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OMS alerta para presença de vírus causador da poliomielite em Gaza

Poliovírus foi detectado em seis amostras de água residual e pode ter sido introduzido em setembro do ano passado; doença causa paralisia

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 jul 2024, 15h34 - Publicado em 23 jul 2024, 15h31
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  • A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou nesta terça-feira, 23, que o poliovírus, agente causador da poliomielite — também conhecida como pólio ou paralisia infantil –, foi encontrado em seis amostras em Gaza, região afetada pela guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas deste outubro do ano passado. De acordo com a entidade, o vírus não foi detectado em seres humanos e não há casos de paralisia até o momento, mas há risco de propagação tanto na região e em “nível internacional se este surto não for respondido de forma rápida”.

    A notificação à entidade foi feita pela Rede Global de Laboratórios da Poliomielite (GPLN, na sigla em inglês) na semana passada após identificar seis isolados circulantes do poliovírus tipo 2 (cVDPV2) em amostras ambientais nas províncias de Deir al-Balah e Khan Younis.

    De acordo com artigo publicado no periódico Science, a coleta foi realizada em águas residuais no fim de junho e isso indicaria a circulação do vírus na região, que sofre com deslocamentos populacionais em massa e colapso do sistema de saúde em virtude dos ataques israelenses.

    As amostras foram encaminhadas para os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos para sequenciamento genômico adicional e foi constatada ligação genética entre as amostras. Elas também estão relacionadas ao poliovírus tipo 2 que foi detectado em circulação no Egito no segundo semestre do ano passado.

    Segundo a OMS, a análise das alterações genéticas nas amostras apontam que a variante do poliovírus pode ter sido introduzida em Gaza em setembro do ano passado.

    Este tipo do patógeno, o cVDPV2, não é a forma selvagem do poliovírus, mas o que se forma a partir da vacina oral, substituída ao redor do globo em 2016 por uma versão com o vírus inativado para evitar o risco de infecção pelo vírus excretado pelas fezes. Mesmo assim, é altamente perigoso quando se espalha em regiões onde as taxas de vacinação são baixas ou são afetadas por catástrofes ou conflitos, responsáveis pelo comprometimento das redes de saneamento.

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    “A dizimação do sistema de saúde, a falta de segurança, a obstrução do acesso, a constante deslocação da população, a escassez de material médico, a má qualidade da água e o saneamento deficiente estão a aumentar o risco de doenças evitáveis ​​pela vacinação, incluindo a poliomielite. Isto representa um risco para as crianças e cria o ambiente perfeito para a propagação de doenças como a poliomielite”, declarou, nas redes sociais, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

    Ghebreyesus informou ainda que, antes do início da guerra, “as taxas de vacinação contra a pólio em Gaza eram ótimas”.

    Emergência global

    A poliomielite é a única doença em Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (PHEIC, na sigla em inglês), o mais alto status de alerta dado pela OMS para uma doença em circulação no mundo. Por ser altamente contagiosa, ela é mantida como emergência global desde 2014, o período mais longo desde a criação do mecanismo em 2005.

    A declaração ocorreu diante do registro de 68 casos de poliovírus selvagem, o que ameaçava a meta de erradicação global da doença estabelecida pela Assembleia Mundial da Saúde em 1988, quando a pólio causava paralisia em 1 mil crianças por dia. Entre 1988 e 2021, os casos de poliovírus selvagem caíram de 350 mil episódios em 125 países endêmicos para seis casos em 2021. O último episódio notificado no Brasil ocorreu em 1989 e o país foi considerado livre do vírus em 1994.

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    O polivírus selvagem tem três cepas e duas já foram erradicadas. O tipo 2 foi eliminado em 1999 e o 3, em 2020. O poliovírus endêmico tipo 1 continua ativo apenas no Paquistão e no Afeganistão.

    A pólio afeta principalmente crianças com menos de 5 anos e foi responsável por surtos que deixaram pacientes pediátricos sem movimentos das pernas e causou mortes. Segundo a OMS, uma em cada 200 infecções leva à paralisia irreversível e, nessa população, 5 a 10% morrem em decorrência da imobilidade dos músculos respiratórios.

    O contágio ocorre de pessoa para pessoa por via oral-fecal ou por contato com alimentos ou água contaminados. A multiplicação do vírus ocorre no intestino e, após a invasão do sistema nervoso, a paralisia pode ter início em questão de horas. Os primeiros sintomas são febre, fadiga, dor de cabeça, vômitos, rigidez de nuca e dores nos membros.

    Não há tratamento para a poliomielite e só a vacina pode evitar casos da doença.

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    Vacinação contra a pólio no Brasil

    A vacina contra a poliomielite é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para bebês e crianças, que também devem receber doses de reforço. A cobertura vacinal para evitar surtos e epidemias deve ser de 95%.

    Um novo esquema vacinal contra a doença que entrará em vigor a partir do segundo semestre deste ano, as duas doses com a vacina oral poliomielite (VOP), imunizante que inspirou a criação do personagem Zé Gotinha no ano de 1986, será substituída pela vacina inativada poliomielite (VIP), a ser aplicada tanto na proteção inicial quanto no reforço.

    Dessa forma, as crianças vão receber as três doses iniciais — aos dois, quatro e seis meses — e o reforço com a VIP.

    Segundo o Ministério da Saúde, até maio deste ano, o número de crianças com menos de 1 ano que receberam a VIP está em 85,42%. Os dados preliminares de 2023 indicam que o percentual foi de 84,63%. Em 2022, o índice foi de 77%.

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