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Os riscos do ‘Jogo da Asfixia’, moda entre adolescentes

Especialistas explicam a VEJA sobre os riscos da brincadeira que causou a morte do adolescente Gustavo Riveiros Detter

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 20h33 - Publicado em 18 out 2016, 17h46
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  • Gustavo Riveiros Detter, de 13 anos, morreu asfixiado no último domingo depois de se enforcar com uma corda ao participar de uma brincadeira conhecida como ‘Jogo do Enforcamento’, ‘Jogo da Asfixia’ ou ‘Jogo do Desmaio’ (traduções para The Choking Game), no qual os participantes usam cordas, cintos, lenços ou qualquer outro objeto para cortar o suprimento de oxigênio, desmaiar e, em seguida, acordar em estado de euforia, semelhante ao efeito do uso de drogas.

    Outras variações dessas brincadeiras são o ‘desmaio forçado’ –  amigos asfixiam o outro por estrangulamento ou aplicando uma pressão no peito – e a asfixia erótica – redução intencional da oxigenação cerebral durante uma estimulação sexual com o intuito de aumentar o prazer do orgasmo.

    A asfixia erótica geralmente é induzida por meio de um saco colocado na cabeça do praticante. “Ao respirar dentro do saco, há um aumento da concentração de gás carbônico e redução da oferta de oxigênio. Ou seja, com o tempo a pessoa começa a respirar gás carbônico. Isso causa vasodilatação, mas também  sonolência, queda de pressão, arritmia, taquicardia e hipotensão. Em casos mais graves pode levar a insuficiência respiratória e parada cardíaca. É muito perigoso.”, diz Daniel Magnoni, cardiologista do Hospital do Coração de Sâo Paulo (HCor).

    Da mesma forma que os praticantes da asfixia erótica utilizam a prática para aumentar o prazer, alguns relatos de participantes de ‘jogos de asfixia’ o fazem pela sensação de euforia alcançada quando ‘voltam a respirar’. Mas, como essas brincadeiras geralmente são praticadas por adolescentes, a pressão dos amigos, o encantamento por comportamentos perigosos e até mesmo a curiosidade em experimentar um estado alterado de consciência ou uma experiência de quase-morte podem influenciar.

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    Entretanto, segundo especialistas ouvidos por VEJA, a prática envolve o risco de lesão cerebral e até mesmo morte, principalmente porque o tempo de asfixia que pode causar a morte varia de pessoa para pessoa e também está relacionada a fatores risco. Por exemplo, pessoas com bronquite, asma e insuficiência cardíaca correm maior risco de morte. 

    Paulo Zogaib, fisiologista da Go Saúde e Performance e professor de medicina esportiva da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, explica que é muito difícil uma pessoa conseguir se estrangular ou se matar por asfixia. “Nosso corpo possui um mecanismo de compensação respiratória que é ativado quando sensores espalhados pelo corpo que medem a porcentagem e a pressão do oxigênio no sangue detectam a redução gradativa de oxigênio. Nosso cérebro gera um estímulo de aumento da ventilação e, esse estímulo é tão grande que ao se enforcar com as mãos, por exemplo, a pessoa automaticamente pararia com o ato quando ele for ativado”, explica.

    Entretanto, no caso de Gustavo, em que foi utilizado uma corda para provocar essa asfixia, provavelmente a falta de oxigênio foi tão grande que o cérebro não conseguiu gerar o estímulo para aumentar a ventilação. Segundo Zogaib, se o tempo de asfixia ultrapassar entre 3 e 5 minutos, em média, haverá uma lesão cerebral significativa, além de parada respiratória seguida de uma parada cardíaca associada. “A cada minuto que você fica em parada, há uma redução de 10% na chance recuperação”, afirma. 

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    Em casos de recuperação ou de fazer a brincadeira repetidamente, Zogaib afirma que podem haver sequelas. A falta de oxigênio no cérebro destrói neurônios e a repetição disso vai causando lesões cerebrais que poderão alterar fala, raciocínio, memória, movimentos e sensibilidade, dependendo da área afetada. 

    “Os efeitos se assemelham aos efeitos do uso de drogas como o lança perfume ou de álcool. Ambos atuam como depressores do sistema nervoso central e, quanto mais a célula [neurônio] é exposta a essa condição, maior a lesão. É provável que uma vez que o sujeito fica bêbado não haverá graves consequências, mas se ele virar alcoólatra, isso destrói as células e começa e gerar problemas relativos à área do cérebro afetada”, diz o fisiologista.

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