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Por saúde mental, especialistas recomendam o lema ‘no play, no gain’

Estudos apresentados em congresso de neurociência apontam importância de diversão e envolvimento para que exercícios atuem contra depressão e ansiedade

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 2 jul 2024, 13h00

RIO DE JANEIRO* — A expressão “no pain, no gain” ou “sem dor, sem ganho” se popularizou rapidamente no mundo fitness para demonstrar que o esforço nos treinos, responsável por dor e renúncias, teria como prêmio bons resultados. Para os benefícios alcançados na saúde mental por meio das atividades físicas, a máxima não é necessária. Segundo os estudos mais atualizados sobre o tema, são os sentimentos de prazer, envolvimento e propósito que levam ao sucesso. Assim, para os especialistas, a frase deve ser substituída por “no play, no gain”, algo como sem brincar/se divertir, sem ganho.

Em meio à pandemia de inatividade física que causa entre 20% a 40% dos problemas de saúde, especialistas têm recorrido a novas estratégias para reduzir as doenças crônicas e aprofundar os cuidados com problemas que afetam a mente — amplificados durante a emergência sanitária global da covid-19. Dessa forma, o exercício deve ser visto como uma ferramenta para mitigar a ansiedade, a depressão e demais sofrimentos mentais. O tema foi debatido em uma das sessões do Congresso Brain 2024: Cérebro, Comportamento e Emoções, evento sobre neurociências que reuniu mais de 5.000 mil especialistas entre 26 e 29 de junho na capital fluminense.

“Ao prescrever as intervenções, é preciso pensar em melhorar a saúde física, porque medicamento e psicoterapia não resolverão tudo”, explica Felipe Schuch, professor-adjunto e coordenador do grupo de pesquisa em exercício físico e saúde mental da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Tempo de atividade física

Dados de 2021 apontam que uma em cada cinco pessoas do mundo apresenta algum tipo de transtorno mental, como ansiedade e depressão, mas a literatura científica tem mostrado como a adesão à atividade física tem o potencial de diminuir essas dores.

“As pessoas fisicamente mais ativas têm 25% menos possibilidade de desenvolver ansiedade e a chance de desenvolver depressão é 18% menor”, diz Schuch. E, quando se fala em saúde mental, isso já pode ser obtido com a metade do tempo de exercício semanal preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou seja, 75 minutos.

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O ideal é que seja uma atividade vigorosa e que o paciente alcance os 150 minutos por semana, mas isso pode ser feito gradativamente. “As atividades físicas leves têm efeito menor, no entanto, sabemos que pessoas com depressão têm dificuldade para fazer exercícios moderados a intensos e que ninguém quer sentir dor. Todos querem ter prazer.”

Onde praticar atividade física?

Os estudos mais relevantes e atualizados indicam a importância do contato com a natureza, seja em ambientes verdes (praças e locais arborizados) ou azuis (próximos ao mar, lagos ou rios) para melhorar a saúde mental.

“Nós humanos temos atração por ambientes naturais e, quando isso se une à atividade física, há redução do estresse psicofisiológico, restauração da pessoa que está saturada e ocorre um deslumbramento que faz com que a pessoa sinta vontade de voltar a se exercitar”, diz João Bento Torres Neto, neurocientista e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA).

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Torres Neto explica que pesquisas demonstram que a natureza impacta positivamente no cérebro. “As plantas produzem substâncias que aumentam a plasticidade cerebral (capacidade do órgão de adaptar suas funções ao receber novos estímulos).”

‘No play, no gain’

O sedentarismo cobra um preço caro da população mundial e a ciência tem cada vez mais dados que indicam os impactos deletérios de não se movimentar. Quem tem o hábito de passar muito tempo sentado tem mais possibilidade de desenvolver obesidade e também demências. Esta última condição pode ser explicada pelo fato de que o fluxo sanguíneo cerebral diminui quando a pessoa se mantém sentada.

Mas fazer exercício físico é desafiador. Mais do que depender de questões financeiras e de locais adequados, é algo que demanda fazer escolhas e precisa de motivação pessoal, além de trazer a carga da pressão por corpos perfeitos, comparação com celebridades e ilusões causadas pelos filtros das redes sociais.

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A virada de chave que falta é a conscientização de que atividade física não é só para o corpo. A mente é beneficiada. Esse processo passa por encontrar identificação com a prática. Em outras palavras, é preciso se divertir e gostar da atividade física escolhida.

“A forma como a gente tem pensado o que o exercício representa está equivocada, porque não é algo separado das nossas atividades. E também não está na mesma lógica de escovar os dentes. O exercício se torna importante quando ele representa escolha e propósito”, explica Thiago Matias, professor dos programas de pós-graduação em Educação Física e em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

* A repórter viajou a convite do Congresso Brain 2024: Cérebro, Comportamento e Emoções

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