A síndrome pós-Covid-19-longa, caracterizada por sintomas persistentes e até mesmo sintomas que aparecem após a infecção, preocupa especialistas e pessoas que foram contaminadas. Estudos mostram que até 80% dos recuperados sentem ao menos um sintoma até quatro meses após a fase aguda da infecção.
A boa notícia é que a evidência mais recente sobre o assunto indica que pessoas que não precisaram ser hospitalizadas em decorrência da doença correm um risco baixo de apresentarem sintomas graves de longo prazo, como acidente vascular cerebral, encefalite e psicose. No entanto, podem haver sintomas persistentes que aumentam a frequência de visitas a clínicos gerais ou ambulatórios nos seis meses seguintes à infecção, de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira, 10, na revista científica The Lancet Infectious Diseases.
Pesquisadores da Universidade do Sul da Dinamarca, analisaram dados dos registros de saúde de todos as pessoas que realizaram um teste RT-PCR para o novo coronavírus entre 27 de fevereiro e 31 de maio de 2020. No total, 8.983 pessoas que receberam um diagnóstico positivo nesse período, mas não foram hospitalizadas, e 80.894 pessoas com diagnóstico negativo, foram acompanhadas por seis meses.
Os resultados mostraram que, em comparação com indivíduos com teste negativo, aqueles com diagnóstico confirmado corriam um risco ligeiramente aumentado de receber um primeiro diagnóstico de dificuldades respiratórias (1,2% em comparação com 0,7%) e coágulos sanguíneos nas veias (0,2% em comparação com 0,1%).
Eles também apresentaram uma probabilidade levemente maior de iniciar o uso de remédios para abrir as vias aéreas e para tratar enxaquecas. Por outro lado, não foi identificado risco aumentado de complicações graves da doença, como acidente vascular cerebral, encefalite e psicose.
“Até agora, a maioria das pesquisas que investigavam complicações de longo prazo da Covid-19 concentrava-se em pacientes hospitalizados. Mas a realidade é que a maioria das pessoas com Covid-19 não é admitida no hospital. Nosso estudo encontrou um risco muito baixo de efeitos retardados graves da Covid-19 em pessoas que não precisaram de hospitalização por causa da infecção”, disse Anton Pottegård, autor sênior do estudo e professor da Universidade do Sul da Dinamarca, em comunicado.
A pesquisa também analisou o uso de serviços de saúde no período de acompanhamento e descobriu que aqueles com um resultado positivo passaram por consultas médicas com uma frequência cerca de 20% (1,2 vezes) maior do que aqueles com teste negativo. Visitas ao ambulatório também foram 10% (1,1 vezes) mais frequentes nesse grupo. No entanto, não houve diferença nas idas ao pronto-socorro ou internação.
Vale ressaltar que o estudo tem algumas limitações, incluindo o fato dos pacientes só terem sido acompanhados por seis meses após o diagnóstico positivo e o fato de que alguns indivíduos com complicações podem ter sido encaminhados para hospitais, sem terem ido às clínicas antes do final do acompanhamento.
“Nossa análise captura apenas sintomas específicos que levam ao contato com hospitais, então é provável que o estudo subestime sintomas que não requerem este nível de cuidados, como fadiga e dificuldades respiratórias, que não são graves o suficiente para hospitalização ou requerem o início de novo tratamento médico”, ressalta a co-autora Stine Hasling Mogensen, da Agência de Medicamentos Dinamarquesa.
Os pesquisadores alertam para a importância da realização de grandes estudos populacionais de sintomas relatados por pacientes que tiveram Covid-19 e consultas médicas para avaliar completamente a duração e a extensão de quaisquer sintomas persistentes após a infecção pelo SARS-CoV-2.