Oxigenação hiperbárica acelera recuperação de lesões no joelho, diz estudo
Pesquisadores do Hospital das Clínicas querem difundir a terapia como tratamento auxiliar na cicatrização de lesões e na reconstrução do ligamento
Cerca de 69% dos brasileiros com mais de 18 anos sentem dores no joelho. O desconforto tem diversas origens, como tendinite, rompimento de ligamento, artrite e lesões por trauma. E cerca de 55% das lesões esportivas estão relacionadas ao joelho.
Nesse sentido, o Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas realizou um estudo mostrando que a oxigenoterapia hiperbárica pode contribuir com a recuperação dessas lesões musculoesqueléticas. Para os pesquisadores, a câmera hiperbárica é eficiente na recuperação pós-cirúrgica e reconstrução do ligamento cruzado anterior no joelho (LCA). A pesquisa foi publicada no Journal of Orthopedic Research, revista da Sociedade de Pesquisa Ortopédica (ORS).
O país vem passando por um “boom” desse tipo de terapia, sobretudo para acelerar a recuperação de atletas. Clubes como Palmeiras, Flamengo, Corinthians e Atlético Mineiro já aderiram à nova moda. “Usar medicina hiperbárica em lesões, principalmente em atletas, é uma grande novidade. As pessoas estão enxergando uma nova vertente que está se abrindo e que antes não se pensava muito sobre”, diz Marcos Demange, líder do estudo e professor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFM) da Universidade de São Paulo, a VEJA. “A sensação que eu tenho é que haverá um grande crescimento neste tipo de estudo”, completa.
O que é e como funciona
Segundo os pesquisadores, a medicina hiperbárica melhora a oxigenação dos tecidos menos vascularizados – como os ligamentos reconstruídos do joelho após cirurgia. Essa terapia já é utilizada há mais de 30 anos, principalmente para cicatrizar tecidos com baixa oxigenação e onde bactérias crescem demasiadamente, gerando infecções ou feridas grandes – como machucados causados pela diabetes. Também já foi utilizada para restabelecer a pressão interna de mergulhadores que emergiam das profundezas do mar.
Ao entrar na câmara hiperbárica, o paciente fica respirando com oxigênio a 100% (para comparação, o ar que respiramos contém 21% de oxigênio) e fica submetido a pressão sobre o corpo duas vezes maior que a pressão atmosférica – o equivalente a fazer um mergulho no mar a 20 metros da superfície.
Isso faz com que o oxigênio, além de ser transportado pela hemoglobina, corra pelo plasma – substância predominante do nosso sangue. “É como se o plasma fosse o rio, e as hemoglobinas, os barcos. Então, ao invés do oxigênio ser levado pelas embarcações, ele é levado também pelas águas do rio”, explica Demange. Dessa forma, o nível de oxigênio é elevado mais de seis ou sete vezes nos tecidos, estimulando a atividade das células e permitindo uma cicatrização mais eficiente.
Os benefícios parecem animadores. “O paciente faz 5 ou 6 sessões de uma hora e que, do ponto de vista prático, gasta muito menos tempo que uma fisioterapia”, compara o especialista. Porém, vale ressaltar que a terapia hiperbárica não visa substituir cirurgias ou abordagens tradicionais à base de medicamentos. Em vez disso, busca ser um tratamento auxiliar que acelere a recuperação e cicatrização do paciente. Um “potencial adicional” , como afirma o professor.
Em relação às contraindicações, Demange ressalta pessoas acometidas pelo glaucoma – aumento de pressão dentro do olho – epilépticos e claustrofóbicas.
Estudo Promissor
Conduzindo testes em coelhos, os pesquisadores concluíram que os animais que foram submetidos a oxigenação hiperbárica tiveram uma cicatrização muito mais rápida do ligamento. Em contrapartida, os animais que não passaram por este tratamento tiveram uma recuperação mais lenta em um mesmo intervalo de tempo. “Os que não fizeram a terapia hiperbárica estavam com 1 ⁄ 3 da resistência do ligamento restabelecida, enquanto os que fizeram, já estavam totalmente recuperados”, expõe o médico.
Diante dos resultados promissores obtidos, os pesquisadores pretendem iniciar os testes clínicos em pacientes, não só em ligamentos no joelho, mas também para o menisco, a cartilagem, o tendão do ombro e em outras regiões com cicatrização ruim.