Ao longo da pandemia de Covid-19, médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde que estiveram na linha de frente no combate ao vírus tiveram os limites mentais, físicos e a resiliência colocados à prova. A urgência de salvar vidas fez com que eles sofressem com cansaço, medo e solidão, já que muitos se afastaram dos ente queridos para evitar o risco de infecção pelo novo coronavírus. O fim da emergência global para a Covid, declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no início deste mês, não encerrou a necessidade de pensar em alternativas para fortalecer a saúde desses trabalhadores. Com esse propósito, 22 entidades se reuniram e apresentaram nesta segunda-feira, 22, um documento com caminhos para melhorar o bem-estar dos profissionais e pensar no tema como uma ferramenta de saúde pública.
Um dos principais pontos do documento, que contém 25 recomendações e é voltado para autoridades e entidades representantes do sistema de saúde, é incluir as métricas de segurança e bem-estar dos profissionais de saúde, especialmente os de linha de frente, nas avaliações dos serviços de saúde para processos de acreditação e certificação. Entre as entidades que elaboraram as propostas, estão: sindicatos, conselhos, integrantes da iniciativa privada e membros da sociedade civil.
A implementação de politicas para banir episódios de assédio, moral e sexual, também foi contemplada pela iniciativa, que sugere ainda a revisão dos sistemas de ouvidoria e gestão de crise para sempre garantir proteção e sigilo diante de denúncias.
O foco das instituições de saúde e hospitais, portanto, deve ser nas ações preventivas com o objetivo de evitar riscos ocupacionais e estimular um local de trabalho que seja saudável, seguindo o que é preconizado por entidades renomadas para ambientes profissionais de modo geral.
“Sem isso, intervenções de apoio psicológico terão baixos resultados, pois não tratam a raiz do problema. Todo o sistema de saúde precisa
estar unido para a valorização de seus profissionais. Melhorar as condições de trabalho do profissional de saúde é também uma questão de saúde pública”, explica, em nota, professora Gabriela Lotta, pesquisadora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).
O documento, intitulado “Diálogos sobre Políticas para Resiliência e Bem-estar dos Profissionais da Saúde“, foi elaborado pelo Synergos Brasil e FGV-saúde com o apoio da Johnson & Johnson.
Veja outras recomendações
- Implementação de políticas de cargos, carreira e salário
- Incluir a saúde e qualidade de vida dos trabalhadores na dimensão “S” dos modelos de ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa)
- Adotar mecanismos de avaliação e monitoramento da qualidade de vida no trabalho dos profissionais de saúde
- Oferecer suporte emocional e psicológico especializado para trabalhadores e suas famílias
- Destinar recursos para projetos de aumento da resiliência dos profissionais da linha de frente
- Maior participação dos trabalhadores na tomada de decisão (gestão participativa)
- Estimular a criação de ambientes onde as pessoas se sintam psicologicamente seguras
- Inserir saúde, bem-estar e resiliência do profissional no modelo mental das lideranças governamentais para elaboração de programas, projetos e orçamentos