir.
Pesquisadores da Florida Atlantic University, em parceria com a Universidade Mykolas Romeris, na Lituânia, conduziram uma análise aprofundada de mais de 500 jovens de 9 a 14 anos durante um ano letivo, a partir de questionários periódicos e avaliações das interações sociais dentro do ambiente escolar. A pesquisa revelou que o ato de proibir amizades não apenas falha em proteger a criança, como também agrava suas dificuldades de ajustamento social e comportamental.
Impacto da desaprovação materna
Os resultados mostraram que, quando as mães desaprovam os amigos dos filhos em resposta a problemas de comportamento, essa atitude pode prejudicar a aceitação social da criança. Isso ocorre porque, ao tentar afastar um amigo, a mãe cria uma situação de rejeição e alienação dentro do grupo de colegas, o que aumenta os problemas comportamentais.
A falta de popularidade na escola intensifica o estresse social dos jovens e torna mais difícil desenvolver habilidades sociais adequadas. Além disso, com menos amigos, as crianças acabam se associando a outros jovens que também têm problemas comportamentais, criando um ciclo vicioso de influência negativa.
Essa situação pode, paradoxalmente, aproximar as crianças de colegas com comportamentos ainda mais problemáticos, aumentando a pressão para adotar atitudes disruptivas — justamente o que as mães estavam tentando evitar.
Por que as proibições falham?
Brett Laursen, coautor do estudo, explica em nota que, quando as mães tentam impedir uma amizade, os jovens podem contar aos amigos sobre a proibição, o que gera ridicularização por parte dos colegas. Isso faz com que outros jovens evitem a criança, pois ela passa a ser vista como uma pessoa “não descolada”.
Outra possibilidade é que, quando a mãe de fato consegue romper uma amizade, a criança se vê forçada a buscar novas conexões. No entanto, quem estaria disposto a fazer amizade com alguém cuja mãe é vista como controladora? O resultado é que a criança acaba se associando a colegas também rejeitados pelo grupo, o que amplifica os problemas no comportamento.
“Os jovens precisam de amigos que possam ajudá-los a lidar com as pressões sociais e comportamentais. Quando isso é interrompido por uma interferência materna, o resultado pode ser exatamente o oposto do esperado”, disse Laursen.
Alternativas mais eficazes para os pais
O estudo sugere que, em vez de proibir amizades, os pais devem buscar outras formas de apoiar o desenvolvimento social e comportamental de seus filhos. Uma abordagem mais positiva, segundo Laursen, seria fortalecer os laços entre pais e filhos, criando um ambiente familiar de apoio e compreensão.
Esse apoio emocional ajuda os jovens no desenvolvimento de melhores estratégias de enfrentamento e resiliência diante das influências negativas. Além disso, os pesquisadores recomendam que os pais incentivem a participação dos filhos em atividades supervisionadas, como clubes e esportes, onde eles possam interagir com colegas em um ambiente controlado e menos propenso a influências negativas.
Outra sugestão é que os pais orientem seus filhos de forma construtiva, ajudando-os a identificar comportamentos negativos sem proibir diretamente suas amizades. Assim, os jovens se sentem mais capazes de tomar decisões próprias e de afastar-se de influências prejudiciais de maneira natural.